28 mar, 2019 - 09:00 • Sandra Afonso
O Banco de Portugal retirou uma décima ao crescimento previsto para este ano, e aponta agora para 1,7%, longe dos 2,2% estimados pelo Governo. A previsão do executivo não é acompanhada por nenhuma organização internacional, todas apontam para crescimentos inferiores.
Segundo o Boletim Económico do Banco de Portugal, divulgado esta quinta-feira, até 2021, o crescimento deverá descer para 1,6%, aproximando-se assim do seu potencial. O banco central defende ainda que o maior contributo para o crescimento será da procura interna e não das exportações.
O consumo das famílias está a crescer mais depressa do que a atividade económica, o que traduz o aumento do rendimento disponível real das famílias. Na habitação, a tendência será para uma progressiva desaceleração.
As importações deverão crescer mais do que as exportações, que serão mais uma vez animadas pelo turismo.
Por outro lado, as empresas estão a investir mais do que em 2018. Nos próximos anos estes níveis deverão manter-se em torno dos 6%, com tendência de descida.
Emprego continua a aumentar
O consumo público deverá acelerar este ano e continuar constante até 2021, num contexto de “crescimento muito moderado” do emprego público.
No mercado de trabalho, o emprego deverá continuar a aumentar, mas a um ritmo inferior. Segundo este Boletim Económico, deverá passar de um crescimento de 2,3% no ano passado, para 0,4% em 2021. Na mesma medida, a taxa de desemprego, que em 2018 estava nos 7%, deverá chegar aos 5,2% dentro de dois anos.
A inflação prevista foi revista em baixa, desde 2018 até 2021, e deverá ficar abaixo do projetado para a zona euro.
A poupança das famílias deverá continuar em níveis historicamente baixos.
Este boletim sublinha ainda que, nos próximos anos, a taxa de juro natural deverá manter-se negativa ou próximo de zero. É o que indica a maioria das projeções, o que coloca um desafio à política monetária. O espaço para aumentos da taxa de juro será mais limitado e o BCE poderá ter de recorrer a medidas não convencionais.
Cenários adversos podem desacelerar o crescimento
O Banco de Portugal salienta que estas previsões estão sujeitas a vários riscos, que podem reduzir o crescimento até 0,7 pontos percentuais por ano.
Este cenário está assente em diversos riscos, desde logo a desaceleração do comércio internacional, com impacto nos nossos parceiros comerciais, políticas protecionistas, tensões geopolíticas, a desaceleração da economia chinesa e o Brexit. Há também constrangimentos específicos da economia portuguesa, ao nível demográfico, tecnológico e institucional.
O Boletim apresenta dois cenários adversos para a economia portuguesa. No primeiro, mais moderado, a economia é sujeita a uma maior desaceleração dos países do euro, o que retira uma décima percentual ao crescimento do PIB no primeiro ano e três décimas no segundo.
No segundo cenário, mais adverso, o impacto sobre a economia externa é semelhante ao de 2012, durante a crise das dívidas soberanas, e reduz em 7 décimas percentuais o crescimento, tanto em 2019 como em 2020. Este é o cenário menos provável.
O supervisor aponta ainda soluções para a economia, que passam por uma aposta no aumento da produtividade, capital humano e inovação.
Este Boletim revela ainda que Portugal é o sexto país que recebe mais rapidamente os fundos comunitários. Está acima da média europeia.
No entanto, o Banco de Portugal diz que o ritmo de recebimento está ligeiramente aquém do anterior ciclo de apoios e abaixo dos ciclos mais antigos. De acordo com o regulador, a entrada dos fundos, no âmbito do Portugal 2020, deverá acelerar. É esperado um pico em 2020.