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​Estudo sobre olival no Alqueva desfaz “mito”

16 mar, 2021 - 17:01 • Rosário Silva

Cultura está “adaptada” à região e é “mais valia económica e social”. O trabalho, desenvolvido a pedido do Governo para conhecer os verdadeiros impactos causados pela produção intensiva e superintensiva do olival na região, foi desenvolvido pela EDIA, a empresa que gere o Alqueva.

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Um estudo desenvolvido pela Empresa de Desenvolvimento de Infraestruturas do Alqueva (EDIA) conclui que a cultura do olival está “perfeitamente adaptada” ao Alqueva, possui “baixas exigências hídricas” e é, para a região, uma “considerável mais valia económica, social e no emprego gerado”.

“Olival em Alqueva: caracterização e perspetivas” é a designação deste estudo executado nos últimos dois anos, a pedido do Governo, depois de algumas vozes críticas terem exigido conhecer os verdadeiros impactos causados pela produção intensiva e superintensiva na região.

“O olival é uma cultura perfeitamente adaptada à região de Alqueva, com baixas exigências hídricas e resiliência à irregularidade climática, elevada rusticidade e boa resistência a pragas e doenças exigindo por isso baixas quantidades de fitofármacos”, o que “conjugado com boas práticas culturais como o enrelvamento nas entrelinhas, melhora a estrutura e aumenta a quantidade de matéria orgânica no solo”, revela o estudo a que a Renascença teve acesso.

Além do mais, pode ler-se, “o olival tem permitido uma rentabilização dos investimentos públicos de Alqueva, proporcionando uma rápida e grande adesão dos agricultores ao regadio”, gerando “uma considerável mais valia económica, social e no emprego gerado”.

Atualmente, o olival é a principal cultura de Alqueva, representando, segundo a EDIA, “o símbolo da nova agricultura de regadio da região”. Em resultado disto, a olivicultura portuguesa aumentou drasticamente a sua produtividade, o que já possibilitou um superavit de exportações.


“Na última década e com a passagem de sequeiro para regadio, o olival português aumentou drasticamente a sua produtividade, o que possibilitou um superavit de exportações de 250 milhões de euros”, tendo levado a que Portugal passasse “de uma situação de crónico importador de azeite para exportador, tendo este contributo sido alavancado nos investimentos e produção verificados no Perímetro de Rega de Alqueva”, concluíram os especialistas que conduziram o estudo.

Depois de um decréscimo no final do século passado, a área ocupada no país pelo olival mantém-se constante há duas décadas, sendo que em 2018, 179 mil hectares situavam-se na região Alentejo e 361 mil hectares no país, o que corresponde a 9.5 % da superfície agrícola útil.

Com mais de 130 páginas, o trabalho fala numa “perceção negativa desta cultura”, por parte da sociedade em geral, devido à existência de grandes manchas de olival, sendo, contudo, uma perceção que se fundamente, apenas “em questões que não se prendem diretamente com a cultura do olival, mas sim à transformação de uma área tradicional de sequeiro em regadio moderno.”

O documento aponta que o olival moderno de regadio pode ser desenvolvido de uma forma “sustentável e ecologicamente positiva”, dependendo das práticas culturais utilizadas.

Boas práticas como “a preservação e o fomento de bolsas de biodiversidade no meio da cultura (galerias ripícolas, bosquetes, quercíneas isoladas, charcos temporários, sebes vivas e entrelinhas multifuncionais) ou a preferência pelo controlo biológico das pragas” têm, assim, um papel decisivo.

A EDIA coordenou este trabalho que contou com a colaboração de vários organismos do Ministério da Agricultura – a Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo (DRAPALE), o Instituto Nacional de Investigação Agrícola e Veterinária (INIAV) e a Direção Geral de Agricultura e Veterinária (DGAV).

Pandemia não afetou setor do olival

O diretor executivo da Olivum – Associação de Olivicultores do Sul “congratula-se” com as conclusões deste estudo que, sublinha, “vão ao encontro dos argumentos que esta associação tem apresentado na defesa do olival como cultura sustentável e eficiente na gestão dos recursos naturais”.

Gonçalo Almeida Simões acentua a importância destas conclusões, “para um sector que tem trabalhado muito no sentido de combater mitos” sobre a sustentabilidade do olival.

“Satisfaz-nos saber que o trabalho de desmitificação desenvolvido por todos os envolvidos na olivicultura, da produção de azeitona à comercialização do azeite, é agora oficialmente reconhecido através de um estudo científico munido de sólida fundamentação”, declara o diretor executivo da Olivum.

Ainda de acordo com este responsável, “o sector do olival impacta mais de 32 mil pessoas” e, sendo um “dos incontestáveis protagonistas do sector agroalimentar, continuou sempre ativo” desde que começou a pandemia, “sem recorrer a lay-off ou a despedimentos”.

O estudo, remata Gonçalo Almeida Simões, “vem de forma irrefutável dar resposta a muitas questões tantas vezes postas em causa”.

Comentários
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  • Filipe
    16 mar, 2021 aqui 21:24
    Os senhores engenheiros que fizeram este estudo haviam de me dizer em que parte do mundo onde não houve intervenção humana existe apenas um tipo de planta. Onde? Isso não existe! Os senhores engenheiros querem convencer as pessoas que hectares intermináveis de uma única planta não tem impacto nas outras espécies que habitavam aquela zona antes da intervenção humana.
  • Bruno
    16 mar, 2021 aqui 21:17
    O que o estudo não refere é o impacto do olival hiper-intensivo para os pequenos proprietários que cuidam de oliveiras centenária em regime de sequeiro, com podas manuais e colheita pouco instrumentalizada. Esses olivais tradicionais fazem parte da cultura portuguesa e têm um impacto mínimo no ambiente uma vez que a oliveira é praticamente autóctone. Os olivais hiper-intesivos vieram tornar a exploração destes pequenos olivais economicamente inviável. Desta forma, perde-se um pouco da nossa cultura e enriquece-se os grandes grupos económicos que exploram as propriedades junto do Alqueva.

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