07 ago, 2020 - 16:36 • Rosário Silva
Contra o prolongamento do lay-off na Rodoviária do Alentejo e a resultante redução e supressão de carreiras, a União dos Sindicatos do Distrito de Évora (USDE) promoveu, esta sexta-feira, uma ação de denúncia e esclarecimento junto à Rodoviária, na cidade-museu, exigindo o direito à mobilidade e a um transporte público que garanta o desenvolvimento do distrito.
“A Rodoviária do Alentejo anunciou o prolongamento do 'lay-off' por mais nove meses e, por isso, temos todos os transportes parados, num distrito onde o transporte é todo ele rodoviário, onde as localidades tem grandes distâncias entre si, com consequências graves para as populações, sobretudo os mais idosos que dependem deste transporte para acesso ao hospital ou a outros serviços públicos”, denuncia, Tiago Aldeias, coordenador da USDE, estrutura da CGTP-IN.
A Rodoviária do Alentejo, em meados de julho, terá informado os trabalhadores sobre o propósito de avançar com a redução dos períodos normais de trabalho e suspensão dos contratos de trabalho, ao abrigo do lay-off, por mais nove meses, com início a 1 de agosto.
“Estamos aqui, para contatar com os trabalhadores e alertá-los para esta situação, primeiro por tratar-se de corte no seu salário e, depois, para chamar a atenção para um problema que é também social, com consequências gravosas para as suas vidas”, justificou, aos jornalistas, Tiago Aldeias.
Os membros da USDE acabaram por encontrar a sede da Rodoviária do Alentejo, praticamente, vazia, quer de passageiros, quer de trabalhadores, situação que não surpreendeu os sindicalistas, uma vez que, mesmo não dispondo de números, afiançam que “estão em lay off, a quase totalidade dos trabalhadores” da empresa do grupo Barraqueiro.
Sem comboios desde há muitos anos, e agora sem transporte rodoviário, a União dos Sindicatos de Évora, considera a “situação inaceitável”, tendo em conta o seu contributo para que a região esteja cada vez mais isolada.
“Quando falamos dos problemas da desertificação e do despovoamento do Alentejo, e depois não proporcionamos às pessoas, condições de vida e meios de deslocação, assim é difícil que alguém se queira fixar na região”, conclui, Tiago Aldeias, lembrando que a situação vai piorar, a partir de setembro, “com o regresso dos alunos às aulas, muitos dos quais dependem deste transporte para chegar aos estabelecimentos de ensino.”
Nesta matéria, a USDE está em total sintonia com a posição já manifestada pela FECTRANS - Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações, que constata que "apesar dos apoios previstos no Orçamento do Estado suplementar, os patrões privados continuam sem repor o serviço que o país precisa e, com isto, são prejudicados os trabalhadores e os utentes.”
Também o PCP questionou, recentemente, o Governo sobre o prolongamento do "lay-off" na Rodoviária do Alentejo, alegando que os trabalhadores ficam com os salários reduzidos e as populações veem limitadas as hipóteses de mobilidade. A pergunta, subscrita pelas deputadas comunistas Vera Prata e Diana Ferreira e dirigida à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, foi divulgada pela Direção da Organização Regional de Évora (DOREV) do PCP.
Para os comunistas, esta decisão deixa os trabalhadores da Rodoviária do Alentejo numa "situação muito frágil e insustentável", já que veem "reduzidos os seus salários para dois terços".
"Além disso, condiciona fortemente as possibilidades de mobilidade das populações, o que dificulta o seu acesso a inúmeros serviços essenciais que se localizam apenas nas sedes de concelho ou outras cidades do distrito", acrescentou.
Na pergunta, o PCP questiona o Governo sobre as medidas que vai tomar para garantir o respeito pelos direitos dos trabalhadores da Rodoviária do Alentejo, nomeadamente a manutenção dos seus salários, e a retoma da atividade da empresa.
Da ação desta sexta-feira, em Évora, atendendo ao agravamento previsível da situação em toda a região alentejana, sai, ainda, um apelo dos sindicalistas, para que “as populações e os movimentos de utentes tomem posição e se manifestem para contestar esta ausência de serviço publico”.