02 dez, 2019 - 17:10 • Susana Madureira Martins , João Pedro Barros
Tem 35 anos, é francesa, doutorada pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e professora assistente no Instituto de estudos Políticos de Paris. Julia Cagé explicou esta segunda-feira, na conferência sobre financiamento dos média - que está a decorrer na Cidadela de Cascais e que é organizada pelo Sindicato dos Jornalistas -, a sua visão para o futuro da comunicação social, que inclui o apoio do Estado.
Cagé parte de uma convicção: os órgãos de comunicação social, tal como as universidades, fornecem um bem público, a informação, que é um “ingrediente essencial da participação política numa democracia". Por isso, advoga a criação de “media vouchers”.
Estes vales, propôs a economista, seriam financiados pelo Estado e, em Portugal, poderiam ser no valor de 50 euros por adulto por ano. Caberia depois a cada cidadão entregá-lo a uma organização de comunicação social da sua escolha, através da declaração de impostos.
Os órgãos de comunicação terão de ser “transparentes” e “éticos” para beneficiar da destituição deste dinheiro. para garantir o pluralismo, Cage sugere que cada órgão de comunicação não posso receber mais do que o equivalente a 1% do número total de “vouchers”.
Para ultrapassar a crise, também diz que é preciso encontrar um modelo similar ao das fundações. A investigadora – autora de vários livros, entre eles “Salvar os media” e “O preço da democracia” –, aponta para a criação daquilo a que chama “organização de media não-lucrativa”, que teria um modo de funcionamento a meio caminho entre uma fundação e uma empresa cotada na bolsa.
"Seria como numa fundação, em que não há dividendos e todos os lucros são reinvestidos. Uma das grandes vantagens das fundações é que o capital está congelado, por isso não se pode vender nem comprar uma fundação. Deste modo, e de uma vez por todas, a independência do jornalista fica preservada e há mais do que aquilo que existe numa fundação, que é uma governança democrática", explicou, em Cascais.