20 mar, 2022 - 19:13 • Ana Carrilho
Depois de dois anos de confinamento e restrições devido á pandemia de Covid-19, os turistas estão a voltar a Portugal. Ainda não de todos os países e de mercados importantes para a receita turística, como o americano, o canadiano ou o asiático. Os portugueses também querem “arejar”. E se alguns escolhem destinos paradisíacos e mais longínquos, a maior parte fica em Portugal, a descobrir ou redescobrir o país.
Apesar do conflito na Ucrânia, que gera incerteza, maior insegurança e o inevitável aumento de preços, a Páscoa promete ser o primeiro grande momento da retoma da atividade turística no país, rumo aos resultados obtidos em 2019 (melhor ano turístico de sempre) ou até melhores, que poderão ser atingidos já o próximo ano.
Sem descurarem o impacto que a guerra pode ter, os responsáveis de quatro entidades regionais de turismo, que marcaram presença na BTL, mostraram-se satisfeitos com as reservas que estão a ser feitas, já para a Páscoa e mesmo para o verão.
Na Páscoa, o Alentejo está cheio
É com visível satisfação que o presidente da Entidade Regional do Turismo do Alentejo e Ribatejo diz que as reservas “estão muito boas”, especialmente para a Páscoa, mas também já para o verão.
Pedro Siza Vieira indica que "as reservas para Por(...)
No entanto, em entrevista à Renascença, Vítor Silva faz questão de frisar que o Alentejo começou a recuperar já o ano passado. “Chegámos ao fim de 2021 com uma quebra de dormidas de apenas 20% em relação a 2019 e em termos de proveitos só temos de recuperar 12%. Nos últimos dois anos, os preços subiram muito, especialmente no turismo rural. No verão, um destes alojamentos podia valer mais do que um hotel de 5 estrelas em Lisboa”.
O presidente da ERT admite que são os turistas de gama média-alta que mais procuram o Alentejo, mas recusa a ideia de ser um destino “proibido” para a bolsa dos portugueses. “Há de tudo, mas não temos preços ao nível da chamada ‘uva mijona’. Não temos nem queremos ter; posicionamo-nos pela qualidade e a qualidade, paga-se”.
Realça o facto de esta ser a região onde o peso do turismo interno é maior (e acentuou-se durante a pandemia). “O Alentejo é uma marca nacional, mas estamos a fazer caminho para aumentar a importância do mercado internacional, especialmente, o que significa valor acrescentado.
O mercado estrangeiro mais importante para a região é o espanhol (20%) mas Vítor Silva sublinha que não há dependência de nenhum em particular. Em receita turística, os mercados brasileiros, alemão e norte-americanos eram os melhores antes da pandemia. “Agora temos de recuperar esses mercados” adianta Vítor, Siva que revela
também interesse em apostar num novo mercado: o nórdico, “com mutos seniores, muito poder de compra e muita saúde”.
Confrontado com a incerteza que o conflito Rússia -Ucrânia pode ter no turismo nacional, Vítor Silva admite que vai ter algum impacto. “Não pelos russos que vêm para o Alentejo, que são muito poucos. Mas porque sobem os preços dos transportes aéreos, matérias-primas, bens alimentares. E como as pessoas não vão ter um acompanhamento salarial que compense essa subida, sobra menos para viajar. Além disso, um fator psicológico, como a insegurança, faz com que as pessoas viagem menos.
Abrangendo uma centena de concelhos, do Litoral ao Interior, o Turismo do Centro não abranda na divulgação e promoção das múltiplas ofertas que existem na Região, para todos os gostos, idades, interesses e pode de compra.
A pandemia fez grandes “estragos”, nomeadamente em Fátima, que depende quase exclusivamente do Turismo Religioso. Com o alívio das restrições, peregrinos e turistas de vários países começam a regressar, embora ainda faltem os de mercados decisivos, como o americano e asiático e até brasileiro.
