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​Federação Europeia de Editores critica ministra da Cultura por falta de diálogo com setor do livro

20 abr, 2020 - 18:41 • Maria João Costa

Graça Fonseca comprometeu-se na semana passada, no parlamento, com medidas para o setor do livro, mas cancelou a reunião com a APEL. Agora é a Federação Europeia de Editores que escreve carta à ministra a pedir que ouça o setor fustigado por uma crise sem precedentes.

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A carta vem de Bruxelas, o seu remetente é o presidente da Federação Europeia de Editores (FEE). A missiva é dirigida à ministra da Cultura e chega, dias depois de Graça Fonseca ter cancelado a reunião da semana passada com a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL).

A titular da Cultura tinha anunciado, na Comissão Parlamentar de Cultura, que iria avançar até ao final da semana passada com medidas para o setor do livro, mas nada disse sobre o assunto, na conferência de imprensa. Agora a FEE pede diálogo à ministra.

O representante europeu da edição lamenta que Graça Fonseca não tenha tido ainda disponibilidade para receber a APEL. O presidente da FEE, Rudy Vanschoonbeek, refere na carta que os representantes portugueses têm um conjunto de propostas para enfrentar “o terrível impacto que estão a ter, devido à pandemia de Covid-19”.

Os dados da GfK Portugal, relativos à semana entre 6 e 12 de abril, evidenciam “uma queda cada vez mais preocupante” nas vendas, “afetando particularmente as livrarias que agora registam quebras próximas dos 85%”.

Face a este cenário, a Federação recorda à ministra, e envia em anexo, um conjunto de medidas que já foram adotadas em outros países europeus. A FEE espera assim, que Graça Fonseca se possa inspirar e “seguir estas medidas em coordenação com a APEL” para encontrar uma solução para o setor que classifica como “crucial para a educação, conhecimento e cultura”.

Na sexta-feira passada, a APEL fez um comunicado em que lamentava o cancelamento da reunião de quinta-feira com a ministra da Cultura e a ausência de diálogo com o setor.

Agora, os representantes europeus do setor reforçam este apelo ao diálogo, lembrando que a nível das instituições comunitárias as verbas disponíveis para a cultura são “escassas e tardam em ser aplicadas”. A Graça Fonseca, sugerem que “adote medidas especificas para editores e livreiros”, para que estes possam “sobreviver à crise”.

A FEE lembra ainda à ministra portuguesa que “em tempos de crise, os livros e a edição são uma peça chave na sustentação da democracia, do pluralismo e da diversidade de valores e normas nas quais Portugal e a União Europeia foram fundadas”.

A voz dos editores

A APEL tem vido a divulgar nos últimos dias um conjunto de testemunhos de editores e livreiros com um diagnóstico da atual situação no setor.

Hoje quem toma a palavra é Vasco Teixeira, administrador do Grupo Porto Editora, que lamenta a falta de diálogo do Ministério da Cultura.

“Não deixa de ser paradoxal que a indústria cultural que mais tem contribuído ao longo dos anos para o PIB, a que mais relevante tem sido para a promoção da língua portuguesa além-fronteiras, seja repetidamente desconsiderada por um Ministério que chega ao ponto de, num contexto tão grave como o que atravessamos, nem sequer considerar uma via de diálogo para chegar a algum tipo de entendimento”, aponta este responsável de um dos maiores grupos editorais.

Vasco Teixeira, que assina um texto intitulado “Está nas nossas mãos”, refere que o setor do livro estava a recuperar da crise de 2009, mas a retoma “não permitiu regressar aos níveis anteriores à crise” e acrescenta que “foram várias as livrarias e editoras, algumas de referência, que desapareceram”.

O administrador da Porto Editora, teme, no entanto, que agora seja pior. Vasco Teixeira afirma que “mais uma vez, o setor editorial e livreiro vai ter de agarrar o seu destino com as suas próprias mãos sem poder esperar algum apoio por parte do Ministério da Cultura, que, manifestamente, exibe pouca sensibilidade para os reais problemas do setor do livro e nem uma verdadeira política de apoio às livrarias consegue concretizar”.

Também na semana passada, através da APEL, Francisco Vale, diretor da editora Relógio d'Água falava na “mais grave crise de sempre da edição portuguesa” e no clima de “incerteza que pode prolongar-se até 2022”.

Nas palavras deste editor de sucessos como os de Elena Ferrante, “vão ser os leitores a decidir o presente e o futuro dos livros”. Mas Vale dá também algumas ideias de medidas que podem vir do lado do Estado para apoiar o setor: “linhas de crédito, moratórias e a supressão dos agora ainda mais absurdos pagamentos por conta”. Outra das ideias passa por, “para as livrarias, um apoio ao pagamento das rendas das lojas. As editoras, essas precisam de apoios diretos, como compras para as bibliotecas públicas e escolares e a diminuição ou supressão dos impostos sobre os stocks armazenados”.

Da morte certa, pode não se livrar a Bizâncio. Luís Alves, editor e livreiro da Livraria Ler, em Campo de Ourique, dizia na última semana através da APEL que “a editora não vai provavelmente conseguir ultrapassar esta situação”. Em causa estão “70% de quebra de vendas”.

“Financeiramente não temos capacidade para contrair um novo empréstimo e, lamentavelmente, nem podemos substituir o atual que é mais penalizador” referia Luís Alves que à frente desta pequena editora reconhecia que “com três pessoas em lay-off”, terão “muita dificuldade em recuperar o espaço nas livrarias”.

A Feira do Livro de Lisboa foi adiada para o final de agosto, mas quando abrir, poderá não ter editoras para a realizar.

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