09 nov, 2016 - 20:31 • Matilde Torres Pereira
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O segundo dia da Web Summit arrancou sob uma espécie de nuvem negra. Não havia como esconder: a maioria dos visitantes não esperava a acordar com a notícia de que o próximo Presidente do Estados Unidos é Donald Trump.
Apesar do anunciado “funeral da ordem mundial do Ocidente” preconizado por um jornalista do “Daily Beast” no palco principal, não foi nada que demovesse o director de segurança do Facebook, Alex Stamos, de arrancar com as palestras do dia com o à vontade de quem já tem quilómetros disto. E “isto”, leia-se, é falar perante audiências de mais de 15 mil pessoas.
Stamos veio lembrar que o paradigma “utilizador/palavra-passe” que utilizamos para aceder às plataformas “online” foi inventado nos anos 1970 e que não foi construído para ter em conta as especificidades do século XXI. O futuro é a autenticação em dois passos, através de um código ou aplicação, e mesmo a criação de “apps” que se defendem a si próprias. Entre empresas quer-se a partilha de fontes de ameaça e para isso o Facebook criou a sua própria aplicação: a Thread Exchange, utilizada hoje por mais de 450 empresas.
Seguiu-se um painel repleto de previsões sobre um suposto apocalipse pós-Trump, mas depois de uma conversa bem pesada, foi a vez de relaxar graças a um senhor já com uma certa idade, vestido de blazer, que veio abrir as mentes dos participantes com a sua visão dos “filmes no futuro”. Por filmes, entenda-se película. William Sargent, da Framestore, mostrou um excerto do filme “Gravidade” (“Gravity”) inteiramente produzido com a tecnologia CGI, responsável pelos efeitos especiais nas produções hoje feitas para o grande ecrã.
A magia chegou ao Meo Arena com um muito bem recebido aperitivo do novo filme do universo Harry Potter - “Fantastic Beasts and Where to Find Them”, e a música que encheu o pavilhão foi um bálsamo para quem se encontrava na plateia.
Falhas na Net, mas muitos gatinhos para compensar
Mais tarde, a rede de internet sem fios quis desmentir quem deu os parabéns pelo bom funcionamento do wifi. Vários jornalistas estrangeiros e nacionais na sala de imprensa “bufavam” pela má ligação e durante a tarde foi quase impossível aceder às redes do evento.
Falha técnicas à parte, esta quarta-feira foi o dia em que a Web Summit entrou nitidamente em velocidade cruzeiro. Os “pitchers” fizeram os seus “pitches”, os distribuidores de panfletos descobriram os melhores locais para trabalhar e até o robô dos cafés se tornou presença banal nos corredores da FIL. O que não quer dizer que não tenha havido surpresas.
Nas conferências da tarde, Alexis Ohanian, da plataforma Reddit (uma gigantesca comunidade “online”), deu uma palestra sobre a “front page of the internet” (a capa da internet) que teve direito a fotografias de infância, gatinhos e até confissões “do coração”. Ohanian avisou à saída: “Vou ilustrar todas as minhas emoções durante esta palestra com fotografias de gatos. Afinal, estamos a falar do Reddit!”.
Risos da plateia, das mais concorridas do evento, e depois o contexto: o número de homens e mulheres que utilizam esta plataforma está ela por ela, mas a revelação é que 87% dos utilizadores têm menos de 35 anos – os “millenials” dominam. E quanto à fotografia de infância? “Riam-se, riam-se”, brincou Ohanian, com a sua imagem com cerca de 13 anos a abraçar um cãozinho e um corte de cabelo “à tigela” a aparecer no ecrã – “algures no mundo há um ‘hipster a tornar ‘cool’ este penteado”.
A essência, para o Reddit, é perceber que os últimos anos na internet foram um “cocktail” e que só agora “nos estamos a sentar à mesa para a verdadeira refeição”. As pessoas estão fartas de dizer aquilo que almoçaram, e como se sentem, e estão “cheias de fome” pela sinceridade, por algo real e verdadeiro, disse. “Vejam”, exemplificou, “até um ensaio de seis parágrafos sobre um colchão foi capaz de gerar milhões em receita” no Reddit.
É a receita para o sucesso para Alexis Ohanian: as pessoas querem “cenas reais”. Será que acabou a era dos pezinhos na areia no Instagram?
Não alimentem os “trolls”
Para acabar, um apontamento sobre a palestra da HiTRecord e da Second Life no palco “Content Makers”.
Além do nível das meias dos oradores estar em altas – não há ninguém que não apresente inovação no que toca a peúgas, ricas em bolinhas, riscas, cores berrantes – falou-se em comunidade “versus” multidões e na necessidade de haver mais plataformas para realçar a bondade entre pessoas e menos ódio parte a parte.
A conversa ficou a cargo do actor Joseph Gordon-Levitt e da sua colaboradora Sarah Levy, artista multifacetada, e ainda de Ebbe Altberg, criador do Second Life e actual CEO da Linden Lab. Ficou patente que qualquer evento com “JGL”, como é apelidado pela imprensa, enche, e até houve quem ficasse sentado no chão frente ao palco.
A mensagem principal? “Don’t feed the trolls”. Ou seja, não alimentem os "trolls", seres virtuais que têm especial prazer em arreliar outros seres virtuais, em caixas de comentários, fóruns e redes sociais. Já chega os que existem na vida real.