Dando força a este destino, a AHP - Associação da Hotelaria de Portugal – decidiu que o seu próximo congresso, a realizar em novembro, será em Fátima. Em entrevista à Renascença, o presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado frisou a importância de captar o máximo de eventos e congressos em particular, “não só porque mobilizam muita gente que fica pelo menos 2-3 noites, mas promovem interação com os territórios e com produtos turísticos. E, realizados em época baixa, são bons para alavancar o negócio turístico”.
O facto de Aveiro ser uma das quatro finalistas a Capital Europeia da Cultura 2027, para Pedro Machado, “é uma camada que acrescenta valor, porque a Cultura é o que justifica parte da nossa atividade, dando mais visibilidade e reposicionando o Centro de Portugal. Aveiro tem um projeto muito ambicioso, que implica um investimento de 110 milhões de euros para os próximos anos, 50 milhões destinados a uma fortíssima programação cultural”.
Além da grande diversidade de oferta que já existe, o Turismo do Centro está a apostar na estruturação de novos produtos, em convergência com a Estratégia do Turismo de Portugal e a marca “Portugal”: Turismo Desportivo, Ecoturismo, Turismo Cultural, Arte Urbana, Turismo Religioso (Fátima e rota da herança judaica), Turismo Industrial. “Estamos a alargar a paleta de 10-12 produtos consagrados no Plano Estratégico para o Turismo”, diz Pedro Machado.
Admitindo que nunca é bom falar de pandemia, o presidente do Turismo do Centro, fria que acabou por potenciar a tendência de viagens mais curtas, em família ou grupos pequenos, em veículo próprio, muito à procura do ar livre e do contacto com a Natureza, “características do centro de Portugal”.
Apesar de alguma incerteza provocada pela guerra, Pedro machado diz acreditar que “a Páscoa de 2022, mais tardia, pode representar o volte-face numa curva descendente, para a normalização e depois ascendente, para a indústria do turismo.
Além do mercado nacional, os mercados ligados ao turismo religioso são decisivos para a Região. Os que têm capacidade de crescimento são o dos Estados Unidos, Canadá e Ásia.
“Já estamos a ter uma boa procura, a partir deste mês e até maio, para o golfe, para o Turismo de Natureza, atividades náuticas e de ar livre. E as perspetivas para a Páscoa também são animadoras. Vamos ter uma retoma interessante”, diz João Fernandes, presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve, em entrevista à Renascença.
Ainda assim, não esquece “a dúvida que perpassa sobre qual será o impacto deste flagelo na Ucrânia nesta indústria da paz, que é o turismo”. E João Fernandes sublinha que já se sente no aumento de preços dos bens e serviços essenciais que são fornecidos à cadeia de valor do turismo. “Já o antevemos sobretudo em relação a países limítrofes do conflito, como a Finlândia, Suécia e Polónia, que são nossos mercados emissores.
Há um bom nível de reservas e a bom preço para os períodos vindouros (Páscoa e verão) e podemos falar em retoma. Mas o presidente da Região de Turismo do Algarve lembra que só há certezas quando as reservas se efetivarem. Com a pandemia, as regras foram flexibilizadas e o consumidor pode cancelar quase em cima da hora, sem custos, “o que quer dizer que até à concretização, há um fator de incerteza que não havia num ano normal”.
Por causa do conflito, já não se vai efetivar a operação com a Sky Up e que traria de Kiev para o Algarve cerca de 9.400 turistas ucranianos, entre os meses de junho a outubro.
“Era mais um esforço para diversificar os mercados emissores, embora não tenha nada a ver com a realidade dos grandes mercados do Reino Unido, Alemanha, Holanda, Irlanda ou França. É um exercício que fazemos há vários anos, com resultados positivos, para reduzir o peso relativo desses mercados”.
João Fernandes diz que entre 2014 e 2019, a parte do Reino Unido baixou de 43 para 37% nas dormidas dos estrangeiros, sem, no entanto, que isso significasse menos britânicos. “Os outros é que cresceram muito mais: os principais mercados subiram 15% e os outros, 73%. É o que temos de fazer para não ficar à mercê da volatilidade de um mercado, para conseguir procura fora da época alta e gerar procura noutros segmentos, mesmo nos mercados tradicionais, sem a indexar ao calendário da época balnear”.
