09 jun, 2022 - 18:45 • Sandra Afonso , com redação
O economista Luís Aguiar-Conraria defende que os juros “já deviam estar nos 2 ou 3%”. Aguiar-Conraria reage assim à decisão do Banco Central Europeu (BCE), que sinalizou uma subida no próximo mês.
Segundo o BCE, a taxa de juro de referência deverá aumentar 25 pontos base em julho e pode voltar a subir em setembro.
No entanto, ainda não chega para combater a inflação, avisa Luís Aguiar-Conraria.
“É uma subida ténue, já deviam ter subido mais e parece-me que o Banco Central Europeu continua a atuar como se a inflação fosse baixar por si mesmo. Para combater a inflação o que conta não é verdadeiramente a taxa de juro, é a taxa de juro real, ou seja, a taxa de juro menos a inflação”, refere.
“Se a previsão é de quase 7%, se a taxa de juro subir 0.5, para 1 ou para 2 a taxa de juro continuaria a ser negativa”, explica.
O BCE anunciou ainda o fim da compra de dívida líquida ou ativos, já a partir de julho. Uma má notícia para Portugal, apesar de já ser esperada.
“Tenho mais medo por aí do que pela subida das taxas de juro porque se cortarem de todo com o programa de compra de ativos isso quer dizer que, se por qualquer motivo houver ataque especulativo contra a dívida pública portuguesa que faça subir as taxas de juro de Portugal, que o Banco Central não está lá para nos proteger. Espero que tenham planeado algum mecanismo de substituição para acudir aos países muito endividados caso a situação piore”, acrescenta Luís Aguiar-Conraria.
A presidente do BCE, Christine Lagarde, garantiu esta quinta-feira que o Banco Central Europeu “está comprometido com a prevenção da fragmentação” entre as dívidas nacionais, dadas as diferenças de países periféricos como Portugal.
A reunião de governadores de hoje reviu ainda em baixa o crescimento na Zona Euro e em alta a inflação.
Luís Aguiar-Conraria sublinha que há muito que os números estão ultrapassados, incluindo em Portugal, onde se os preços parassem hoje de aumentar, ficávamos com uma inflação anual de 6,7%.
“Se em Portugal os preços parassem de crescer mesmo assim a inflação seria 6,7%. No Orçamento do Estado está 4%, mas já sabiam que ia ser bem mais”, referiu.