22 ago, 2018 - 16:05 • Júlio Almeida
A aquacultura de salmão em mar aberto vai mesmo avançar em Aveiro, pela mão da A Seaculture SA. Para já, vai começar a fase experimental.
O projeto resulta de um investimento do grupo Jerónimo Martins – a empresa requereu um título de utilização privativa do espaço marítimo nacional (TUPEM) para a instalação da unidade.
Investigadores portugueses e técnicos noruegueses estão a apoiar o desenvolvimento daquela que será a primeira unidade nacional para produzir salmão em aquacultura no mar.
O projeto visa a avaliação do crescimento do salmão atlântico em condições offshore na Costa Oeste de Portugal. A produção offshore, a aguardar autorização final da entidade licenciadora, ficará localizada a cerca de 11 milhas náuticas a sudoeste de Aveiro.
O TUPEM é atribuído sob a forma de autorização, por um período de 12 meses. A área total ocupada pelo projeto, incluindo a área de proteção, chega aos 250 mil metros quadrados. O projeto piloto diz respeito “a novo uso de tecnologia e investigação científica”.
Amadeu Soares, coordenador do ECOMAR, o laboratório de recursos biológicos marinhos da Universidade de Aveiro (UA), aponta qual o desafio principal: "É a dinâmica das nossas águas na nossa costa atlântica, aberta, que não tem nada a ver com as águas da Europa do Norte, onde existem fiordes, por exemplo. Portanto, não é fácil fazer aquacultura no mar".
A UA está a dar apoio científico, a partir da Gafanha da Nazaré, ao desenvolvimento da unidade de aquacultura no mar, que prevê a instalação de tanques de estabulação, alimentação e gestão dos peixes em sistema em recirculação.
Se os resultados do projeto piloto forem animadores, a Jerónimo Martins perspetiva conseguir colocar no mercado, dentro de dois anos, salmão “made in Portugal”. Caso haja sucesso, haverá salmão português no mercado dentro de dois anos e revolucionar a indústria aquícola nacional. O grupo tem já investimentos idênticos na produção de dourada e robalo em aquacultura.
Ricardo Calado, um dos investigadores da estação criada pela UA para testar novos sistemas de aquacultura sustentável, garante que "Portugal tem muita investigação de qualidade", sendo capaz de "desenvolver soluções para os problemas reais da aquacultura” que já existe no país, “mas o grande motor da aquacultura mundial é a Ásia e nós poderemos não exportar peixe, mas exportar conhecimento".
Se o salmão vingar no mar nacional, o país ganhará ainda maior diversidades na produção de peixe em aquacultura, sublinha Fernando Gonçalves, da Associação Portuguesa de Aquacultores, lembrando que o setor, em Portugal, "deve ser um dos mais variados que existe no mundo inteiro".
A Grécia, por exemplo, só produz dourada e robalo e a Noruega apenas salmão. "Em Portugal conseguimos produzir dourada, robalo, pregado, truta, linguado, corvina, algas, ostras, ameijoas, mexilhão. Com grande valor económico e saborosas", referiu o secretário-geral da organização de produtores.