23 ago, 2022 - 17:59 • Lusa
A seca severa em Portugal está a afetar fortemente a produção de alguns produtos, como a cebola, pera rocha ou amêndoa, com quebras que chegam aos 50%.
A produção de cebola na região do Tâmega e Sousa regista este ano uma quebra de 50% face a 2021, devido às temperaturas elevadas que se têm feito sentir, diz o responsável da Confraria do Presunto e da Cebola, sediada em Penafiel.
Segundo Joaquim Ferreira, o preço atual por quilograma da cebola vermelha, típica da região e a mais apreciada pela gastronomia local, é de dois euros, o dobro do valor do ano passado.
“Nunca se atingiu um preço destes”, exclamou o grão-mestre, em declarações à agência Lusa. Por haver atualmente pouca oferta face à procura, acontece o aumento do preço.
As dificuldades vão sentir-se, admitiu, na Feira de São Bartolomeu, que se realiza de quarta-feira a sábado, em Penafiel, na zona do Sameiro, integrada na Feira Agrícola – Agrival – que decorre até domingo naquela cidade.
No São Bartolomeu, acrescentou, a cebola é rainha, com dezenas de vendedores de Penafiel e de concelhos vizinhos presentes, estimando-se que na última edição tenham sido vendidas 300 toneladas.
Este ano, porém, apenas cerca de 150 toneladas estarão à venda na Feira de São Bartolomeu.
“De certeza que não vai chegar para a procura”, previu, recordando que, por estes dias, se deslocam à cidade muitos forasteiros que apreciam o produto.
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Também a qualidade geral da cebola deste ano diminuiu, como se comprova no calibre mais pequeno da cebola.
Apesar disso, José Ferreira promete que não faltarão cebolas brancas e vermelhas de boa qualidade, embora mais caras, sobretudo dos produtores que lidaram melhor com as temperaturas elevadas e a pouca humidade dos solos.
A produção de pera rocha deste ano, cuja colheita começou há uma semana, deverá ter uma quebra de 50% devido à seca e às elevadas temperaturas registadas em julho, estima a associação do setor.
“Já tínhamos previsto uma quebra de aproximadamente 30% em relação à campanha anterior, o que já não era muito benéfico, mas aceitável em ano de contrassafra, mas a quebra vai aumentar e nós estimamos que ande a rondar os 50% em relação ao ano anterior devido às condições climatéricas”, afirmou à agência Lusa Domingos dos Santos, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Pera Rocha (ANP), que representa o setor.
Segundo o dirigente, a situação de seca extrema no país associada às elevadas temperaturas registadas em julho, fez com que não haja disponibilidade de água no solo e nas poucas reservas de água existentes na região Oeste para regar, refletindo-se na produção da pera rocha.
“Temos peras com teores de açúcar elevadíssimos, ou seja, com grande qualidade organoléptica, mas, mais pequenas, pesam menos, o que há uma quebra”, explicou Domingos dos Santos.
A ANP estimou que possam existir prejuízos no setor no final do ano. “O mercado vai ter de compensar uma parte desta quebra de produção”, com aumento no preço da venda da fruta aos consumidores, “mas nunca vai compensar na totalidade e vai ser sempre dramático para os produtores tendo em conta o aumento de custos de produção que temos tido nos últimos meses no campo e nas próprias centrais fruteiras e vai ser muito difícil refletir isto no consumidor final”, concretizou.
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Para o dirigente, na região Oeste, onde não faltava até há poucos anos água para a agricultura e, por isso, as barragens e os sistemas de retenção de água são quase inexistentes, torna-se necessário “pensar no futuro da água nesta região e da fruticultura e da horticultura” e prever investimentos nesse sentido.
Na campanha de 2021/2022, a produção situou-se nas 220 mil toneladas de pera rocha, das quais 60 a 70% foram exportadas.
A Cooperativa dos Agricultores Centro e Norte avançou esta terça-feira que na região transmontana há registo da antecipação da apanha da amêndoa em duas semanas e quebras que podem rondar os 40 a 50% da produção, devido à seca.
“A antecipação de duas semanas na apanha da amêndoa deve-se à sua maturação. Verifica-se de momento que há condições para a sua apanha e já estamos a colher. Temos muitos cooperantes que têm os seus amendoais em sequeiro e, devido à seca, começaram a apanhar e vai haver quebras significativas que rondam os 40 a 50%”, explicou à Lusa o responsável para Cooperativa de Agricultores, Armando Pacheco.
Esta cooperativa com sede em Mogadouro, no distrito de Bragança, que se dedica à comercialização de frutos de casca rija, tem mais de 450 cooperantes e, em ano normal de produção, podem ser recolhidos mais de um milhão de quilos de amêndoa, provenientes de vários concelhos da região Norte e Centro.
As perdas de produção, de acordo com o responsável cooperativo, devem-se não só à seca, mas também às geadas que se fizeram sentir no tempo de primavera, quando as amendoeiras estavam em flor.
Armando Pacheco refere ainda que as quebras se podem sentir nos próximos anos, porque as plantas precisam de água e têm de ter reservas para poderem acompanhar o seu ciclo de maturação.
Apesar das quebras anunciadas de 40% a 50% da produção, a Cooperativa dos Agricultores Centro e Norte espera não as sentir devido à entrada de novos produtores de amêndoa para esta organização.
Contudo, Armando Pacheco, alerta que os produtores devem acautelar o futuro e tentar explorar os recursos hídricos o melhor possível para terem reservas para tempos de seca.