05 ago, 2022 - 19:55 • Sandra Afonso
Os empresários pedem mais apoios contra a subida dos preços. Setores mais afetados, como a cerâmica, o vidro e o têxtil, avisam que há empresas à beira do encerramento e sugerem medidas.
A CIP - Confederação Empresarial de Portugal promete entregar em setembro um conjunto mais completo de propostas ao executivo, porque os que existem são insuficientes.
Numa carta enviada esta sexta-feira aos associados, o presidente da CIP, António Saraiva, questiona ainda os atrasos com que as medidas têm chegado ao terreno.
"Quando tanto se fala em sustentabilidade e resiliência, Portugal tem que ser capaz de encontrar a forma de não perder competitividade, para que as empresas portuguesas não só subsistam, mas invistam e empreguem cada vez mais", diz o “patrão dos patrões”.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), a inflação terá chegado aos 9,1% em julho. O aumento dos preços, juntamente com o impacto da guerra na Ucrânia, “estão a fazer-se sentir aos mais diversos níveis", diz António Saraiva.
"Em vários setores de atividade este brutal aumento da energia torna a produção inviável, não havendo condições para repercutir os novos custos nos preços", alerta.
O tecido empresarial português, que recorre bastante ao crédito e capitais externos, sofre ainda com o aumento dos juros e o arrefecimento económico durante a pandemia.
O presidente da CIP olha para fora e pede o mesmo cá dentro: "temos bem consciência do que está a ser feito em diversos outros países e a forma como a competitividade das empresas está a ser defendida e isso é essencial para a manutenção do tecido empresarial".
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As empresas já têm feito chegar ao Governo, através do Ministério da Economia, várias sugestões de alteração e reforço das medidas que têm sido aprovadas.
É o caso do setor têxtil, que atravessa uma “situação dramática”, com as faturas da energia a aumentarem dez vezes, segundo o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Mário Jorge Machado.
No início do ano as exportações estavam a aumentar, alimentadas pelas encomendas do ano anterior, mas foram travadas com a subida dos preços da energia. “Há muitas encomendas já canceladas, outras estão a ser atrasadas, tentou passar-se parte dos custos para os clientes mas isso acabou por diminuir o volume de negócios, todo o trabalho está em risco”, diz o presidente da ATP.
Há empresas que não conseguem suportar estes custos. Em vez dos atuais 30%, o executivo devia estar a pagar 70% do agravamento da fatura energética, apela Mário Jorge Machado.
O responsável defende ainda que seja retirado o limite neste apoio, que impede ajudas acima de 400 mil euros por empresa.
Para baixar a fatura energética, várias empresas já estão a concentrar a produção em menos dias. No entanto, continuam a pagar a semana completa aos trabalhadores. Esta é outra medida que reivindicam desde o início, um novo layoff simplificado.
O setor têxtil diz que tem encontrado abertura do Governo para reforçar os apoios, mas lembra que a situação é urgente: as empresas não podem esperar muito mais, “começa a ser cada vez mais difícil, com esta sangria em termos de tesouraria para pagar os custos”.
O presidente da ATP fala em “tempestade perfeita” e avisa que, sem novos apoios, as empresas podem ser obrigadas a despedir e encerrar. Para já, nestas declarações à Renascença, dá como certo o aumento das paragens na produção.
“Ao preço que o gás está neste momento, a situação vai-se agravar e podemos ter situações muito complicadas e obrigar as empresas a ter paragens superiores às que têm vindo a ocorrer. Infelizmente, se as ajudas não forem aumentadas, se não houver um regime de layoff simplificado, podemos estar a correr nessa situação” de mais despedimentos e falências”, alerta.
Mas se reduzir a produção alivia a fatura das empresas, também é verdade que reduz o consumo nacional e ajuda o Governo a cumprir a meta com que se comprometeu com Bruxelas. Nunca foi esse o objetivo e o setor lembra que no final as empresas mantêm todos os outros custos, mas têm menos produção para venda.
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Outro dos setores mais atingidos pelo aumento do preço da energia é o da cerâmica e do vidro. À Renascença, o presidente da Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria (APICER) confirma que várias empresas já andam há meses a interromper a produção, para poupar energia. No entanto, nem isso pode ser suficiente para impedir falências no setor, de acordo com José Luís Sequeira.
Só os custos da energia representam 25% a 40% das despesas neste setor. Com aumentos que, nalguns casos, subiram dez vezes.
A situação é “incomportável”, sobretudo para as empresas maiores, onde a factura mensal passa facilmente dos 500 mil euros para dois milhões. Ou seja, acima do limite fixado pelo executivo para o apoio, sublinha o presidente da APICER.
A única esperança é que o Governo reforce a ajuda, porque o que chega ao terreno é “manifestamente insuficiente”, garante José Luís Sequeira. A Associação defende apoios a fundo perdido, moratórias e layoff.
A APICER lembra ainda que, tecnologicamente, não há solução alternativa ao gás natural, nem em Portugal nem no resto da Europa. O setor está completamente dependente dos preços de mercado, que ninguém sabe quando vão estabilizar.
Para já, a concorrência externa não é problemática, porque o setor compete com países que enfrentam ainda dificuldades de acesso a matérias-primas, o que não acontece por cá.