04 jul, 2020 - 17:39 • José Pedro Frazão
É preciso avançar com uma intervenção no Algarve para acudir a uma grave crise económica causada pela quebra abrupta do turismo. No programa "Adiante", a presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal lembra o peso do setor na economia nacional e do Algarve na oferta turística portuguesa e avisa para a necessidade de uma ação direccionada aquela região do sul do país.
"Com o nível brutal de desemprego que existe, há uma imensa preocupação. O Algarve em particular vai precisar de um plano muito intensivo, não só para o turismo, mas para a economia do Algarve. Tem uma dependência muito grande do turismo e sem ele o Algarve passa mesmo muito mal. É o principal destino turístico nacional e quando o Algarve espirra todo o país se constipa. E se o turismo se constipa, a economia do país tem uma pneumonia", afirma a antiga diretora-Geral do Turismo na edição desta semana do podcast que analisa os desafios deixados pela pandemia em diversos sectores económicos e sociais.
O programa foi gravado imediatamente antes de ser noticiada a decisão britânica de excluir Portugal Continental da lista de países onde os turistas ingleses podem passar férias sem cumprir quarentena no regresso. A presidente executiva (CEO) da associação que representa os hotéis diz que é preciso reinventar a ligação a outros mercados turísticos para aquela zona em particular.
"O Algarve não tem no mercado espanhol um grande esteio, como tem no mercado britânico ou alemão. É preciso neste momento reinventar-nos junto de alguns mercados com campanhas em mercados que não são tradicionais para nós, incluindo Espanha, Reino Unido, França, Alemanha. Ir buscar um pouco mais longe e imaginar como o vamos fazer. Até porque o mercado americano - e a Europa ainda não abriu fronteiras com os EUA - estava a crescer muitíssimo em Portugal", complementa Cristina Siza Vieira neste podcast especial da Renascença, transmitido semanalmente em parceria com a Gama Glória, Sociedade de Advogados.
A natureza periférica do nosso país, limitada por terra apenas à fronteira com Espanha, torna a retoma do transporte aéreo num factor crítico da recuperação do turismo em Portugal. Cristina Siza Vieira lembra que 95% do turismo vem da aviação, que considera a 'pedra de toque' de todo o processo.
" Consideramos que é necessária uma política pública muito séria para a captação de rotas para Portugal. Vão ser 'mil cães a um osso'. Os países do sul da Europa vão 'esgadanhar-se' por ter as companhias aéreas a voar. A Ryanair e a EasyJet foram decisivas para a afirmação do Porto. É preciso ter um 'volley' financeiro simpático para seduzir companhias aéreas a voarem por exemplo com aviões a meio gás para Portugal", diz a CEO da AHP.
A hotelaria espera uma recuperação mais lenta do turismo nas grandes cidades, com a quebra das viagens de negócios e do segmento do chamado "shortbreak" (férias de curta duração). O turismo interno fará a diferença em primeiro lugar nas regiões Centro e Norte sobretudo em unidades de turismo rural, analisa Cristina Siza Vieira que assegura que "a cidade virá depois".
A presidente executiva da associação da hotelaria sugere um aproveitamento das linhas de apoio à digitalização que venham a ser incluídas nos planos de recuperação económica da Europa.
" As grandes operadoras online têm grande importância mas não pagam impostos em Portugal e são claramente abusadoras nas condições que impõem aos operadores desde a questão das comissões ao posicionamento das suas tarifas a par das dos hoteis. Seria interessante a perspectiva de uma digitalização maior do sector, com um apoio a filmes ou a sites que sejam transaccionáveis", propõe Cristina Siza Vieira, lembrando que muitas unidades mais pequenas e no interior têm sites na internet que não permitem a transação monetária para completar a reserva.