16 abr, 2020 - 09:30 • Olímpia Mairos
Os dias de Eduarda Barros, de 48 anos, são preenchidos a costurar máscaras que a autarquia de Bragança está a distribuir a mais de 70 instituições, entre PSP, GNR, bombeiros, estabelecimentos prisionais, IPSS e juntas de freguesia.
Esta costureira de Bragança aceitou o desafio da autarquia e, porque se tratava de uma “causa nobre”, colocou mãos à obra, acelerou o ritmo de trabalho e só em dois dias fez 100 máscaras.
“Para tentar ajudar, fiz o mais rápido possível”, conta à Renascença, explicando que o processo de confeção demora mais ou menos 15 minutos.
“As máscaras são de tecido. Já vêm cortadas. A Câmara fornece os tecidos e os elásticos e depois nós montamos, de acordo com o molde que nos é dado”, conta Eduarda, assegurando que tem trabalhado “sempre com o maior cuidado de higiene e de confeção, porque estas máscaras vão ajudar a suprir a falta de máscaras cirúrgicas e precisam de estar em condições”.
Também Duarte Rodrigues, de 61 anos, está a dar uso à sua máquina de costura e a contribuir para a “causa solidária”. Viu o apelo da autarquia na internet e não pensou duas vezes. Ofereceu-se para colaborar e já confecionou 52 máscaras. Mas está disposto a fazer muitas mais.
Duarte trabalha num ATL que agora está fechado. Por isso, assinala que, “além de estar a fazer uma boa ação”, está “ocupado, porque o tempo agora custa a passar”. Ainda assim divide-o entre a máquina de costura e a distribuição de refeições aos mais vulneráveis com a equipa da Cáritas de Bragança.
Depois de feitas, as máscaras passam por um processo de esterilização que é feito no Laboratório de Controlo Qualidade Alimentar (LCQA), com sede em Bragança.
“Colocámos o laboratório à disposição de forma a que fosse possível proporcionar as máscaras nas melhores condições possíveis”, explica Carlos Martins, realçando “o gosto em participar e ajudar a nossa região”.
Depois de a Direção-Geral da Saúde (DGS) ter recom(...)
De acordo com o gerente da empresa, “as máscaras são colocadas dentro de uns sacos próprios para serem esterilizadas. São colocadas em equipamentos e sob pressão conseguem atingir altas temperaturas, cerca de 120 graus, durante 15 minutos”.
“Garantimos, assim, no caso de haver alguma falha em todo este processo, havendo, por exemplo algum micro-organismo, e este que mais nos está a afetar neste momento, sejam todos eliminados, garantindo, assim, às pessoas que vão utilizar as máscaras uma maior confiança e um selo de garantia”, assinala.
A empresa suporta os gastos inerentes ao processo, oferece o serviço e os sacos próprios para esterilização, que têm indicadores do processamento.
“Há lá uns elementos que alteram a cor, dando a indicação que realmente o produto que está dentro do saco foi processado, foi esterilizado”, explica Carlos Martins.
A iniciativa surgiu do município de Bragança, que apelou à solidariedade de costureiras, alfaiates, modistas e praticantes de costura, como resposta à escassez de material existente no mercado.
O presidente da autarquia, Hernâni Dias, explica à Renascença que “havia muitas instituições com muitas dificuldades para terem algum equipamento de proteção” e para suprir essa carência, a autarquia decidiu lançar o desafio.
“Tivemos logo 108 propostas de colaboração de vários pontos do país, maioritariamente do concelho de Bragança. E foi com 80 voluntários de Bragança que começamos a trabalhar, até por questões de logística, porque era mais fácil entregar o material e as pessoas devolverem as máscaras feitas”, conta o autarca.
O município disponibiliza o tecido, devidamente adequado para a proteção dos utilizadores das máscaras, e o elástico e entrega o material onde os cidadãos indicam.
E em menos de um mês já foram produzidas 10.200 máscaras em tecido, para proteção individual, esterilizadas e reutilizáveis. Grande parte do material já foi distribuído por mais 70 instituições, entre PSP, GNR, bombeiros, estabelecimentos prisionais, IPSS’s e juntas de freguesia, do meio rural e urbano.
“Na altura tivemos algumas críticas, porque estávamos a lançar uma máscara que não estava certificada e ninguém sabia muito bem como funcionaria, mas nós tínhamos a noção clara que era preferível que as pessoas tivessem algum meio de proteção, mesmo que ele não fosse o melhor, pese embora ele tenha uma proteção entre os 65 e os 90%”, assinala o autarca de Bragança.
De acordo com o presidente da Câmara de Bragança as máscaras que estão a ser produzidas “têm a particularidade de serem reutilizáveis, porque são fabricadas num material que tem algodão e também poliéster. E podem ser depois esterilizadas novamente, desde que sejam submetidas a uma temperatura entre os 70 e os 90 graus”.
A autarquia continua a contar com a disponibilidade dos voluntários e garante que vai continuar a produzir o material de proteção.
A Organização Mundial de Saúde não aconselha as pe(...)
“E agora que as autoridades de saúde já estão com uma orientação diferente relativamente ao uso de máscaras sociais, mais razão nos dão para continuarmos este processo, até porque entendemos que as pessoas não têm capacidade para adquirir máscaras cirúrgicas porque têm um preço bastante elevado”, assinala o autarca.
“Além de serem caras, têm um período de duração de utilização relativamente curto e ter que comprar máscaras, nem que seja para usar só uma por dia, todos os dias do mês, implica um gasto enorme numa altura em que as famílias se veem confrontadas com muitos problemas e falta de rendimentos”, sublinha Hernâni Dias.
É também por isso, para que “as famílias fiquem com disponibilidade de dinheiro para outras coisas mais urgentes”, que a autarquia de Bragança vai continuar a produzir, com a ajuda dos voluntários, o material de proteção individual.
Sobre os custos da iniciativa para a autarquia, Hernâni Dias, afirma que “são valores praticamente simbólicos” destacando que “o mais importante é salvar vidas”.
A iniciativa insere-se na estratégia adotada pelo município de Bragança, para a prevenção e contenção da propagação da Covid-19, na tentativa de “mitigar ao máximo os seus efeitos na sociedade brigantina”.