11 ago, 2019 - 09:14 • Sandra Afonso
Um dos negócios de venda de ativos tóxicos do Novo Banco fechado nos últimos dias foi intermediado pela Finsolutia, uma empresa de Nuno Maria de Faria Espírito Santo Silva, antigo diretor de recuperação de créditos do banco, ex-administrador da ES Capital e membro da família Espírito Santo. A mesma empresa já faz parte de um consórcio que, desde o ano passado, gere milhares de imóveis do antigo Banco Espírito Santo (BES).
Na última semana, foi anunciada a venda de duas carteiras de ativos tóxicos a grupos norte-americanos. Num dos negócios, estava em causa a venda de uma carteira de imóveis detido pelo Novo Banco com o nome “Projecto Sertorius”. Chegaram à fase final dois candidatos – os grupos Cerberus e Bain.
Contudo, cada um desses grupos associou-se a uma empresa de gestão de créditos com presença em Portugal, que funcionaram como intermediários. E que, no caso do consórcio vencedor, a empresa portuguesa irá funcionar como ‘servicer’, ou seja prestará os seus serviços na tentativa de recuperação dos créditos comprados.
Venceu o fundo americano Cerberus, representado pela portuguesa Finsolutia, que por sua vez é presidida por Nuno Maria de Faria Espírito Santo Silva, ex-administrador da Espírito Santo Capital SA. Antes, como se pode ler no seu perfil na página da Finsolutia, trabalhou no BES como diretor de recuperação de créditos e de clientes empresariais de alto risco. Nessa página, aparece apenas como Nuno Silva. O mesmo perfil diz que trabalhou para uma empresa privada, sem nomear a ES Capital.
A própria Finsolutia foi fundada, em 2007, com uma participação do BES Investimento, da Ongoing e do UBS Investiment Bank. E já no ano passado esteve envolvida noutro negócio de compra de imóveis do Novo Banco, fazendo parte de um consórcio que ficou com a gestão de nove mil imóveis do antigo BES, vendidos por mais de 700 milhões de euros.
A Renascença questionou o Novo Banco (atualmente detido em 75% pelos norte americanos da Lone Star e a 25% pelo Fundo de Resolução), sobre este negócio, mas, apesar da insistência por vários meios, não obteve qualquer resposta.
O outro finalista deste negócio, o finalista vencido, foi a Bain Capital, representada pela Whitestar, a maior empresa de recuperação de créditos em Portugal. Esta empresa que foi criada por executivos da Lehmann Brothers, é hoje detida pela Arrow Global, um gigante mundial da gestão de divida malparada, que tem a ex-ministra das Finanças do PSD, Maria Luís Albuquerque, como administradora não-executiva.
Na semana passada, o Novo Banco vendeu ainda uma segunda carteira, de crédito malparado e de imóveis em Espanha, com o nome “Albatroz”, desta vez à Waterfall Asset Management.
No total, os ativos destas duas carteiras estão avaliados em quase 800 milhões de euros, mas foram vendidos com um desconto de mais de 67%. Contas feitas, só estas duas operações contribuíram com 229 milhões para os prejuízos de 400 milhões, apresentados pelo Novo Banco no primeiro semestre.
Falta ainda saber por quanto será vendida uma terceira carteira de malparado que já está no mercado, avaliada em 3,3 mil milhões de euros.