11 mai, 2022 - 08:00 • Fátima Casanova , Olímpia Mairos
O Governo volta atrás e quer ouvir os parceiros sociais sobre medidas aprovadas em Conselho de Ministros, em outubro do ano passado, e que fizeram com que os patrões abandonassem a Concertação Social.
Em causa está a reposição dos valores pagos, antes da troika, para o trabalho suplementar acima das 120 horas e também o aumento das compensações por despedimento, de 12 para 24 dias.
Em declarações à Renascença, a ministra do Trabalho diz que quer ouvir os parceiros sociais sobre todas as medidas que fazem parte da Agenda para o Trabalho Digno.
“O nosso objetivo é, exatamente, levar à Concertação Social todas as medidas da Agenda do Trabalho Digno, incluindo aquelas que não foram discutidas e não foram apresentadas pelo Governo. E, portanto, é esse o nosso objetivo - ter toda a agenda em discussão e trazer estas medidas”, diz Ana Mendes Godinho.
Destaca que “a própria agenda esteve em consulta pública e, portanto, a nossa vontade é exatamente agora, com os parceiros, procurar finalizar o processo com todas as medidas, ouvir os parceiros, discutir, nomeadamente, até evoluções que possa haver do ponto de vista até que de correções”.
No entender da ministra, é preciso combater a precariedade no mercado laboral, nomeadamente, com medidas de valorização dos jovens e colocando um travão ao recurso ao trabalho temporário.
Parceiros Sociais
Agenda do Trabalho Digno, Acordo para a Competitiv(...)
De acordo com a governante, “a agenda tem uma área muito forte, dedicada: por um lado, a combater o recurso abusivo ao trabalho temporário e também ao trabalho precário e, também, uma dimensão forte do ponto de vista de melhoria da conciliação entre a vida pessoal, o trabalho e a vida familiar”.
“Tem estas componentes grandes, acima de tudo, de medidas muito direcionadas a um trabalho digno e à valorização dos jovens no mercado de trabalho, nomeadamente também com a simplificação do regime dos jovens trabalhadores estudantes, mas, também, da melhoria das regras quanto, por exemplo, aos estágios profissionais”, assinala.
À Renascença, admite que quer fechar este processo o mais depressa possível para que as empresas possam implementar medidas de valorização do trabalho.
“O meu objetivo é imprimir grande celeridade na Agenda do Trabalho Digno para que seja rapidamente implementada, porque é mesmo um imperativo - diria mesmo - da sociedade”, diz a ministra, acrescentando que “os parceiros sociais também estão alinhados neste princípio, naturalmente, cada um com as suas posições”.
“Este é mesmo um imperativo do ponto de vista de resposta aos trabalhadores e aos jovens para darmos este sinal muito forte do ponto de vista de valorização do trabalho digno e da criação de condições para atrairmos e retermos os talentos”, conclui.
Para a reunião da Concertação Social, que tem início marcado para as 10h00, a ministra vai ainda levar para negociação o Acordo para a Competitividade e Rendimentos.
Do lado dos patrões e sindicatos, as expectativas não são muito altas, pois acreditam que apenas se vão definir método e calendário das medidas a negociar. Uma ideia reforçada pelo facto de o Governo, até ao fim da tarde de ontem, não ter enviado qualquer documento às confederações patronais e sindicais.
Segundo o documento entregue à comunicação à entrada, no caso da alteração dos valores de pagamento do trabalho suplementar, a proposta do Governo aponta para o aumento de 25% para 50% no pagamento da primeira hora em dias úteis; a partir da segunda hora, de 37,5% para 75% e nos dias de descanso e feriados, duplica, de 50 para 100%.
Na prática, são retomados valores praticados até 2012, antes da intervenção da troika.
[Notícia atualizada às 11h30 com indicações do documento entregue aos jornalistas no início da reunião]