28 out, 2022 - 08:43 • Olímpia Mairos
Numa altura em que se fala tanto na importância da poupança energética, Chaves tem em marcha um projeto-piloto, que aproveita o calor das águas termais para aquecimento.
Atualmente são aquecidos com este recurso natural cinco edifícios públicos e privados, mas a intenção da autarquia é estender o projeto a mais 20, já a partir do próximo ano.
O projeto-piloto, com um orçamento de 1,2 milhões de euros, comparticipado por fundos comunitários, permitiu construir uma rede de dois quilómetros de condutas subterrâneas, que vai aproveitar a geotermia para aquecer edifícios e permitir uma significativa poupança aos consumidores.
“Tínhamos necessidade de arrefecer a água termal para os tratamentos [termais]. Para retirar esse calor gastávamos energia elétrica e, neste momento, com o sistema de aproveitamento geotérmico, além de não gastarmos energia elétrica, conseguimos ter aqui um rendimento à volta de 3.3 megawatts de potência e isto tem uma capacidade de aquecer 25 edifícios", conta Joaquim Esteves, responsável pelo funcionamento e manutenção dos equipamentos.
A água termal brota a uma temperatura de 76 graus celsius. Na central geotérmica é-lhe retirada a energia calorífica e a água é colocada em circuito fechado, que passa numa rede urbana que está totalmente instalada, e está totalmente operacional para chegar aos edifícios.
“Esta energia 100% limpa, 100% renovável, está a um valor muito mais baixo da energia elétrica ou do gás natural”, assinala Joaquim Esteves, destacando tratar-se de “uma grande mais-valia” para os flavienses.
Atualmente todo o edifício das Termas de Chaves está a ser aquecido com esta energia [calor proveniente do interior da Terra], mas a água quente também está a fazer a diferença no funcionamento da lavandaria.
“Nós temos uma lavandaria de grandes dimensões. A água já entra quente na própria lavandaria. Neste momento, as máquinas apenas gastam a energia da rotação do tambor. Poupa-se tempo e energia elétrica”, observa.
Também o hotel Premium Chaves utiliza a energia geotérmica em toda a sua unidade e assume uma poupança na ordem dos 90%, quando comparada com outras unidades hoteleiras da cidade.
“Isto abate muitos custos, em termos de poupança, porque não é preciso ligar as caldeiras durante o inverno ou as serpentinas elétricas. Houve uma redução à volta dos 90%, isto comparado com outros hotéis que não têm esta funcionalidade da geotermia”, destaca Amândio Ferreira, acrescentando que a água chega ali “à volta dos 60 a 65 graus”.
O responsável da manutenção específica que poupam “nos ares condicionados, que funcionam com a dita geotermia, no aquecimento em todo o hotel e também nas águas sanitárias mesmo durante o verão”.
Numa altura em que os preços de outros tipos de energia estão a aumentar, o responsável acredita que “isto daqui para a frente vai ser um reaproveitamento ainda maior em termos de custos”.
“Vai ser mais valioso”, conclui.
A energia geotérmica deverá chegar já a partir do próximo ano a mais 20 edifícios da cidade de Chaves. Entre eles destaca-se a escola Fernão Magalhães, o arquivo histórico municipal, a biblioteca de Chaves ou o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso.
“Neste momento estamos concentrados, quer nós, quer os privados, na adaptação dos respetivos edifícios para que efetivamente eles possam receber adequadamente esta energia”, adianta o presidente da Câmara de Chaves.
Nuno Vaz confia na adesão ao projeto e frisa que “a rede só faz sentido se, naturalmente, puder ser utilizada para aquecer edifícios”.
“Queremos contribuir não só para a descarbonização, e isso é um papel importante, mas também contribuir para podermos ter uma fonte de energia mais sustentável e, sob o ponto de vista financeiro, mais atrativa”, realça o autarca, destacando que esta é uma solução “claramente mais competitiva e mais barata”, comparativamente com outras fontes de energia, como o gás natural, a eletricidade ou outros.
“A nossa expectativa é a de que, quando o projeto estiver em fase de implementação plena, haverá uma poupança de 200 mil euros por ano”, afirma, sinalizando, no entanto, que “isso dependerá do que seja o custo médio da energia em cada momento, mas, de qualquer das formas é que a geotermia se posiciona como uma energia 100% limpa e 100% renovável e, seguramente, a mais barata de todas e, portanto, são boas novidades”.
No entender do presidente da autarquia flaviense, o projeto geotérmico é “absolutamente essencial” e, por isso, espera que os próximos fundos europeus “possam permitir inscrever novos investimentos”, para que possam ser efetuados “mais estudos, mais avaliação para perceber se o recurso, a produção de água permite, no futuro, aumentar o número de instalações a fornecer energia”.
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