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Pandemia de ​Covid-19

Estudo. Os portugueses estão a poupar mais e a aderir ao “faça você mesmo”

19 ago, 2020 - 18:37 • Sandra Afonso

Com o confinamento nasceram novos hábitos de consumo nos lares de Portugal, a maioria pode ser uma tendência, mas alguns estão a criar raízes

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O alerta é da consultora Nielsen, no último estudo sobre o consumo, onde diz que chegou um “novo normal”. A cesta de compras está a estabilizar, já não segue as notícias da covid-19, mas a instabilidade económica alteraram os hábitos de consumo. Em Portugal, 77% dos consumidores já estão a poupar mais, um número acima do resto da europa.

A pandemia alterou comportamentos que normalmente demoram o triplo do tempo ou mais a verificarem-se. Os consumidores foram “forçados a repensarem o modo como compram e o que compram”, diz Scott Mckenzie, responsável pela Inteliigence Unit da Nielsen, e “as marcas devem ser altamente focadas e ágeis nas suas respostas”.

"Em cada lar nasceram padeiros, pasteleiros, barbeiros, cabeleireiros e chefs de cozinha" durante o confinamento e alguns destes hábitos vieram para ficar. Ou seja, o dinheiro já não é gasto da mesma forma. O faça você mesmo entrou no "novo normal", segundo a consultora Nielsen, "chegou o reset do consumo mundial".

Nova cesta de compras

O pico de vendas motivado pela pandemia já passou, as prateleiras do papel higiénico, álcool ou produtos de limpeza já não ficam vazias. Mas isto não significa que os consumidores tenham deixado de comprar ou recuado no consumo destes bens, apenas “já não respondem tão imediatamente ao ciclo de notícias” sobre a covid-19. No entanto, “os componentes da cesta de compras vão vergar-se à recessão económica e à transformação da força de trabalho”, explica Scott McKenzie.

Nesta análise, a multinacional divide os consumidores em dois tipos, os que viram os rendimentos serem impactados negativamente pela covid-19 e vão gastar para sobreviver e os que podem ajustar momentaneamente os gastos, mas os rendimentos permanecem inalterados. Mas, quer se encontrem empregados ou não, “os consumidores estão menos otimistas acerca do futuro. Esta cautela vai obrigar a reconciliar hábitos de compra adotados ao longo dos últimos anos com uma nova realidade em que a saúde e o valor percecionado nos produtos são os fatores prioritários”, acrescenta.

No futuro, as compras vão passar por quatro perguntas: o quê, onde, porquê e quanto. Isto vai reconfigurar a cesta de compras, reforçar a moda do faça você mesmo, tornar o consumo mais racional e obrigar a dar mais atenção ao valor dos produtos.

Na prática, os consumidores vão reduzir o nível da despesa e passar a comprar o “essencial”, porque percebem que não podem manter os gastos do pico da pandemia. Estão também mais disponíveis para consumir em casa e participar no processo de produção e transformação, o que aumenta a procura por outro tipo de produtos. Por fim, com a recessão económica, os consumidores questionam mais a compra e o valor dos produtos.

Onde vão poupar os Portugueses?

"77% dos portugueses afirmam ter alterado os seus gastos de forma a poupar nas compras para casa, contra apenas 66% dos europeus", diz a consultora. Os cortes estão a ser feitos em “refeições, viagens, entretenimento e vestuário”. A Nielsen prevê que “os bens de grande consumo passarão a ganhar um novo significado e a ser uma forma de preencher o vazio deixado por estas poupanças".

Menos roupa nova e menos despesas com entretenimento fora de casa deverão representar mais de metade da poupança dos portugueses (54%). Logo atrás surgem poupanças na conta do gás e eletricidade (43%), menos despesas com o carro (40%), menos encomendas de Take away (39%) e alguns admitem mesmo adiar as férias anuais (37%) ou reduzir as escapadinhas (34%).

Há ainda quem admita a mudança para marcas mais baratas (34%), o adiamento de grandes compras para a casa (30%), a opção pelo entretenimento em casa (27%), adiar a renovação de produtos tecnológicos (24%), reduzir o consumo de álcool e a intenção de comprar de marcas mais baratas (19%), poupar no telefone (13%), fumar menos (13%), por fim, melhorar empréstimos, seguros e cartões (10%).

Menos promoções na pandemia

Em Portugal, como no resto do mundo, as promoções reduziram significativamente desde o início da pandemia. ““Vemos claramente uma indicação de que a base promocional foi repensada, levando a uma enorme oportunidade para modificar o comportamento do consumidor em torno da acessibilidade aos produtos”, diz a consultora. Este é o momento para as marcas “reequacionarem a sua abordagem de forma mais eficiente”.

No actual momento, “de enorme disrupção do consumo e de transformação de tendências”, cabe às marcas e retalhistas avaliarem o valor que os consumidores atribuem a cada momento de compra. “O clima económico está a conduzir a enormes mudanças na perspetiva financeira dos consumidores”, avisa a Nielsen, “as marcas e retalhistas que se mostrarem incapazes de oferecer produtos que se possam ajustar a uma disponibilidade financeira mais limitada e a sensibilidades acrescidas a respeito de preço podem perder tração a longo-prazo junto de consumidores essenciais para assegurar o seu negócio”.

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