20 set, 2021 - 10:55 • João Cunha , Filipe d'Avillez
A CGTP reage com indignação às declarações de António Costa sobre o enceramento da refinaria da Galp em Matosinhos. O líder socialista criticou o despedimento de centenas de trabalhadores e disse mesmo que a empresa precisa de uma lição.
Isabel Camarinha não deixou passar em claro estas declarações, que classifica como vergonhosas. “Quando ouvi as palavras do primeiro-ministro pensei que não estava a ouvir a mesma pessoa, porque eu tinha ouvido o primeiro-ministro, não há muito tempo, a dizer que era um problema mas que tinha de acontecer, que era normal, e agora vem dizer que, afinal, a GALP portou-se mal e não cumpriu com tudo o que devia ter cumprido.”
"É uma vergonha. Desde o início deste processo que a CGTP e os sindicatos que representam os trabalhadores da refinaria de Matosinhos têm denunciado o crime que constitui o encerramento daquela refinaria, não só pela destruição daquele número enorme de postos de trabalho, mais de 1.500, como para a economia local e para a economia nacional", acrescenta.
Camarinha acusa Costa de se contradizer. "Agora, vem o primeiro-ministro dizer que realmente aquilo prejudica muito a economia nacional, quando disse o seu contrário, não há muitos meses atrás. É vergonhoso e o Governo devia ter vergonha de fazer afirmações destas quando não fez nada para impedir que a refinaria de Matosinhos encerrasse."
A sindicalista diz que a situação é incompreensível, e dá outros exemplos. "Não se compreende. Nem nesta situação, nem em outras. Aqui em Santa Iria da Azóia está a encerrar a produção da empresa Saint Gobain Sekurit, que é a única empresa do país que produz vidros para veículos automóveis. Sem que o Governo mexa uma palha. Portanto, há que alterar esta postura e alterar estas opções do Governo – e não vir apenas em período de campanha eleitoral dizer coisas que agradam eventualmente em alguns. É preciso agir para que essas coisas aconteçam”.
Isabel Camarinha falou com a Renascença esta segunda-feira em Santa Iria da Azóia, à margem de uma ação relacionada com a greve dos transportadores privados.
No domingo, numa ação de campanha para as eleições autárquicas, em Matosinhos, António Costa considerou que "era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade" como a Galp demonstrou no encerramento da refinaria de Matosinhos, prometendo uma "lição exemplar" à empresa.
O primeiro-ministro deixou críticas ao encerramento da refinaria no distrito do Porto, na sequência da decisão da Galp de concentrar as operações em Sines, acusando a empresa de deixar "um enorme passivo ambiental de solos contaminados".
Considerando que o processo da empresa em Matosinhos constitui "um exemplo de escola de tudo aquilo que não deve ser feito por uma empresa que seja uma empresa responsável", o também primeiro-ministro elencou três dimensões que testemunham a irresponsabilidade e a insensibilidade da Galp.
Questionada pela Lusa sobre as declarações de António Costa, fonte oficial da empresa disse que "a Galp não tem comentários sobre as declarações do senhor primeiro-ministro".