01 mar, 2019 - 20:09 • Lusa com Redação
A diretora-geral do FMI elogiou os “enormes progressos” de Portugal, mas frisou que é preciso intensificar esforços para estar preparado para o futuro, antecipando que a perda de confiança no mercado após um Brexit desordenado pode prejudicar o crescimento.
“Portugal deve intensificar os seus esforços para estar preparado para o futuro”, afirmou esta sexta-feira Christine Lagarde ao discursar no Conselho de Estado, que decorreu no Palácio de Belém, em Lisboa, onde a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) foi a convidada especial.
A responsável máxima do FMI elogiou os “enormes progressos” de Portugal, destacando o “progresso impressionante no corte do défice orçamental e na redução dos custos de financiamento”, e agradeceu o pagamento da dívida ao FMI cinco anos antes do prazo.
“No FMI, temos plena consciência da determinação que permitiu a Portugal sair da sua crise económica”, referiu. “Constatámos nas equipas portuguesas de ambos os Governos a mesma determinação em encontrar soluções eficazes”, acrescentou.
Christine Lagarde disse também que “Portugal e os portugueses merecem um crédito enorme pelos seus esforços, dos quais devem estar orgulhosos”. A responsável citou Luís de Camões e frisou que o país deve continuar a tradição de “preparar-se antecipadamente para tempos difíceis e ser flexível o suficiente para aproveitar as oportunidades que surgirem”.
A diretora-geral da instituição com sede em washington frisou que “Portugal terá de continuar a inspirar-se na sua ilustre tradição, porque é provável que as águas da economia mundial se venham a tornar mais traiçoeiras”, e recordou Vasco da Gama que “não tinha medo da escuridão”.
“Os riscos no resto do mundo são cada vez maiores e é provável que representem a principal fonte de instabilidade para a economia portuguesa”, disse Christine Lagarde, admitindo que “poderá ser difícil implementar agora reformas”, mas que elas ajudarão depois “durante uma tempestade”.
A diretora-geral do FMI recomendou que Portugal continue a reforçar o sistema bancário e destacou que o reforço adicional do saldo orçamental de Portugal ajudará a acelerar o ritmo da redução da dívida e a diferenciar positivamente Portugal de outros países “altamente endividados”.
Christine Lagarde indicou também que “reformas estruturais para aumentar a poupança, o investimento e a produtividade são essenciais para melhorar o nível de vida, ajudando a desalavancar a economia e a reduzir as vulnerabilidades”.
E frisou ainda que Portugal tem de estar preparado para as rápidas mudanças tecnológicas que vão transformar a “forma como vivemos e trabalhamos”, o que passa pela criação de instituições reguladoras que protejam os consumidores “sem asfixiar a concorrência”, o desenvolvimento de um sistema de ensino orientado para as necessidades dos trabalhadores do futuro, e “a criação de redes de proteção sólidas para que aqueles que percam o emprego por causa da tecnologia não sejam deixados para trás”.
Sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, a diretora-geral do FMI afirmou que “todos os resultados prováveis do Brexit envolverão custos" para aquela economia” e frisou que serão tanto maiores quanto maiores forem as dificuldades que surgirem na nova relação com a Europa.
“Um Brexit desordenado também afetará Portugal”, antecipou Christine Lagarde, acrescentando que “poderão ser prejudicadas importantes relações comerciais e de turismo” e que uma perda da confiança no mercado financeiro “pode conduzir a taxas de juro soberanas e bancárias mais elevadas que prejudicariam o crescimento”.
Christine Lagarde sublinhou ainda a necessidade de cooperação mundial para “enfrentar os desafios económicos futuros”, na sequência do aumento das tensões comerciais, do crescente endividamento à escala global, do abrandamento económico na China e na zona euro e de um Brexit desordenado.
E acrescentou que os líderes mundiais devem aproveitar o ambiente atual para avançar com políticas e reformas e criar reservas orçamentais e financeiras para um “crescimento sustentável, robusto e inclusivo”.
Diretora-geral do FMI teve “reunião muito boa” com conselheiros de Estado
O Conselho de Estado debateu hoje os desafios económicos e financeiros da Europa no curto, médio e longo prazo com a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), uma reunião que Christine Lagarde classificou como “muito boa”.
De acordo com uma breve nota da Presidência da República, o Conselho de Estado “analisou as perspetivas da economia mundial e o impacto da economia da União Europeia, tendo debatido os desafios, a nível económico e financeiro, que se apresentam ao mundo, à Europa e a Portugal no quadro do curto, médio e longo prazo”.
A reunião do órgão político de consulta do Presidente da República, que decorreu no Palácio de Belém, em Lisboa, prolongou-se por três horas e meia.
À saída, Christine Lagarde, que também almoçou com o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, disse apenas aos jornalistas que foi “uma reunião muito boa”.
Ainda segundo a nota divulgada por Belém, Marcelo Rebelo de Sousa convidou a diretor-geral do FMI “para apresentar ao Conselho de Estado uma exposição introdutória” e, “após a exposição, seguiram-se as intervenções dos senhores conselheiros de Estado”.
No seu discurso aos conselheiros, Lagarde elogiou os “enormes progressos” de Portugal, mas frisou que é preciso intensificar esforços para estar preparado para o futuro, antecipando que a perda de confiança no mercado após um ‘Brexit’ desordenado pode prejudicar o crescimento.
No final do encontro, Marcelo Rebelo de Sousa não quis falar à comunicação social e lembrou que é habitual não comentar o que acontece nestas reuniões.
Não estiveram presentes neste Conselho de Estado o presidente do PS, Carlos César, o presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, António Lobo Xavier e Eduardo Lourenço.
Esta foi a décima segunda reunião do órgão político de consulta do Presidente da República desde que Marcelo Rebelo de Sousa assumiu a chefia do Estado, há cerca três anos, e a quarta que tem como tema as consequências da saída do Reino Unido da União Europeia, prevista para 29 de março, mas que pode vir, entretanto, a ser adiada.
A anterior reunião do Conselho de Estado realizou-se há menos de dois meses, no dia 17 de janeiro, para debater "as perspetivas para as futuras relações com o Reino Unido", com o negociador-chefe da União Europeia para o 'Brexit', Michel Barnier, como convidado.
Presidido pelo chefe de Estado, este órgão político de consulta é composto pelos titulares dos cargos de presidente da Assembleia da República, primeiro-ministro, presidente do Tribunal Constitucional, Provedor de Justiça, presidentes dos governos regionais e pelos antigos Presidentes da República.
Integra, ainda, cinco cidadãos designados pelo chefe de Estado, pelo período correspondente à duração do seu mandato, e cinco eleitos pela Assembleia da República, de harmonia com o princípio da representação proporcional, pelo período correspondente à duração da legislatura.
Anteriormente, Marcelo Rebelo de Sousa convidou para as reuniões deste órgão o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.