26 set, 2017 - 08:01 • Sandra Afonso
O presidente do Montepio é um de 14 arguidos que ficam esta terça-feira a saber se vão a julgamento pela venda fraudulenta de terrenos em Coimbra, por 32,4 milhões, pagos com um “cheque careca”.
São todos suspeitos de, pelo menos, um crime (insolvência dolosa ou burla) e arriscam uma pena de prisão entre dois e oito anos. A decisão está nas mãos do tribunal de Viseu.
Os terrenos estão há sete anos no balanço do Montepio, mas o antigo dono reclama ainda o pagamento de cerca de 13 milhões de euros.
Entre os arguidos estão vários presidentes – da Associação Mutualista Montepio, do grupo industrial Martifer e do extinto Finibanco.
A história começa no final de 2009, quando as Colinas de Vale Meão, em Coimbra, são vendidas por 32 milhões e 400 mil euros. Mas, em vez de dinheiro, o ex-administrador do Finibanco Tavares de Almeida recebe um crédito do Finibanco de 34 milhões e meio de euros. Na altura de levantar o dinheiro, foi surpreendido com um cheque sem provisão e parte da dívida ficou por liquidar.
Decidiu então apresentar queixa ao Ministério Público, a reclamar o pagamento de uma dívida pela venda das propriedades de Coimbra.
Mas porque é que existem tantos arguidos? Em 2016, o jornal “Público” explicava que os terrenos foram vendidos à Cityprofit, detida pelo presidente do antigo Finibanco Costa Leite, pelo presidente da Martifer, Carlos Martins, por José Pucarinho, da Prestige, e pelo próprio Tavares de Almeida (primo da família Costa Leite).
Para pagarem o negócio, pediram crédito ao Finibanco, ao qual todos estavam ligados como accionistas, administradores ou auditores. Alegam todos que o cheque não tem fundos porque o crédito ainda não está formalmente aprovado – explicação aceite por Tavares Almeida.
Ao mesmo tempo, o Montepio negociava a aquisição do Finibanco. Com a OPA concluída, os terrenos passam para o balanço do Montepio, surpreendendo Tavares Almeida.
“Convocam a assembleia geral, de uma forma surpreendente, faltam todos e fazem-se representar pelos mandatários. Fico estupefacto quando não vejo os outros e mais estupefacto fico quando o que pensava que era uma proposta para ceder as quotas, afinal era para entregar as propriedades ao Montepio”, conta à Renascença.
O gestor garante ainda que existem provas substanciais dos crimes de burla qualificada e insolvência dolosa e diz que não quer “nem mais um tostão do que aquilo que é devido”.
“O Montepio afirma ter pago quatro milhões, na acta da administração que está junto aos autos, mas depois verificamos que não, que se enganaram e na realidade pagaram 6,5 milhões. O que significa que a nossa dívida anda na casa dos 12 milhões e tal, 13 milhões”, conta.
A decisão sobre um eventual julgamento deste caso é conhecida esta terça-feira.