21 jan, 2019 - 17:14 • Redação
A Caixa Geral de Depósitos concedeu, durante os anos de crise, empréstimos imprudentes em que não respeitou as boas práticas de concessão de crédito e nos quais perdeu 580 milhões de euros.
Os empresários Joe Berardo e Manuel Fino, o grupo Artland e o negócio de Vale do Lobo são os "cabeças de cartaz" do buraco financeiro no banco do Estado.
Estes dados constam do relatório da EY após a auditoria realizada a pedido do Ministério das Finanças. As informações foram reveladas por Joana Amaral Dias, na CMTV, e o semanário Expresso teve acesso ao documento.
A versão preliminar contabiliza que as sete operações beneficiaram de 1.092 milhões de créditos da CGD, no período entre 2000 e 2015.
Artland- Obteve um empréstimo de 476,4 milhões de euros, do qual ficou por pagar quase metade (214,4 milhões de euros).
A decisão de a Caixa entrar no capital da La Seda, então uma empresa em forte expansão e que abriu falência em 2013, é de 2006, na gestão de Santos Ferreira. A Caixa acompanha o grupo português Imatosgil que também é acionista.
O projeto teve um empurrão político e um dos objetivos era garantir que a nova fábrica de PTA (um químico utilizado na produção de PET, que é usado na indústria de embalagens de plástico) fosse construída em Portugal.
O investimento de 400 milhões de euros em Sines, classificado como um Projeto de Interesse Nacional (PIN), foi uma das bandeiras do Governo de José Sócrates e do então ministro da Economia, Manuel Pinho.
Em causa estava a criação de 150 postos de trabalho e ao abrigo do qual foi atribuído um incentivo financeiro pelo Estado de 38,8 milhões de euros e benefícios fiscais.
Joe Berardo - É o segundo maior devedor, surgindo na lista através de operações da Fundação Berardo (267,6 milhões) e da sua holding Metalgest (52,5 milhões).
Em causa esteve a entrada na guerra de poder BCP entre Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto, em que a CGD quis interferir.
Para isso, financiou empresários com posições minoritárias no banco para reforçarem a sua posição. Berardo foi um deles. Manuel Fino outro.
As dívidas de Manuel Fino e Joe Berardo, dois grandes clientes da Caixa, foram renegociadas. A Fino, a Caixa ficou com 10% da Cimpor. O empresário madeirense entregou a coleção de arte moderna como garantia ao BES, Caixa e BCP.
Vale do Lobo - A Birchview e QDL são protagonistas do projeto de Vale de Lobo - as duas sociedades já declararam falência. A Caixa foi acionista e financiadora do processo.
Segundo a auditoria da EY, citada pelo Expresso, as duas repartiram 170 milhões. No fim de 2015, a CGD registara um imparidade de 30% do valor que concedera ás duas empresas. O banco público representa 93% dos créditos concedidos à promotora de Vale do Lobo.
O investimento total ascendeu a 222 milhões de euros, mas a parte do empréstimo terá beneficiado de uma descida do spread, segundo se noticiou à época, por intervenção de Armando Vara.
Este empreendimento foi alvo da Justiça no processo Marquês, que tem como principal figura o ex-primeiro-ministro, Armando Vara.
Manuel Fino - A Investfino e Finpro, sociedades do empresário, completam 138,3 milhões de euros de imparidades.
O dinheiro serviu duas finalidades, na luta acionista no BCP que veio reforçar a posição anti-Jardim Gonçalves. A luta foi perdida e o dinheiro também.
A outra finalidade era comprar e expandir a Soares da Costa, uma construtora que já não tem atividade em Portugal. Em 2015, a CGD reconheceu a totalidade do empréstimo como perdido.
O Expresso diz ainda que, de acordo com a análise da EY, as operações da Artlant, Birchview e QDL (Vale o Lobo) foram as mais graves do ponto de vista da concessão inicial do crédito e da avaliação do risco.
As restantes são consideradas de "risco elevado".