21 set, 2020 - 16:25 • Sandra Afonso
“A altura ideal para poupar é entre o dia 1 de janeiro e o dia 31 de dezembro”, defende Cláudio Santos, do Doutor Finanças, empresa especializada em finanças pessoais e familiares.
A poupança é um hábito que deve ser criado, “uma rotina que, como todas as outras coisas que fazemos já quase sem pensar, o tem de ser também”.
Tal como procuramos uma boa oportunidade, quando entramos numa loja, também aqui temos de fazer o mesmo, defende Cláudio Santos.
“Temos de parar, olhar e reavaliar onde estão os nossos custos ao longo do ano todo. Só assim é que conseguimos criar uma massa que depois nos vai ajudar em momentos mais difíceis, como este que estamos a viver agora”, com a pandemia de Covid-19.
Sabe para onde vai o seu dinheiro? Quanto gasta por mês no supermercado? Quanto paga às seguradoras? Qual a despesa mensal com telecomunicações e energia?
Comece por reunir todas as contas e tente baixar as faturas em casa: procure simuladores, renegoceie os contratos, avalie passar para uma só empresa de cada serviço. “Por vezes, quando olhamos com atenção, estamos a pagar um seguro se calhar de um carro que já não temos”, avisa Cláudio Santos.
Nas telecomunicações, por exemplo, por cerca de 50€/mês contrata um pacote com televisão, internet e um telemóvel, para consumos médios (por cada telemóvel que adicionar, mais poupa). Os mesmos serviços e capacidades contratados individualmente saem sempre mais caros.
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O mesmo se aplica às dívidas. Tem empréstimos junto do banco? Utiliza cartões de crédito? Há quanto tempo não faz uma pesquisa no mercado? Procure saber se as condições dos empréstimos continuam atrativas, se outras instituições oferecem spreads mais baixos, se é vantajoso juntar diferentes créditos.
O objetivo é “ver onde podemos ir buscar valores que parecem pequenos mas, todos somados, dão uma fatia muito interessante daquilo que é o nosso orçamento familiar”, diz Cláudio Santos.
Nos cartões de crédito, o discurso é diferente. São empréstimos para consumo com elevadas taxas de juro. Aqui o conselho é que pague o mais rápido possível esta dívida. Neste momento o banco não lhe paga nada pelos depósitos, a taxa de juro é zero, mas está a pagar cerca de 17% em juros pelo que pediu através dos cartões de crédito.
A forma mais fácil de controlar o dinheiro é saber como está a ser gasto e o melhor processo é apontar todas as contas. Basta dividir uma folha ao meio e durante o mês ir somando, de um lado o que ganha e do outro onde gastou. Cláudio Santos sublinha a importância deste exercício. “Pode parecer algo complicado, mas não, nada mais é do que escrever aquilo que ganhamos e aquilo que gastamos. E temos que ser muito realistas e muito disciplinados.”
No final do mês, será mais fácil perceber, por exemplo, qual o esforço financeiro da família com a casa (empréstimo, luz, água, etc), uma fatia que não deverá ultrapassar os 35% a 40% do orçamento mensal.
“Mesmo que não tenha uma grande literacia financeira, uma família olhando para estes custos consegue logo rapidamente identificar alguns sítios onde pode eliminar custos.”
Todos devemos ter uma poupança para um imprevisto: desemprego, doença súbita, acidente ou outra qualquer situação de emergência.
É dinheiro que deve estar disponível e ser suficiente para manter o nível de despesa, pelo menos, durante meio ano. Deverá somar as despesas mensais e multiplicar esse valor por seis, para calcular quanto deve manter num fundo de emergência.
Um incentivo à poupança é dar um destino a esse dinheiro. Pode ser para o fundo de emergência, para as férias, para trocar de carro, para amortizar os créditos, uma formação ou mesmo para a reforma.
“Depois, é importante estipular o valor de poupança que podemos fazer e, quando falamos em valores de poupança as pessoas pensam que não conseguem poupar 200€/mês. Não! Vamos poupar 20€, 30€, vamos poupar um valor que pomos de parte logo no início do mês e vai fazer parte da nossa poupança e vai estar presente para as nossas necessidades”, diz Cláudio Santos. Cada um deverá avaliar quanto consegue colocar de lado por mês.
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O importante é não deixar o dinheiro acessível, porque facilmente cai na tentação de o gastar. “Muitas vezes acontece”, admite o responsável da Doutor Finanças.
“Na generalidade, temos muitas preocupações, cuidamos de muitas outras coisas, mas somos pouco preocupados com o nosso dinheiro. Achamos que ele é importante, faz-nos falta para o nosso dia a dia e para a nossa qualidade de vida, mas depois preocupamo-nos muito pouco com onde é que o podemos otimizar, onde é que poderá ser mais útil, onde pode trazer mais valor.”
Esqueça os depósitos bancários, está a emprestar dinheiro ao banco e não ganha nada por isso, pelo contrário, ainda tem despesas de manutenção da conta para pagar. “Hoje em dia, nos investimentos ditos seguros, a rentabilidade é zero ou muito próxima de zero”, avisa Cláudio Santos.
Restam duas opções: “ou amealhar esse valor, mas não terá valorização, a não ser o valor adicional que nós vamos acrescentar; ou então, optar por vias um pouco mais arriscadas". O problema com esta última alternativa, contrapõe o especialista, é que "não estamos numa altura muito favorável para esse efeito".
A terceira alternativa é “recorrer a situações tradicionais, como a aquisição de imobiliário ou outras, que possam ver como boas oportunidades de rentabilizar as poupanças”.
Nos investimentos com menor risco e ditos tradicionais (seguros de capitalização, PPR, títulos do tesouro, certificados, depósitos a prazo), “hoje em dia não há rentabilidades, são muito próximas do zero. Optar por estes instrumentos é mais na ótica de manter a poupança fora de mão”, admite Cláudio Santos. Aqui, as rentabilidades só existem “em prazos muito dilatados, de 10, 15, 20 anos”, para quem está a pensar na reforma.
Se optar por produtos de risco que prometem, esses sim, juros mais elevados, não se esqueça que existe sempre uma possibilidade de perda de parte ou de todo o investimento, dependendo do produto escolhido.
O primeiro passo para a poupança começa pela redução dos consumos, com: tarifas bi-horárias, lâmpadas mais eficientes, substituir caixilhos e janelas, desligar aparelhos em standby, colocar dispositivos eficientes nas torneiras e autoclismos.
O segundo passo é renegociar os contratos, adaptar os serviços aos consumos, rever os fornecedores da eletricidade, água, gás e telecomunicações.
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