08 jul, 2021 - 16:17 • Sandra Afonso
O Banco Central Europeu (BCE) mexeu, pela primeira vez em 18 anos, naquele que é um dos objectivos centrais da autoridade monetária - a inflação, que já pode ultrapassar os 2%. As alterações climáticas passam a contar para a tomada de decisões.
O processo de revisão estratégica arrastou-se por 18 meses e ficou agora concluído. Segundo a nota emitida pelo BCE, a nova meta da inflação é agora de 2% no médio prazo, tendo em conta variações simétricas. A decisão é unânime.
O novo objectivo substitui o "abaixo , mas próximo de 2%", em vigor desde 2003. O que muda? A alteração imediata é permitir que a inflação ultrapasse os 2%, ainda que por periodos estabelecidos.
A nova meta não elimina a ambiguidade do objectivo, mas dá-lhe mais amplitude. O BCE diz que "a estabilidade de preços é assegurada mais eficazmente com um objetivo de 2% para a inflação a médio prazo. Este objetivo é simétrico, o que significa que os desvios negativos e positivos da inflação face ao objetivo são igualmente indesejáveis".
O que deve então a Autoridade Monetária almejar? "Quando a economia está a funcionar próximo do limite inferior das taxas de juro nominais, são necessárias medidas de política monetária particularmente vigorosas ou persistentes para evitar que se enraízem desvios negativos do objetivo para a inflação. O que pode também implicar um período transitório, durante o qual a inflação se situe moderadamente acima do objetivo [de 2%]", explica o comunicado.
Um novo objectivo não implica uma alteração imediata da política monetária, tudo depende do comportamento dos preços.
Desta reunião de dois dias do Conselho de Governadores sai ainda a confirmação de que as taxas de juro continuam a ser "o principal instrumento de política monetária". Mas o BCE não abdica de utilizar outros instrumentos, "designadamente, as indicações sobre a orientação futura da política monetária, as compras de ativos e as operações de refinanciamento de prazo alargado".
"O Conselho do BCE reconheceu que as alterações climáticas têm implicações profundas para a estabilidade de preços e, em conformidade, comprometeu-se a seguir um plano de ação climática ambicioso", refere a nota.
Os novos modelos macroeconómicos devem incluir as implicações das mudanças climáticas, indicadores experimentais nesta área já a partir de 2022, novas regras para o tratamento dos colaterais elegíveis incluindo e os testes de esforço para avaliar a exposição aos riscos ambientais, que começam no próximo ano. Estes novos modelos serão coordenados num centro criado pelo BCE para a mudança climática.
O BCE vai ainda reforçar a avaliação dos ativos, no âmbito do risco climático.
Esta segunda revisão estratégica foi uma iniciativa já da nova presidente, Christine Lagarde. A próxima não irá demorar mais 18 anos, o BCE decidiu que vai repetir o processo a cada cinco anos. A próxima avaliação arranca em 2025.