04 nov, 2020 - 16:00 • Celso Paiva Sol
Das autoestradas à agricultura. Da expansão da banda larga à escola de formação da GNR, em Portalegre. Das unidades móveis de saúde até à criação de emprego por via da deslocalização de serviços públicos, passando pela ferrovia, pelos lares de idosos, pelos computadores para as escolas e pelo turismo.
Tudo o que falta, ou que ainda divide o litoral do interior, transforma uma audição parlamentar à ministra da Coesão Territorial numa espécie de viagem por todas as outras áreas governativas.
Ana Abrunhosa, uma beirã “de corpo e alma”, promete investimentos cada vez maiores, mas também sublinha que gere “um ministério que vai para além do Orçamento”.
A ministra da Coesão Territorial esteve, esta quarta-feira, numa audição conjunta com as comissões de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação e de Administração Pública, Modernização Administrativa, Descentralização e Poder Local, no âmbito da apreciação, na especialidade, do Orçamento do Estado para 2021, na Assembleia da República,
Abrunhosa garante que a sua missão segue o caminho traçado, mesmo apesar de imprevistos como a pandemia. Admite, aliás, que a crise que atravessamos ajudou de alguma forma a expor todas as vulnerabilidades do país e a colocar definitivamente “o interior na agenda politica”.
Por todos os que lá vivem e trabalham, mas também por “todos os que lá se confinaram nos últimos meses, e agora já não querem sair”.
A banda larga, por exemplo, já era uma prioridade deste governo, mas agora faz ainda mais sentido porque agora “toda a nossa vida está a caminhar para a telesaúde, teletrabalho, teleserviços, telensino à distância”.
Ana Abrunhosa diz que é o momento de aproveitar as diversas fontes de financiamento que o pais tem no horizonte, com coragem para corrigir erros cometidos no Portugal 20-20.
A ministra promete criar até 2023 um conjunto de estruturas móveis que levem serviços públicos ao interior, nomeadamente a cada uma das Comunidades Intermunicipais dessa parte do território.
Um “espaço do cidadão móvel”, um “transporte a pedido”, e uma “unidade móvel de saúde”.
Dos planos do Ministério da Coesão faz igualmente parte o apoio à produção nacional - que em breve terá mais um programa de 100 milhões de euros dedicados às micro e pequenas empresas do turismo e da industria.
Ana Abrunhosa promete também continuar a lutar pela transferência de serviços púbicos para o interior do país, o que, confessa, “é um dos dossiers mais difíceis que tem no Ministério”.
A ministra admite que tem sido muito difícil coordenar as várias vontades e disponibilidades dentro do próprio Governo e ao deputado que a questionou sobre esse esforço respondeu: "Não sou de desistir, mas, de vez em quando, temos o direito de desabafar. E é difícil”.
Portagens e comboios
Fortemente criticada pelo PSD pela redução de portagens nas ex-SCUT proposta no Orçamento de Estado, a Ministra da Coesão reconheceu que “temos mesmo que ir mais longe”.
Ana Abrunhosa explicou que tudo fez para “que esta medida fosse mais ambiciosa” e confessou: "Não estou satisfeita com a medida, não podia estar, e só estarei satisfeita quando a população do interior estiver satisfeita."
Em causa est,á sobretudo, a proposta de desconto de 25% a partir da oitava passagem numa portagem, o que, por exemplo o PSD considerou ser ridículo.
Sempre num registo muito frontal com os deputados, Ana Abrunhosa reconheceu também que foi “infeliz” quando disse que “para a ligação Lisboa-Madrid temos aviões”.
Não era uma desvalorização da ferrovia, até porque o Governo “está a trabalhar no corredor sul, no que toca aos dois portos que temos - Sines e Setúbal - a Badajoz, e a intensão é que não seja apenas transporte de mercadorias, mas também de passageiros”.
Por último, depois de ouvir vários lamentos de deputados eleitos pelos Açores e pela Madeira de que este pouco ou nada neste Ministério lhes diz respeito, a ministra da Coesão garantiu que irá incluir as regiões autónomas em projetos futuros.