20 dez, 2021 - 14:27 • Sandra Afonso
A avaliação das casas pode mudar e juros vão começar a subir. São alertas deixados esta segunda-feira pelo Banco de Portugal no Relatório da Estabilidade Financeira de 2021. O supervisor antecipa a deterioração da qualidade dos ativos e a concretização dos riscos de crédito.
A instituição liderada por Mário Centeno está preocupada com o médio prazo, devido às incertezas que decorrem da pandemia e a “acumulação de vulnerabilidades”, porque “os efeitos da pandemia não estão ultrapassados, nem integralmente materializados, sendo ainda incerta a sua extensão total”.
Entre os principais riscos para a estabilidade financeira estão: a reavaliação dos prémios de risco, devido à incerteza sobre a evolução da inflação e à reação das autoridades monetárias; alterações nas condições de financiamento nos mercados internacionais, com impacto nos preços da habitação e no financiamento do país; eventuais perturbações da atividade das empresas, com impacto no cumprimento do crédito, sobretudo nas mais afetadas pela Covid-19.
O Banco de Portugal alerta ainda para a possibilidade de as famílias ficarem com menos rendimento disponível. Um risco, dado o aumento do endividamento dos particulares, sobretudo, através do crédito à habitação, o que os deixa mais vulneráveis a situações de desemprego.
Fica em aberto uma intervenção, mas o supervisor não concretiza de que forma: “O Banco de Portugal poderá tomar medidas macroprudenciais dirigidas à mitigação da potencial acumulação de risco sistémico em alguns setores”, avisa o supervisor.
A banca é aconselhada a registar de forma adequada as imparidades para o crédito, para prevenir a deterioração da qualidade dos ativos e materialização dos riscos, com a subida das taxas de juro de longo prazo. Uma situação que terá também impacto na dívida pública.
O Banco de Portugal admite que a subida da inflação pode ser mais persistente do que se esperava, o que deverá dificultar o financiamento do país nos mercados internacionais. Por isso, Mário Centeno avisa já o Governo que ganhar as eleições de janeiro, que é preciso diminuir a dívida: “terá dois a três anos” para equilibrar as contas.
Apesar do impacto negativo no crédito, a banca pode beneficiar com o aumento dos juros. O governador do Banco de Portugal não se compromete, para já, com uma conclusão sobre o impacto da medida no setor.
O relatório da estabilidade financeira destaca ainda os desafios dos bancos associados ao processo de digitalização, nomeadamente, a cibersegurança e a transição para uma economia sustentável.
Mário Centeno diz que o risco de incumprimento com o fim das moratórias está "mais controlado que o esperado inicialmente", segundo o reporte dos bancos. Mas o supervisor alerta que o impacto pode não ser imediato.
Além da incerteza sobre a evolução da pandemia, os riscos não se materializam ao mesmo ritmo que a pandemia. As últimas moratórias terminam no final do ano e eventuais consequências, como o aumento do malparado, só deverão ser visíveis mais tarde.
Para já existe um “sentimento generalizado bastante positivo, dentro da cautela”. Segundo o governador, não se antecipa “de forma imediata”, problemas significativos para os bancos.
Segundo o relatório divulgado esta segunda-feira, o setor dos particulares demonstrou mais resiliência na saída das moratórias. Já as empresas, sobretudo as dos setores mais vulneráveis, poderão apresentar “mais dificuldades com o retomar do serviço da dívida”.
O governador ressalva que “os dados disponíveis não permitem ainda determinar o impacto do final da moratória na qualidade dos ativos do sistema bancário”. A informação preliminar “não sugere uma deterioração significativa da qualidade dos empréstimos que beneficiaram de moratória”.
No final de outubro ainda estavam ativas moratórias de crédito no valor de 3,2 mil milhões de euros.