29 jun, 2017 - 00:31 • Graça Franco (Renascença) e David Dinis (Público). Vídeo: Teresa Abecasis e Conceição Sampaio. Fotografia: Daniel Rocha/Público
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O Governo deu-lhe algum prazo para dizer se pretende ou não, enquanto provedor da Santa Casa Misericórdia de Lisboa, entrar como accionista no Montepio?
Não, não deu prazo nenhum.
Portanto, continua a pensar nessa matéria?
Há um trabalho que está a ser feito por uma equipa coordenada, da nossa parte, pelo vice-provedor. O tempo tem permitido que apareça a confirmação de que há outros interessados, de que há instituições financeiras interessadas. Tenho deixado passar o tempo porque gosto que os assuntos venham à tona da água e que as pessoas saibam o quadro em que as opções têm de ser tomadas para não parecer uma decisão misteriosa. Uma coisa posso garantir: todas as notícias que disseram que o processo estava à beira de ser concluído não eram manifestamente exageradas, eram absolutamente exageradas.
É uma questão que vê como responsabilidade social ou que o atrai do ponto de vista do investimento?
Isso trará muitas questões. Penso que a Santa Casa, de facto, poderia ter outro tipo de intervenções, mas há um caldo de cultura em relação à Santa Casa que não o torna nem justificável nem admissível e as pessoas têm receio, têm medo. E nós, quando dirigimos instituições, não devemos dar passos que firam a sua consciência identitária, temos de ter muito cuidado com isso. Por outro lado, um caminho desses seria mais aliciante se estivéssemos a construir um verdadeiro banco da economia social. Tem sido dito muito disparate a este propósito. Há vários bancos da economia social que trabalham com privados e instituições da economia social. Para ser só uma entrada da Santa Casa e de algumas outras misericórdias no Montepio acho muito pouco aliciante, muito pouco aliciante, ou nada mesmo. Se fosse um projecto como há anos vem sendo falado de criação de um verdadeiro banco da economia social, que podia ter alguma base no Montepio ou não, muito bem. Só que para isso o tempo é muito apertado. Esse é um projecto que demoraria um ano, no mínimo, a levar por diante.
E o Montepio pode esperar?
Pelo que me vai chegando, acho que o Montepio está mais calmo. Noto menos nervosismo à minha volta e isso é bom para o Montepio e para os depositantes.
Sente-se livre para dizer que não ao Montepio?
100 por cento livre. Não haja dúvida nenhuma. Ninguém me leva para onde eu não quero ir.
A EDP e o monopólio de muitos anos
Há um mês que os parceiros do Governo parecem querer descolar do Executivo (quando encontrarem um pretexto). Vamos ao caso da EDP. António Mexia foi seu ministro, a investigação do Ministério Público começa em 2004, precisamente no seu Governo. Seguiu os passos dele? E as negociações no sector?
Se segui os passos das negociações, já fora do Governo? Não. Não vou alijar responsabilidades, porque quem aprova é tão responsável como quem prepara. Mas a maior parte desses dossiês vinham negociados pelo governo de Durão Barroso. Eram negociações em Bruxelas. Depois não segui o rasto delas. Foram tempos em que Portugal acreditava em tudo o que lhe dizia o governo do engº Sócrates, havia um mau (que era eu), um muito bom (que era Sócrates) e um outro bom (Jorge Sampaio). O país deve estar contente com esse rumo que seguiu.
Acha justa ou injusta a crítica de que a EDP vive à custa de negócios feitos com vários governos?
A EDP não vive à custa disso, é uma grande empresa, vive à custa de um monopólio de muitos anos. A única coisa que quero lembrar é que o Estado era, nessa altura, ainda o principal accionista da EDP. E decidia principalmente para si próprio. Depois privatizou a empresa mais tarde. Há até quem diga que o Estado, ao fazer isso, também estava a enriquecer a empresa para mais tarde a privatizar. Isso são cogitações. Quando o Estado é o principal acionista, qualquer medida para a EDP seria boa para o Estado. Outra coisa são decisões quando o Estado não era o principal accionista. No meu tempo era.