06 out, 2022 - 11:04 • Sandra Afonso
O Boletim Económico de Outono, que acaba de ser publicado, revela que a economia deve crescer 6,7% este ano, mais quatro décimas do que tinha sido apontado em junho. Um crescimento suportado pela “recuperação do turismo e do consumo privado”.
A má notícia é que a inflação também está a aumentar e foi igualmente corrigida a estimativa para a subida dos preços este ano. O banco central deixou cair a anterior projeção de 5,9% e aponta agora para 7,8%. Um reflexo das “crescentes pressões externas sobre os preços”.
Este ano o consumo aumentou, depois das restrições da pandemia há um claro aumento da despesa e é esperado um crescimento do consumo privado em 5,5%. No entanto, os orçamentos familiares não aumentaram. O rendimento disponível real estagnou, segundo o Banco de Portugal, condicionado pela inflação. Enquanto isso, a taxa de poupança caiu de 9,8% para 4,9%.
Para as empresas o cenário não é melhor, com menos dinheiro cortam nos investimentos, onde é visível um abrandamento. Este ano o investimento deverá crescer menos de 1%. As empresas enfrentam um ambiente de “restrições de oferta, aumento dos custos de produção, agravamento das condições de financiamento, baixa execução dos fundos do PRR e elevada incerteza.”
Lá fora, “o enquadramento externo e financeiro tem vindo a deteriorar-se devido aos choques gerados pela invasão da Ucrânia, que resultaram no aumento da inflação e das taxas de juro”. Portugal tem evitado os efeitos adversos destes choques através do nível de desemprego que volta a cair para 5,8%, um nível historicamente baixo, da poupança acumulada na pandemia e das medidas de apoio.
Apesar deste balanço em 2022, no próximo ano a travagem será fortemente sentida. O gabinete de Mário Centeno ainda não quantifica, mas avisa que “as perspetivas de curto prazo para a economia portuguesa deterioraram-se, refletindo as repercussões da invasão da Ucrânia.” Por outras palavras, “o impacto dos choques adversos que ocorreram ao longo do ano será mais notório em 2023, antecipando-se uma desaceleração significativa da atividade”, refere o Boletim.
Além de antecipar dificuldades, o Banco de Portugal alerta par a situação dos mais vulneráveis e pede que toda a economia partilhe a perda esperada de rendimento real: “deve ser partilhada por todos os agentes, evitando-se aumentos das margens das empresas e de salários que possam gerar pressões persistentes sobre os preços”.
Admite ainda novas “medidas temporárias e específicas”, que visem responder ao “efeito diferenciado do aumento da inflação sobre as famílias e empresas” e “permitam amortecer o impacto sobre os segmentos mais vulneráveis”.
Para o Governo fica o aviso: “num enquadramento externo e financeiro mais desfavorável, é urgente acelerar a prossecução das reformas no âmbito do PRR e promover uma utilização efetiva e eficaz dos respetivos
fundos, para sustentar o crescimento económico no curto e médio prazo.”