10 fev, 2022 - 18:50 • Teresa Paula Costa
A associação ambientalista ZERO pediu, esta quinta-feira, uma estratégia nacional para aumentar o consumo de leguminosas.
Citando dados do Instituto Nacional de estatística (INE), a organização ambientalista indica que “Portugal aumentou o consumo de leguminosas secas na última década para valores de consumo per capita próximos dos registados em meados dos anos 90, o que é muito positivo”.
No entanto, segundo a ZERO, “o grau de autoaprovisionamento (produção nacional face ao consumo) das principais leguminosas secas é estimado pelo INE em apenas 18% para o ano de 2020.”
Apesar de reconhecer que houve, nos últimos 10 anos, “um aumento da área cultivada em mais de 40%”, a ZERO lembra, e critica, que "as terras mais produtivas são utilizadas sobretudo na alimentação animal e em culturas permanentes industriais”.
“As terras mais capazes de produzir os principais alimentos que consumimos sofreram um decréscimo de 11,6% num período de 10 anos, com cerca de dois terços das mesmas a serem encaminhadas para culturas forrageiras e prados temporários que abastecem o incremento dos efetivos pecuários, principalmente bovinos e suínos”, denunciam os ambientalistas, a partir dos números do INE.
Mesmo assim, “as necessidades da pecuária continuam a não ser satisfeitas, havendo que recorrer a importações de mais de um milhão de toneladas de soja e acima de dois milhões de toneladas de milho”.
A ZERO alerta que “Portugal depende da importação de 77 mil toneladas de leguminosas secas, quando poderia ser autossuficiente.”
Por outro lado, embora “o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PAC), submetido por Portugal à Comissão Europeia no final de 2021” contemple “um apoio associado ao cultivo de proteaginosas”, “os apoios ficam muito aquém do que é desejável”, porque “abrangem uma área inferior à área declarada para as principais leguminosas em 2020” pelo Instituto de Financiamento de Agricultura e Pescas (IFAP) e “não existem medidas específicas para a construção de cadeias de valor para a comercialização e produtos derivados.”
A associação releva ainda que “as leguminosas podem ser centrais no cumprimento das metas da Estratégia do Prado ao Prato, sobretudo a redução em 20% do uso de fertilizantes e em 50% da perda de nutrientes”, enquanto que “a pecuária intensiva contribui de forma significativa para as alterações climáticas, para a degradação dos recursos hídricos e da biodiversidade.”
Deste modo, a ZERO volta apelar para “a importância de uma estratégia nacional para as leguminosas num quadro de transição ecológica justa do sistema alimentar, reconhecendo o contributo que poderão ter estas espécies vegetais para o equilíbrio ambiental, para saúde humana e para a resiliência dos sistemas agrícolas nacionais.”
Para a Ordem dos Nutricionistas, é preciso apostar na produção “com técnicas sustentáveis”, já que “Portugal importa quase 80% das leguminosas que consome”.
Mas, mais do que uma estratégia para o cultivo, é preciso sensibilizar a população para a importância das leguminosas na nossa alimentação.
Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas, diz que “os portugueses consomem metade da quantidade de leguminosas que deveriam consumir” e “consomem três vezes mais carne” do que produtos de origem vegetal. “Uma tendência que temos de inverter”, alerta a bastonária, “não só pelo valor nutricional do alimento, mas também pelas questões da sustentabilidade.”
A bastonária garante que “ao longo das últimas décadas, o consumo tem vindo a descer”, ao contrário do que afirma a associação ZERO. Isto apesar do aumento de pessoas que optam por regimes baseados em produtos de origem vegetal, pois “a percentagem delas ainda não é suficiente para fazer face ao aumento do consumo das leguminosas”, representando apenas “1,2% da população”.
Alexandra Bento ressalva, contudo, que “o padrão que devemos querer para a população portuguesa é a dieta mediterrânica.” Hábitos que devem ser introduzidos logo em “tenra idade”.
E não é difícil, desmistifica a nutricionista. “Basta assegurar que as leguminosas estejam sempre presentes na nossa sopa”, conclui.