17 set, 2020 - 15:42 • Sandra Afonso
Mais pessimista que o Governo, o Conselho das Finanças Públicas antecipa que a economia vá cair este ano 9,3%.
Com a atualização das previsões, apresentada esta quinta-feira, o executivo fica sozinho. Nenhum dos organismos que acompanham as contas nacionais espera para este ano uma recessão abaixo dos 9%.
O Conselho das Finanças Públicas aponta para uma queda da economia acima dos 6,3% esperada pelo executivo. Este ano o tombo deverá chegar aos 9,3%, devido a uma contração maior das exportações do que o esperado em junho.
Estas projeções, divulgadas no relatório de Perspetivas Económicas e Orçamentais 2020-2024, aproximam-se dos valores da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento da Europa (OCDE), Banco de Portugal e Comissão Europeia, que antecipam contrações de 9,4%, 9,5% e 9,8%, respetivamente.
O organismo presidido por Nazaré Cabral admite uma recuperação gradual só a partir do segundo semestre. No próximo ano, o crescimento poderá atingir os 4,8%, ajudado pelo consumo privado e pelo investimento.
Será preciso esperar quatro anos para o país regressar aos níveis que tinha antes da pandemia. Ainda assim, não será atingido o défice zero de Centeno. O país deverá contar com um défice de 2,7% do PIB e uma dívida pública de 130,1%. Na prática, vamos ter 5 anos seguidos de défices.
Para este ano é antecipado um desequilíbrio na casa dos 7,2%, que já inclui “o apoio financeiro às empresas de transporte aéreo, TAP e SATA, e a atualização do impacto anual das medidas excecionais de resposta à crise pandémica".
Em 2021 é esperada uma redução do défice, mas deverá manter-se acima do limite de 3% inscrito no Pacto de Estabilidade e Crescimento, para já suspenso.
O Conselho das Finanças antecipa um défice de 3,2% em 2021, de 3% em 2022 e de 2,7% do PIB tanto em 2023 como em 2024.
A dívida pública também deverá agravar-se este ano, para 137,6% do PIB, mas é esperada uma redução nos anos seguintes, até 130,1% em 2024.
Ainda assim, estas são projeções feitas com muitas incertezas, alerta o documento, desde a pandemia e as medidas que contenção, até aos elevados níveis de endividamento das famílias e empresas, ou mesmo o risco de instabilidade das condições financeiras.
Estas projeções reveem as expectativas para o mercado de trabalho. O Conselho das Finanças espera agora uma queda de 4% do emprego, mais um ponto percentual que em junho. No entanto, mantém a taxa de desemprego nos 10%.
A redução de emprego afeta o rendimento das famílias e as expectativas de consumo. O consumo privado deverá contrair 8,9%, apesar dos apoios do Estado. Há também muita incerteza sobre a poupança.