21 dez, 2020 - 08:15 • Lusa
A Galp vai concentrar as suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos, a partir do próximo ano, anunciou a empresa, esta segunda-feira.
Fonte da empresa diz à Renascença que não sabe ainda quantos dos 350 trabalhadores serão reintegrados ou deslocalizados em 2021, em resultado desta decisão.
Num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Galp refere que “continuará a abastecer o mercado regional, mantendo a operação das principais instalações de importação, armazenamento e expedição de produtos existentes em Matosinhos”, e que está a “desenvolver soluções adequadas para a necessária redução da força laboral e a avaliar alternativas de utilização para o complexo”.
A empresa diz que as "alterações estruturais dos padrões de consumo de produtos petrolíferos motivados pelo contexto regulatório e pelo contexto Covid-19 originaram um impacto significativo nas atividades industriais de ‘downstreaming’ da Galp”, e afirma que “o aprovisionamento e a distribuição de combustíveis no país não serão impactados por esta decisão”.
Esta reconfiguração “permitirá uma redução de mais de €90m por ano em custo fixos e investimentos e c.900kt das emissões de CO2 e (scope 1 e 2) associadas ao sistema atual”, refere a nota.
“O valor contabilístico das atividades a serem descontinuadas é de c.€200m”, acrescenta.
A Galp diz ainda que se vai focar “no aumento da resiliência e competitividade do complexo industrial de Sines, com uma capacidade de processamento de crude de 200kbpd e equipado com unidades de maior conversão, estando em análise iniciativas com vista ao aumento da sua eficiência processual e energética, bem como a integração da produção de biocombustíveis avançados e de outros produtos com baixo teor de carbono e maior valor acrescentado”.
“Os investimentos potenciais associados a estas iniciativas poderão ser suportados pelas poupanças da reestruturação em curso e pelos mecanismos de apoio à transição energética”, acrescenta a empresa.
Empresa anunciou esta segunda-feira que vai desati(...)
No passado dia 11, o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente (Site-Norte) tinha alertado para a “incerteza” quanto ao futuro da refinaria de Matosinhos, onde a produção de combustíveis está suspensa “indeterminadamente” e a monobóia desativada.
“O momento atual no complexo industrial é de enorme incerteza e vulnerabilidade no que diz respeito à sua continuidade como um dos maiores polos industriais existentes no norte do país”, referia o sindicato, num comunicado distribuído aos trabalhadores da Petrogal, em Matosinhos.
“A suspensão da produção de combustíveis indeterminadamente, parando equipamentos que, recordamos, foram considerados na altura como o garante do futuro e competitividade da refinaria é sem dúvida revelador do momento delicado que atravessamos”, sustentava a estrutura sindical, exigindo a "retoma plena da atividade da fábrica de combustíveis" e alegando que "os avultados investimentos que aí foram realizados são o garante do emprego, da criação de riqueza e do desenvolvimento da economia regional e do país”.
Preocupado com os trababalhadores da refinaria de Matosinhos, o ministro do Ambiente e Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, diz à Renascença que o Governo não pode interferir, porque a Galp é privada, mas lembra que a empresa pode recorrer ao Fundo europeu para a Transição Justa.
“A verba ainda não está completamente fechada, mas em princípio corresponderão a Portugal 200 milhões de euros. “Tem como objetivo o apoio social aos trabalhadores, a sua reconversão profissional e a geração de negócios que sejam alternativos ao setor onde estas pessoas já trabalham. Isto não dispensa que esta transição tem de ser mesmo justa. Estamos preocupados com os próximos um, dois, três anos do futuro destes trabalhadores.”
O Governo considera, em comunicado, que a decisão da Galp de descontinuar a refinação em Matosinhos "levanta preocupações" em relação ao destino dos trabalhadores, mas lembra que as medidas anunciadas se inserem num processo que visa a descarbonização do setor energético.
O Ministério do Ambiente e da Ação Climática manifesta-se disponível para se reunir com a Galp e com as estruturas representativas dos trabalhadores, "exigindo da empresa todo o empenho e sensibilidade social para procurar soluções para o futuro próximo".
Na nota, o gabinete do ministro João Matos Fernandes sublinha que as decisões anunciadas pela Galp "respeitam a empresa cotada, maioritariamente privada, que atua no setor energético em Portugal", e recorda que as medidas agora conhecidas se inserem “num processo de transformação nacional e internacional do setor energético, visando, de forma geral, a sua descarbonização".
"Segundo as informações prestadas pela empresa, a Galp continua comprometida com investimentos em Portugal e na sua transformação de uma empresa de ‘oil&gas’ em uma empresa que atua no setor energético, num sentido mais geral e ambientalmente mais sustentável. Nesse sentido, estas decisões estão alinhadas com a política de descarbonização da Europa, e de Portugal, e com os compromissos decorrentes do acordo de Paris", refere.
[notícia atualizada às 13h40]