08 mar, 2017 - 22:24
A estratégia do anterior Governo PSD/CDS para a Caixa Geral de Depósitos (CGD) passava apenas por "aguentar o banco" durante o período mais agudo da crise, revelou esta quarta-feira o antigo vice-presidente do banco estatal António Nogueira Leite.
"A estratégia do Governo era estabilizar a situação de liquidez da Caixa. A única coisa que o Governo nos dizia era: 'aguentem o barco. E, se possível, mantenham o crédito às empresas'", afirmou o responsável durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à CGD.
"Não podíamos dar crédito a empresas que já não mereciam. Não havia um grande plano estratégico a não ser salvar o banco e manter a economia a funcionar", assinalou Nogueira Leite, que esteve na administração do banco público entre Julho de 2011 e Janeiro de 2013, depois de ter renunciado ao cargo que desempenhava.
Os motivos para a saída
Perante os deputados, António Nogueira Leite revelou que pediu a demissão em Dezembro de 2012 por discordar do montante da capitalização do banco público feita nesse ano.
"Não posso explicar porque razões o aumento de capital teve a dimensão que teve, mas inviabilizava a possibilidade de o banco ter resultados positivos. Rapidamente, íamos ficar com o ónus da situação. E isso não era uma situação que considerasse interessante", afirmou o responsável depois de questionado sobre as razões que estiveram na base da sua saída prematura da CGD.
"Quando saí da Caixa tive que ir à procura de emprego", assegurou aos deputados.
Em 2012, enquanto vigorava o plano de resgate da 'troika' (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), o Estado português fez um reforço de capital da CGD que resultou da injecção de 750 milhões de euros em capital e da subscrição de 900 milhões de euros em obrigações convertíveis (CoCo), num total de 1.650 mil milhões de euros.
"Era preciso mais capital e isso é o ponto central. Não sei o que se passou acima. Mas senti sempre que havia uma grande dificuldade de fazer entender as necessidades dos bancos portugueses junto das autoridades europeias e do FMI", afirmou o economista que em 2012 disse: se me obrigarem a pagar mais impostos, "palavra de honra que me piro”.
Ainda sobre o seu pedido de demissão, Nogueira Leite vincou que, no seu entender, o aumento de capital era insuficiente, pelo que ia implicar que o banco estatal apresentasse prejuízos durante vários anos. Algo que se veio mesmo a verificar.
"Eu não podia sequer explicar porque é que os resultados eram tão maus como eram. Preferi dar um salto no escuro", sublinhou.
O convite de Passos para presidir à Caixa
O antigo vice-presidente da CGD António Nogueira Leite garante que o ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho o convidou para liderar o banco público, só percebendo que ia ser vice-presidente quando recebeu o convite formal de Vítor Gaspar.
"O primeiro convite foi do senhor primeiro-ministro [Passos Coelho] e depois recebi o convite formal do ministro das Finanças [Vítor Gaspar]", afirmou Nogueira Leite durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos (CGD).
Questionado pelos deputados, Nogueira Leite confirmou que o convite que lhe foi endereçado por Passos Coelho era para ser presidente da comissão executiva e que só se apercebeu que ia ser vice-presidente com o convite formal de Vítor Gaspar.
José de Matos, oriundo do Banco de Portugal, foi o escolhido para a presidência do banco estatal. Nogueira Leite entrou para a equipa de gestão da CGD em Julho de 2011 e pediu a demissão em Dezembro de 2012, com a saída a consumar-se em Janeiro de 2013.