12 ago, 2019 - 20:47 • Lusa
A requisição civil decretada pelo Governo é "socialmente responsável", afirma o advogado da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram). André Matias de Almeida recusa que os transportadores tenham extremado posições.
"O comportamento que o Governo teve agora é socialmente responsável", disse André Matias de Almeida à SIC, em reação ao decreto do Governo da requisição civil dos motoristas em greve.
O advogado considerou também que "muito tem feito o Governo", que "não tinha sequer que recorrer a um mecanismo de mediação como o fez junto do sindicato [dos motoristas de matérias perigosas, SNMMP]".
No entanto, apesar de saudar a posição do Governo, André Matias de Almeida não deixou de se distanciar de algumas das palavras do secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Tiago Antunes.
"Tenho de discordar de uma das coisas que o secretário de Estado acabou de dizer, que é de que este conflito está extremado entre as partes, isso não é verdade. Está extremado do lado do sindicato", disse o advogado dos transportadores.
André Matias de Almeida afirmou que a Antram "defende desde da primeira hora a requisição civil preventiva", e que o facto de o Governo só a ter decretado hoje e parcialmente 'descola' a Antram do executivo.
"Nós pedimos a requisição civil preventiva, hoje o Governo decreta-a no final do dia e apenas na medida do necessário. E portanto esta conversa do sindicato de que a Antram está colada ao Governo e vice-versa não é verdade", considerou o advogado.
O representante da Antram nas negociações com os sindicatos afirmou ainda que hoje, durante o dia, alguns motoristas "simplesmente desapareceram" e não cumpriram os serviços mínimos.
"Nós falamos de um abastecimento de Sines para o Algarve incumprido a 100%. Sabe o que é que isto significa? É que de um momento para o outro não houve mais trabalhadores", afirmou.
André Matias de Almeida associou a ausência de trabalhadores às declarações do porta-voz do Sindicato de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), Pedro Pardal Henriques.
"Houve 100% de trabalhadores que da manhã para a tarde, depois das declarações do doutor Pedro Pardal Henriques, simplesmente abstiveram-se de prestar qualquer serviço mínimo, sabendo que incorriam na prática de um crime", declarou.
"O que é estranho, e é isso que não podemos permitir, é que esta discussão se esteja a ter outra vez. Nós já tivemos esta discussão em maio. Assinámos um documento em maio que comprometia toda a gente a negociar em paz social até 31 de dezembro de 2019. Foi incumprido", concluiu André Matias de Almeida.
O Governo decretou hoje a requisição civil dos motoristas em greve, alegando incumprimento dos serviços mínimos, anunciou o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, após reunião do executivo por via eletrónica.
De acordo com Tiago Antunes, o Governo constatou hoje, particularmente no turno da tarde, que os sindicatos que convocaram a greve dos motoristas de mercadorias e de matérias perigosas "não asseguraram os serviços mínimos" fixados pelo executivo.
"O Governo não teve alternativa senão a de reconhecer a necessidade de proceder à requisição civil dos motoristas em situação de greve com vista a assegurar o cumprimento dos serviços mínimos", declarou, acrescentando que a medida será "gradual" e aplicada às áreas "em que se constata o incumprimento".
Os motoristas cumprem hoje o primeiro dia de uma greve marcada por tempo indeterminado e com o objetivo de reivindicar junto da associação patronal Antram o cumprimento do acordo assinado em maio, que prevê uma progressão salarial.
A greve foi convocada pelo SNMMP e pelo Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM), tendo-se também associado à paralisação o Sindicato dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários e Urbanos do Norte (STRUN).