08 nov, 2017 - 19:11 • João Carlos Malta
Frente a frente dois homens da tecnologia, que sempre viveram para ela e que vivem dela. Mas na Web Summit, num debate acerca do futuro da tecnologia e se todos vamos beneficiar dela, há um que se mostra céptico. O outro está claramente optimista. O embate foi um dos momentos mais interessantes no palco principal do evento nos dois primeiros dias.
Pat Gelsinger, CEO da VMware, concorda que o avanço tecnológico vai beneficiar todos no planeta. Para ele, a tecnologia é neutral. Tudo depende da forma como a usamos a nosso favor.
“Falei das grandes ameaças para um apocalipse no nosso tempo: temos a epidemia, a crise ambiental e a pobreza extrema, mas também descrevi os quatro super-heróis: inteligência artificial, internet, a nuvem e o mobile. Estamos mais preparados para fazer o bem. Temos de modelar a tecnologia, que é sobretudo neutra quando é criada, para que possa ser usada em coisas boas”, explicou.
Optimista inveterado, Gelsinger diz que os cuidados de saúde estão tão avançados que há doenças que estão virtualmente eliminadas, a impressão 3D está tão evoluída que é possível criar infraestruturas inteiras.
“Mas há áreas em que precisamos de continuar a apostar: transporte e mobilidade, com veículos eléctricos, na construção”, argumenta. E lança uma nova frase-chave: “Estamos, pela primeira vez, com possibilidade de erradicar a pobreza em 15 anos”, sublinha.
Chegou a hora de questionar
Ross Mason, fundador da Mulesoft, diz que é estranho assumir o papel de céptico no debate, porque desde a adolescência que adora tudo o que são “gadgets” e sente-se meio despido sem o telemóvel que teve de deixar nos bastidores antes de subir ao palco.
No entanto, Mason defende que chegou a hora de questionar o que se está a fazer e como, porque os efeitos podem ser irreparáveis. Ele tem duas filhas que vivem na era Facebook e não sabe se lhes pode dizer que o que lêem nas redes sociais é verdadeiro.
“É nossa missão definir o que queremos do futuro, mas de um modo sustentável. E quando o digo refiro-me a nós humanos, nem sequer estou a falar do ambiente. Temos de pensar com muito cuidado sobre as coisas em que estamos a investir o nosso tempo e a adoptar cegamente. Acho que as redes sociais nos mostraram que as adoptamos cegamente e que elas podem destabilizar campanhas, até continentes, sem sequer disparar uma arma”, argumentou.
Gelsinger disse que a tecnologia está a resolver grande parte dos problemas da Humanidade, mas Mason desconfia. Alerta que temos sistemas de distribuição de água, mas nem toda a gente tem acesso aos mais básicos cuidados da saúde.
“Ainda hoje há pessoas que morrem por desidratação ou por consumirem produtos contaminados. Sim, temos tecnologia para eliminar estes problemas, mas ainda há gente a morrer porque ela não chega até estas pessoas”, argumentou.
A "vitória" do cepticismo
Mason desconfia que não se pode estar assim tão confiante e alerta que, pela primeira vez, a tecnologia está a caminhar num sentido em que o próprio homem está em risco.
“A tecnologia até pode ser neutra, mas a palavra-chave que ouvi aqui foi optimismo. Penso que a esperança de que as coisas correm bem porque somos mais espertos do que todos os outros é uma falácia. Acho que estamos a esquecer coisas e a criar coisas que não entendemos”, lembrou.
Pat Gelsinger ainda argumentou que a tecnologia tem criado mais trabalhos do que tem destruído: “Temos muitas boas razões para sermos optimistas. A tecnologia é o nosso futuro. É nossa função que ela nos sirva da melhor forma possível”. Mason não faz as mesmas contas e tem a certeza de que o Homem está a perder a batalha do trabalho com as máquinas.
Ao final de 20 minutos, o moderador Jeremy Wilks, da Euronews, pediu ao público para votar num dos oradores. Na maior conferência do mundo de tecnologia, o céptico Ross Mason ganhou. Foi só cinismo, como disse o moderador ao dar o resultado? Talvez.