Para 2023, o responsável do turismo algarvio, espera que a retoma esteja concluída e que se tenham recuperado todas ligações aéreas que existiam em 2019. Quanto a este
ano, a expetativa é que no verão IATA (de março até ao fim de outubro) os cinco principais operadores (Ryanair, Easyjet, Jet Tur, Transavia e British Airways) retomem a atividade “a 99%” e cerca de 88% das ligações para os cinco maiores mercados, além de Espanha, em que o transporte aéreo não é tão significativo.
Turismo
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Além disso, vai ser restabelecida – ainda este ano – a ligação de Toronto para Faro e João Fernandes espera que, no próximo ano, se concretizem as ligações aos Estados Unidos e ao Brasil, “porque são mercados emergentes muitos importantes para o Algarve”.
Apesar da pandemia, o Secretário Regional de Turismo da Madeira, Eduardo Jesus, faz um balanço positivo. À Renascença, no âmbito da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa – diz que o 1º semestre de 2021 foi muito influenciado pelas restrições, especialmente nos países emissores. Mas o 2º (semestre) “foi francamente bom. Registámos o melhor agosto de que há memória na Madeira e batemos todos os recordes de portugueses (continentais): 340 mil pessoas, responsáveis por um quarto das dormidas. Em 2015, não passava dos 10%, sublinha Eduardo Jesus.
O responsável pelo turismo da Madeira atribui esses bons resultados às regras de segurança sanitária mais restritivas impostas para entrar no arquipélago. “Com essa lógica de destino seguro, criámos crédito para a Madeira, os turistas olham para um destino a reposicionar-se e a corresponder às preocupações das pessoas”.
A aposta deste ano na BTL foi a de trazer “uma Madeira muito sensorial”, através da gastronomia e de experiências alusivas ao Porto Santo, Floresta Laurissilva, à montanha e ao mar. Quem passou pelo stand podia entrar nestes espaços, visualizar, cheirar e ouvir sons alusivos a estas realidades. “É uma forma de conquistar o coração das pessoas e isto acontece na sequência do lançamento da marca Madeira, que tem associado a si um sentimento de pertença. Queremos que todas as pessoas que visitam a Madeira, a tragam consigo como se fizesse parte delas”.
Sem a vinda de turistas estrangeiros, o verão fez-(...)
Na lógica de diversificação de mercados, o propósito de 2020 era captar os Estados Unidos e Brasil. A pandemia travou a hipótese que Eduardo Jesus quer retomar agora, acrescentando o Canadá.
Nessa altura, a Madeira virou-se para a Europa Central e segundo o Secretário Regional de Turismo, esse conjunto de 8-9 países chegou a representar 8% do turismo na ilha no verão.
A Ucrânia e a Rússia tinham duas operações diretas para o Funchal que, globalmente deveriam significar cerca de 14 mil lugares/ano. “Estas operações estão agora comprometidas, mas dos países vizinhos não estamos a registar cancelamentos. E temos ali uma Polónia que é bem mais importante que a Ucrânia ou a Rússia e que está a evoluir normalmente”.
Apesar dos aspetos negativos associados a uma guerra, Eduardo Jesus refere que “há sempre ameaças e oportunidades. A Madeira está suficientemente longe do conflito, o que permite ser uma opção e uma oportunidade. É nesse sentido que estamos a afirmar a Madeira”.
Em relação às novas ligações para a ilha, Eduardo Jesus diz que pela primeira vez, há uma ligação direta semanal do aeroporto JFK (Noa Iorque) para o Funchal, operada pela SATA, e está a ser negociada outra, do Canadá. “São dois mercados que nos interessam muito, tal como o do Brasil, que esperamos retomar em breve. Ainda não era muito expressivo (cerca de 14.000/ano) mas com potencial de crescimento e de muito valor acrescentado”.