18 mai, 2022 - 16:06 • Sandra Afonso
A guerra e a inflação reduziram o volume da cesta de compras para níveis de há quatro anos. É preciso recuar até 2018 para encontrar um cabaz com o mesmo volume do que está a ser adquirido hoje pelos portugueses.
É a conclusão de um estudo da Kantar para a Centromarca - Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca, que analisa o comportamento do grande consumo no primeiro trimestre de 2022.
De acordo com este trabalho, as cestas diminuíram 2,8% no primeiro trimestre do ano, face ao período homólogo de 2019. Mas além de mais pequenas, estão também mais caras. Os portugueses pagam agora mais por menos produtos. A única excepção é o segmento da higiene e beleza, que mantém a desvalorização iniciada durante a covid.
“Quando se analisa o início deste ano e se compara com o do ano anterior, assiste-se a uma perda inevitável, tanto em valor como em volume, uma vez que no primeiro trimestre de 2021 estávamos confinados. No entanto, quando se compara o primeiro trimestre de 2022 com o homólogo de 2019, verifica-se que as cestas são mais pequenas, mas de maior valor,” explica Marta Santos, da Kantar.
Ainda segundo este estudo, 58% das categorias aumentaram o preço, destas apenas 31% perderam compradores, incluindo categorias básicas como o arroz, azeite e margarinas.
Os jovens parecem ser os mais adaptados. “A frequência de compra mantém-se estável, com os jovens a serem o grupo que mais aumenta a regularidade de compra, como já vinha a acontecer”, acrescenta Marta Santos.
Destaque também para o crescimento contínuo e acelerado das marcas de distribuição. “Neste momento, a quota em valor situa-se nos 41,1%, tendo aumentado 2,3 pontos percentuais (pp) face a 2021 e 5,2 pp relativamente a 2019”. Ainda assim, a procura pelas chamadas marcas brancas já foi maior.
“Em crises anteriores, como na de 2011, o corte de custos em resposta à crise levou a uma maior procura das marcas da distribuição, as quais chegaram a atingir os 37% de quota em valor no primeiro trimestre desse ano, valor que posteriormente decresceu por força da forte ação promocional dos fabricantes”, explica Pedro Pimentel, director-geral da Centromarca.
Hoje há mais concorrência entre marcas brancas, que por sua vez pressionam os fabricantes. “Existe um contexto diferente, com lojas com formatos de sortido curto muito focadas nas suas marcas próprias, ágeis e que conquistaram a confiança de muitos portugueses”, nota Pedro Pimentel.
A procura por marcas brancas é visível em produtos específicos, que têm sofrido expressivos aumentos de preço, como o leite UHT, refrigerantes de fruta ou o azeite (26 em 29 conquistaram quota de mercado).
Continua também a crescer a procura pelos descontos. Aqui, os hiper e supermercados recuperam alguma quota face à perda sentida no pico da pandemia. “Quando a inflação se começa a fazer sentir e a aposta recai mais sobre as marcas de distribuição, também se pensa no local de compra e em como a necessidade de controlar os gastos pode influenciar a escolha da loja”, afirma Pedro Pimentel.
O consumo fora de casa ainda não atingiu os números do período pré-pandemia, a inflação e o facto de muitos portugueses continuarem em teletrabalho ou em formatos híbridos pode dificultar a recuperação do segmento.
“Num momento em que o custo dos produtos está a aumentar, os portugueses terão de fazer escolhas para gerir o seu orçamento familiar mensal e o consumo fora de casa acaba por ser preterido”, aponta Marta Santos.
O consumo online perdeu parte dos consumidores ganhos na pandemia, mas o grau de penetração permanece acima dos números de 2020 (15% vs. 16,8%), essencialmente por causa dos reformados, que continuaram a realizar as suas compras à distância.
“Não obstante o índice de preço ser mais elevado no online, os consumidores que mantiveram os seus atos de compra no canal são agora mais fiéis. Quase 40% repete a compra, as cestas são maiores, ao contrário do que vemos acontecer a nível nacional, e o consumidor do canal online realiza mais atos de compra do que antes”, conclui Pedro Pimentel.