11 mai, 2022 - 12:34 • Sandra Afonso , Olímpia Mairos
O ex-ministro Paulo Portas alertou, esta manhã, no decorrer do Congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), que a inovação digital choca com as decisões políticas, porque não andam à mesma velocidade.
Depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter apelado à interpelação do Governo sobre a digitalização, Portas recordou que estes são dois mundos distintos, que não seguem a mesma velocidade, sublinhando que a pressão das redes sociais sobre a política é cada vez maior.
“A força e a importância das redes sociais, não digo da internet, das redes sociais, em termos políticos, leva a uma prevalência dos extremos sobre a moderação, leva a uma radicalização que torna difícil o compromisso e é uma espécie de emergência de vanguardas”, disse Paulo Portas.
Segundo o ex-ministro, as redes “acham que vão mudar o mundo amanhã de manhã e o mundo não se muda amanhã de manhã. E essa é, talvez, a contradição política mais relevante entre o digital e a política, é que a ambição do digital é tão veloz como a velocidade que nós vimos no início”.
“A capacidade de transformação do mundo precisa de tempo e há um choque entre estes dois valores”, destacou.
O presidente do congresso da APDC lembrou ainda que a guerra na Ucrânia deverá ter consequências a nível internacional, com a fragmentação do comércio e a subordinação das relações geoeconómicas a blocos geopolíticos.
O risco de empobrecimento deverá acelerar esta pausa na globalização, que não deverá afetar a digitalização.
“É possível que o mundo decida fazer uma certa pausa na globalização do comércio”, disse Portas, alertando que “isto, depois, tem uma consequência sobre o investimento”.
“Mas eu não estou a ver o mundo, ou qualquer Parlamento de qualquer país do mundo, mesmo os mais exóticos, decidirem que acabou a inovação ou proibir a inovação e, portanto, a digitalização fará o seu caminho, independentemente do que aconteça à globalização, e a pausa na globalização também não será demasiado longa, pela simples razão de que, se os países decidirem fechar-se ou fragmentar os mercados, a consequência é que vão empobrecer”, assinalou.
Paulo Portas destacou ainda o movimento em curso nos Estados Unidos, para travar o crescimento das grandes plataformas, que vai acabar por atingir o mercado e a concorrência.
“É um movimento que vai desde a direita do Partido Republicano até a esquerda do Partido Democrata. São 48 estados americanos que colocaram no Tribunal de Concorrência algumas das plataformas”, sinalizou.
“E isto vai ter consequências seja qual for a decisão, que muito provavelmente lembrarão coisas que já aconteceram no passado e que é a necessidade de partir negócio ou deixar lastro e permitir a concorrência que eu acho absolutamente determinante. A melhor coisa da economia de mercado é a concorrência funcionar”, defendeu.