30 mar, 2022 - 16:00 • Ana Carrilho
O presidente da Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal (ADHP), Raul Ribeiro Ferreira, diz à Renascença que o setor ainda está surpreendido com a decisão do governo de fazer o Turismo partilhar a pasta com o Comércio e o Turismo, “desvalorizando um setor tão importante para a economia nacional e que tanto ajudou o país em anos difíceis, nomeadamente depois da crise financeira e da intervenção da Troika”.
O dirigente considera que o primeiro-ministro deu a volta à insatisfação de todos os agentes do sector, “de uma forma astuta”, mantendo Rita Marques à frente da pasta, embora tenha de tomar também conta dos assuntos do Comércio e Serviços.
Ribeiro Ferreira salienta que esse é o lado bom, já que é reconhecida a Rita Marques grande competência e enorme dedicação ao setor, “que demonstrou bem nestes dois anos muito difíceis, de pandemia”.
Estas declarações do presidente da ADHP são feitas em vésperas do Congresso da ADHP, que se reúne entra quinta e sábado em Vila do Conde, com o mote “Atrair Talento, Recuperar o Setor, Planear o Futuro”.
Será perante a Secretária de Estado, acabada de tomar posse e que deverá estar na sessão de abertura do Congresso, que a ADHP vai reafirmar as preocupações com que os hoteleiros, nomeadamente dos diretores de hotéis, se confrontam.
Gerir custos de operação, cada vez mais altos, determinados pelo aumento dos preços da energia, de bens e serviços torna-se cada vez mais complicado. Especialmente quando faltam profissionais qualificados, que tragam mais-valia às unidades e aumentem a sua rentabilidade.
Essa é a nova tendência na hotelaria, diz Raúl Ribeiro Ferreira. “A hotelaria está numa nova fase, em que são os fundos que cada vez mais tomam conta dos hotéis. Isso implica alterações na forma de gestão, que incluem cada vez mais (profissionais) financeiros nas administrações, com o propósito de aumentar a rentabilidade."
“É desse ponto de vista que se olha cada vez mais para Recursos Humanos com qualificações mais elevadas. Esses grandes hotéis e grupos precisam de menos gente, mas mais qualificada, que garantam rentabilidade. Por isso, essas pessoas estão a ser contratadas com vencimentos mais elevados do que o que seria esperado."
Mas também é preciso perceber como se podem reter os novos talentos. E para os mais novos, um bom vencimento já não é suficiente; dão valor a outros fatores, como tempo para conciliar o trabalho com a vida pessoal e familiar, condições de trabalho, possibilidades de continuar a formação. São questões para debate em dois painéis, sobre a Retenção de Talentos em Hospitalidade” e “Formação – necessidades e Inovação.
Uma das questões em debate no segundo dia de trabalhos é o impacto da Agenda do Trabalho Digno na operação hoteleira. Era uma das prioridades do anterior governo que se manteve no programa eleitoral do PS e que, inevitavelmente, deverá avançar com o novo Executivo.
Para Raúl Ribeiro Ferreira, “é um retrocesso na forma como o mercado lida com o Código de Trabalho, há um desequilíbrio entre os direitos dos trabalhadores e os das empresas”. E aponta as novas regras para os contratos a termo ou a dificuldade acrescida em recorrer aos serviços das empresas de trabalho temporário. “São mais dificuldades para as empresas numa fase complicada para o setor do turismo”.
Chegar rapidamente aos níveis de 2019 – o melhor ano turístico – é uma prioridade. Mas a ambição é ir mais longe e o “Planear o Futuro” passa também pela gestão sustentável, a captação de investidores e de eventos corporativos, a contribuição da restauração para o TRevPAR (totalidade das receitas do hotel) ou a prevenção dos ataques cibernéticos, cada vez mais frequentes.
Raul Ribeiro Ferreira admite que boa parte da hotelaria ainda não tem consciência da importância da cibersegurança. Existe nos grandes grupos, mas não nos hotéis independentes. Se é verdade que têm menos informação e dados de clientes também é certo que dispõem de menos meios para se defender e estão mais expostos a ataques.
diz que as diversas organizações ligadas ao Turismo em Portugal não gostaram da decisão de António Costa de juntar, no novo governo, as pastas do Comércio e dos Serviços ao Turismo, numa secretaria de estado partilhada.
Para Ribeiro Ferreira, a opinião é unânime: o primeiro-ministro está a desvalorizar o Turismo, um setor que tanto contributo tem dado à economia do país. O mal menor é o facto de à frente da pasta continuar Rita Marques, que já conhece bem o setor e de quem têm a melhor opinião, nomeadamente pelo trabalho feito durante os dois anos de pandemia.
Em entrevista à Renascença, em vésperas do Congresso da ADHP, que se reúne na quinta e sexta-feira em Vila do Conde, Raul Ribeiro Ferreira diz que “António Costa arranjou uma forma astuta de fazer ‘mea culpa’, ao manter Rita Marques no cargo” e espera transmitir-lhe esssa ideia na sessão de abertura do Congresso, que será também o primeiro ato público da governante no novo ciclo, agora no papel de Secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços.
“Atrair Talento, Recuperar o Setor, Planear o Futuro” é o mote do XVIII Congresso da ADHP – Associação de Diretores de Hotéis de Portugal, que decorre de 31 de março a 2 de abril na Escola Superior de Hotelaria e Turismo, em Vila do Conde.
O presidente, Raul Ribeiro Ferreira,