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O que é que aprendemos sobre teletrabalho na pandemia?

05 nov, 2021 - 08:30 • Daniela Espírito Santo

Especialistas debruçaram-se sobre as vantagens e desafios dos novos modelos de trabalho na Web Summit. Em Portugal, as alterações ao teletrabalho serão alvo de votação final global pelo Parlamento, esta sexta-feira.

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O teletrabalho foi um dos assuntos "quentes" da Web Summit 2021, em Lisboa, esta semana. Exponenciado pela pandemia, o fenómeno é definido por muitos como o futuro do trabalho, mas outros não têm tantas certezas e levantam problemas criados por esta nova realidade (que vai ser alvo de alterações em Portugal, votadas no Parlamento esta sexta-feira).

Num dos inúmeros paineis sobre o tema, Stefano Scarpetta, diretor da OCDE para o Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais, diz que "ainda estamos longe de perceber de que forma o trabalho mudou com a pandemia", mas admite que "o trabalho se intensificou" e estima que "25% das horas de trabalho serão executadas a partir de casa após a pandemia". "Isto vai trazer mudanças sociais", adverte. "Temos de garantir que estamos em casa e temos tempo para a nossa vida normal e estar com os nossos filhos. Temos de proteger isso", diz.

Trabalhar a partir de casa não foi uma experiência igual para todos. "Há dados que revelam que 79% dos homens consideraram positivo trabalhar a partir de casa. No caso das mulheres, esse número não chega aos 40%", começa por explicar Kristin Luck, da Esomar (sociedade europeia de pesquisa de opinião), num painel onde se defendeu que o trabalho remoto precisa de ser repensado.

"Muitas mulheres abandonaram o mercado de trabalho na pandemia. Muitas têm na casa um 'trabalho' part time considerável...Olhando para isso, é natural que muitas desistam", relembra. "Isto afeta a economia mundial e retira milhões e milhões de euros do PIB mundial", adianta.

Se o futuro do trabalho passa por casa, agora, mais do que nunca, "precisamos de empregos mais flexíveis, de apostar em licenças de maternidade", diz Kristen. "São tudo medidas que ajudam os homens a serem parceiros iguais e beneficiam homens e mulheres".

Adotar modelos híbridos pode ser solução

Mas nem todos os trabalhos são iguais e convém relembrar tal facto: o teletrabalho poderá ser uma realidade para quem tem um trabalho menos mecânico. O truque é não usar as mesmas fórmulas em todas as indústrias.

"Colocar trabalhadores de conhecimento a trabalhar com o modelo mecânico... em que vamos para o mesmo escritório, temos um manager, etc... não funciona. Este modelo nunca mudou e é uma forma errada de trabalhar", defende Kristin Luck. "Quando pensamos em trabalho remoto temos de diferenciar de teletrabalho. Trabalhar remotamente implica proporcionar condições de trabalho bem pensadas", diz.

A palavra chave acaba por ser flexibilidade. "Podemos adotar modelos híbridos", em que equipas de trabalho se encontram fisicamente de vez em quando, defende Jeremy Johnson, da Andela, uma empresa que faz a ponte entre empresas e programadores e que viu uma "mudança dramática" na procura de talento a nível internacional. "Agora que estamos todos mais confortáveis com o trabalho não presencial, as empresas querem contratar as melhores pessoas do mercado", exemplifica. Caíram as barreiras geográficas, "os salários aumentaram nos mercados emergentes", mas precisamos de rever o que fazemos quanto a esta nova maneira de trabalhar sem necessitar de estar no mesmo espaço.

" As pessoas não precisam de estar em frente a uma câmara constantemente. As videochamadas são cansativas. Peguemos no telefone e falemos enquanto damos uma caminhada. Podemos ter conversas mais ativas", orienta.

Maioria não teve o luxo de trabalhar de casa

Já o presidente da Microsoft, Brad Smith, não tem tantas certezas quanto a uma fórmula vencedora neste novo paradigma e defende que o futuro do trabalho não será igual para todos. "Não há previsões grandiosas. O meu futuro vai ser diferente do teu porque todos precisamos de coisas diferentes. O papel das empresas será dar aos trabalhadores essas opções para poderem trabalhar de formas diferentes porque as pessoas são diferentes e querem trabalhar de formas diferentes".

O teletrabalho foi, para Brad, a solução possível num cenário que nos apanhou desprevenidos. Mas podia ter sido pior. "Ainda bem que isto aconteceu em 2020 e não em 2010", brincou, ao salientar que, hoje em dia, estamos mais conectados e "temos mais flexibilidade para trabalhar de diferentes formas. Aprendemos a usar a tecnologia para trabalhar".

"Foi mais fácil mandar pessoas para casa do que está a ser trazê-las de volta", admite. Apesar disso, Brad defende que este não é um modelo que funcione em todas as áreas laborais. "Nós que trabalhamos na tecnologia somos uma minoria na economia. A maioria dos trabalhadores não teve o luxo de trabalhar de casa", relembrou.

Vários foram os paineis na Web Summit em que essa chamada de atenção foi feita: metade do mundo ainda está 'offline', pelo que pensar no teletrabalho desta forma é privilégio.

"Finalmente as pessoas estão a aperceber-se que metade do mundo é excluído de tudo o que estamos a fazer aqui por falta de conectividade", salientou Sonia Jorge, diretora executiva da Fundação World Wide Web. "Com a pandemia percebemos que temos todos a responsabilidade de resolver este fosso".

"A pandemia veio, mais uma vez, revelar as desigualdades e o fosso entre países e, também, dentro dos próprios países", acrescentou Stefano Scarpetta, diretor da OCDE para o Emprego, Trabalho e Assuntos Sociais. Trabalhar remotamente pode ser positivo... se conseguirmos estar online.

As alterações ao teletrabalho em Portugal serão alvo de votação final global pelo parlamento, esta sexta-feira.

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