27 out, 2021 - 11:10 • Ana Carrilho
A evolução da pandemia, os apoios e incentivos fiscais adotados pelos governos, a existência de vacinas e os processos de vacinação têm um forte impacto no mercado laboral. E deixam a nu um aprofundamento das desigualdades entre países ricos, de rendimento médio-baixo e pobres. Fatores que também determinam a velocidade de recuperação das economias, alerta a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Os desequilíbrios poderiam, na opinião da organização liderada por Guy Ryder, ser resolvidos de forma rápida e eficaz através de uma maior solidariedade global na distribuição das vacinas contra a doença.
Uma recuperação “estagnada” das horas trabalhadas – é assim que a OIT vê a situação em 2021. Estima-se que o total fique significativamente abaixo do registo do último trimestre de 2019, antes do início do período pandémico.
O documento aponta para uma queda de 4,5%, o que resulta no equivalente à perda de 131 milhões de postos de trabalho. Bem mais do que os 3,5% estimados em junho e que já significavam 100 milhões de empregos a tempo inteiro perdidos.
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No entanto, há grandes diferenças entre as regiões e os países do mundo. A Europa e a Ásia foram as regiões que registaram menor perda de horas em relação ao período pré-pandémico. África, Américas e os Estados Árabes registaram os maiores declínios.
As desigualdades reveladas mantêm-se em tempos de recuperação: enquanto nos países ricos, neste ano, já se assiste a alguma retoma, nos países pobres, as perdas continuam a ser enormes.
Por outro lado, alargou-se o fosso nos níveis de produtividade conseguidos nos países com alto nível económico e os pobres: nos primeiros, a produtividade média/hora dos trabalhadores era, em 2020, 17,5 vezes a dos trabalhadores com baixo nível de vida; neste ano, passou para 18 vezes.
O relatório da OIT agora conhecido e intitulado “Covid-19 e o mundo do trabalho” confirma também que a pandemia atingiu mais fortemente os trabalhadores com menos qualificações, com trabalho informal ou precário e especialmente jovens e mulheres. E são estes grupos que, também em fase de recuperação, sentem maiores dificuldades em regressar ao mercado de trabalho.
Os apoios e incentivos fiscais são determinantes para a recuperação das economias: a OIT estima que um incentivo equivalente a 1% do PIB no 1.º trimestre deste ano possa aumentar as horas trabalhadas em 0,3% em relação aos últimos três meses de 2019.
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Cerca de um terço da população mundial (34,5%) já tinha completado a vacinação no início de outubro. Mas, mais uma vez, a visão global não consegue esconder as diferenças significativas: nos países ricos, a média de população vacinada atingia praticamente os 60%; nos países de rendimento médio-baixo nem sequer atingia os 15% e, nos pobres, especialmente em África, cifrava-se em 1,6%.
A vacinação tem efeitos no mercado de trabalho, já que à medida que o número pessoas vacinadas aumenta, as restrições diminuem e torna-se mais fácil retomar a atividade em condições próximas das pré-pandémicas, com todos os efeitos económicos e sociais que daí advêm.
O documento da OIT refere que no segundo trimestre deste ano, por cada 14 pessoas com a vacinação completa, acrescentou-se ao mercado de trabalho global o equivalente a um posto de trabalho a tempo inteiro.
No entender da Organização Internacional do Trabalho, a vacinação é um dos fatores-chave na recuperação do mercado de trabalho. Defende, por isso, que os desequilíbrios existentes entre países e regiões podem ser rápida e eficazmente resolvidos com uma maior solidariedade global na distribuição de vacinas contra a Covid-19.