20 jul, 2021 - 16:54 • Pedro Mesquita
Significa que o Banco de Portugal, no âmbito das atividades de supervisão, detetou falhas e violações de normas, como por exemplo a exposição a partes relacionadas, detetou situações em que havia administradores da parte financeira e não financeira, simultaneamente, a pedir empréstimos, detetou que havia um conjunto de procedimentos que eram lesivos e alguns até fraudulentos e não tomou as medidas em tempo útil, apesar de ter detetado.
Houve negligência?
Deixo a qualificação para os jornalistas ou para quem estiver a ler. Agora, isto é factual. Havia mecanismos para afastar os administradores, é evidente que pode haver entendimentos diversos sobre isso. O Banco de Portugal, na ponderação entre valia a pena ou não valia a pena, teve uma atitude conservadora. Ou seja, nada fez. Havia mecanismos para alterar o perímetro da consolidação e subir esse patamar. Podia tê-lo feito, mas optou por não o fazer.
Que consequências poderá haver?
A comissão de inquérito, essencialmente, faz uma apreciação de natureza política, de responsabilidade. A situação está identificada, claramente, sobre isso não tenho dúvidas. Por exemplo, aquando da assembleia-geral do BES, que teve inicialmente marcada para fazer um aumento de capital e afastar a administração de Ricardo Salgado, podia tê-lo feito, estava na ordem de trabalhos, mas optou por, a pedido de Ricardo Salgado, recuar nessa intenção para prosseguir o aumento de capital e os novos acionistas decidirem sobre os órgãos sociais. Foi uma opção claramente errada, como se viu pelo resultado. São casos muito concretos.
As conclusões serão enviadas para o Ministério Público. Acredita que poderá haver matéria para uma investigação mais ampla?
Não me cabe a mim fazer essa apreciação, é uma apreciação que cabe ao Ministério Público. Agora, que há um conjunto de factos que podia haver outra atitude e não houve, foi uma opção do regulador na altura, com prejuízo para o sistema bancário e financeiro português e para o muito que temos vindo a trabalhar para a sua reabilitação. Um sistema financeiro e bancário deficiente tem sempre custos para a economia.
Está a referir-se aos tempos dos governadores Vítor Constâncio e Carlos Costa?
Estou a referir-me essencialmente a um período que vem desde 2005 até 2014. Nesse período houve a presidência do conselho de administração do Novo Banco a cargo dos governadores Vítor Constância e Carlos Costa e das respetivas equipas.