06 abr, 2020 - 22:44 • José Bastos , André Rodrigues
Os economistas Braga de Macedo e António Nogueira Leite apontam algumas pistas para a reunião do Eurogrupo, desta terça-feira, que vai tentar consensualizar medidas para atacar a crise económica provocada pela pandemia de Covid-19.
Com as “coronabonds” (emissão de dívida europeia) quase excluídas da equação, devido à oposição de países como Alemanha, Holanda ou Finlândia, o ex-ministro das Finanças Braga de Macedo acredita que poderá haver “alguma inovação” no encontro desta terça-feira, sob a batuta de Mário Centeno, presidente do Eurogrupo.
Em declarações à Renascença, Braga de Macedo acredita que a solução poderá passar, em parte pelo, por um Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) reconfigurado para enfrentar os novos tempos difíceis que se adivinham, juntamente com outros mecanismos de apoio ao Estados-membros.
“O Mecanismo Europeu de Estabilidade seria sempre parte da solução, embora numa configuração diferente, melhor, com uma condicionalidade diferente do que era habitualmente. Nunca seria o mesmo mecanismo de antes. Mas agora temos o Banco Europeu de Investimento [BEI], temos um plano comum sobre desemprego, que também era considerado uma coisa extremamente nova e impossível de acordar e que parece estar a ser acordada, um fundo…”, sublinha.
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O economista considera que a crise provocada pelo novo coronavírus é “dramática” e acredita que, na reunião de terça-feira do Eurogrupo, vão ser colocadas novas soluções em cima da mesa.
“Vai haver um conjunto de propostas dos ministros das Finanças para o Conselho Europeu, em que depois os chefes vão escolher aquelas que são mais palatáveis. Não me admiraria que houvesse alguma inovação agora. Talvez fosse isso que levou os chefes de Estado e de Governo a remeter para os ministros pela segunda vez. Acho que pode haver alguma inovação.”
O ministro alemão das Finanças, Olaf Scholz, tranquilizou os parceiros europeus e garantiu que a ajuda não vai significar a entrada de uma nova troika nos países, com medidas de austeridade draconianas.
“Por detrás de tudo isto, dos países e das várias pastas, também há alinhamentos políticos. Na Alemanha há um bloco central e Olaf Scholz é da família política do Partido Socialista português. Esta ideia de que se vai encontrar uma solução a contento de todos os países e das várias tendências políticas é elementar. Há uma crise dramática, até os republicanos e os democratas nos Estados Unidos parece que se conseguiram, quase, entender. Seria incompreensível que a Europa não tivesse uma posição”, alerta Braga de Macedo.
“Eu tenho uma certa esperança que se consiga criar um ambiente de melhorar a situação, em vez de estar aqui a bater-se pela última guerra, que neste caso foi a guerra da troika. Acho que são boas notícias”, sublinha o antigo ministro das Finanças.
Na contagem decrescente para o Eurogrupo desta terça-feira, onde será decidida a resposta europeia à crise, o economista António Nogueira Leite defende emissões de dívida de longo prazo para não comprometer a situação de países mais vulneráveis, como Portugal, e um aperfeiçoamento do MEE.
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Em declarações à Renascença, o antigo vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e ex-secretário de Estado do Tesouro diz que “seria bom que pudessem ser pensadas emissões num prazo bastante longo”, de 30 anos, porque “não vai ser possível a países como Portugal ter um adicional de dívida equivalente ao que vai ser agora incorrido com maturidades curtas”.
Por outro lado, Nogueira Leite considera “importante” que as condições para os países acederem ao Mecanismo Europeu de Estabilidade “fossem atenuadas ou, no limite, eliminadas”.
A atual crise “foi algo inesperado e não há aqui o risco moral que houve no passado e que foi invocado na altura para que este mecanismo tenha os tais elementos de condicionalidade”, sublinha o economista.
A reunião do Eurogrupo, presidida por Mário Centeno, vai realizar-se por videoconferência e deverá começar pelas 14h00. Os ministros das Finanças dos Estados-membros da zona euro vão continuar a trabalhar na resposta coordenada às consequências económicas da pandemia da Covid-19.