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Teletrabalho e pandemia

"A cultura do presencialismo nas empresas está morta"

25 mai, 2020 - 10:33 • Sandra Afonso

Esta pandemia abriu uma porta no mundo do trabalho que dificilmente voltará a ser fechada. A Renascença entrevistou um especialista em empreendedorismo e negócios familiares, o qual admite que parte das empresas não irá sobreviver e para as restantes muito vai mudar, mas no que toca teletrabalho, avisa que não basta enviar os funcionários para casa.

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O “presencialismo nas empresas está morto”. A ideia é defendida por Manuel Bermejo, professor na IE Business School, em Madrid, especialista em empreendedorismo e negócios familiares. Em entrevista à Renascença, lembra que “dois em cada três empregos criados em países como Espanha e Portugal estão em empresas familiares”, que agora combatem também a Covid-19. Algumas não irão sobreviver, para as restantes nada será igual. O futuro passa pela reindustrialização, mais autónoma e resistente a vírus.

O diretor e fundador da empresa de consultoria para negócios de família, “The Family Advisory Board”, defende que o teletrabalho veio para ficar mas avisa que não basta enviar os funcionários para casa.

Muitos funcionários e empresas descobriram agora as vantagens do teletrabalho e há abertura para explorar novas oportunidades. Manuel Bermejo fala numa nova cultura empresarial. “Temos que cuidar da saúde, da moral e mantermo-nos atentos. O teletrabalho não funciona sem teleassistência, telecontrolo e teleobjectivos. As organizações já não vão ser as mesmas. Temos que criar estruturas muito flexíveis, para aguentarem estes terramotos. A cultura do presencialismo nas empresas hoje está morta.”

Um estudo com mais de uma centena de empresas familiares espanholas - medianas e grandes - conclui que a maior parte optou pelo teletrabalho e uma grande percentagem prepara-se para investir no trabalho à distância, informação online, digitalização, robotização e automação.

Uma das consequências desta pandemia foi destacar a fragilidade dos trabalhadores, afinal as máquinas não adoecem com Covid-19, o que pode levar muitas empresas a apostarem mais na produção local.

Penso que vamos assistir a uma reindustrialização na Europa, em particular em Portugal e Espanha. Haverá mais empresas internacionais com produção local, num modelo similar ao que é utilizado pela coca-cola, para citar uma empresa conhecida. Mas esta reindustrialização será feita com grande investimento em máquinas e automação, para ser competitiva. Até porque, a Covid-19 não afetou os robôs”, justifica.

Este professor defende ainda que nesta altura uma das características mais importantes para as empresas é a adaptação às novas circunstâncias. “É preciso ser profundamente 'darwinista'. Há um restaurante muito famoso em Portugal, que tem uma fotografia com uma das frases mais famosas dele: ‘sobrevive a espécie que melhor se adapta’.”

Sugere ainda aos gestores que preparem desde já os orçamentos deste ano, ainda que venham a ser sujeitos a várias correções, e que não se precipitem nas decisões de curto prazo, porque o objetivo é manter sempre a empresas a funcionar no dia seguinte. Dá como exemplo uma das empresas onde ocupa o cargo de presidente. “Em aliança com outra empresa desenvolvemos e já temos todas as autorizações de comercialização de um robô, que inclui lâmpadas ultravioleta que demostraram uma eficiência de 99% para matar a Covid em hospitais. Se só pensássemos na tesouraria, não teríamos stock de produto, o que para mim seria um erro. Temos que pensar na caixa mas, sem esquecer o dia seguinte.”

Manuel Bermejo sublinha que nos primeiros meses da pandemia, já existem vários casos de sucesso de empresas que souberam adaptar-se. Tal como as anteriores, também esta crise vai passar, mas as empresas já não serão as mesmas.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 343 mil mortos e infetou mais de 5,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de dois milhões de doentes foram considerados curados.

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