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Patrões dizem que este não é o momento para se discutir a semana de quatro dias

02 nov, 2022 - 16:30

Presidente do CIP caricatura a proposta, estando-se a discutir "a seca" quando as empresas estão a ser "inundadas" por um "tsunami". Patrões estão em sintonia sobre o projeto-piloto da semana de quatro dias de trabalho apresentada pelo Governo, em reunião de Concertação Social.

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Patrões consideram que este não é o momento ideal para debater a semana de quatro dias de trabalho, defendendo haver outras prioridades em cima da mesa.

À saída da reunião da Concertação Social, na qual o Governo apresentou aos parceiros o projeto-piloto, António Saraiva Lima, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), realça que a ideia pode soar bem no papel, mas que acab por divergir da realidade portuguesa.

"Podemos elencar um conjunto de questões para suportar a tese que aqui se quer defender, mas mais do que as teses académicas, é a realidade do dia a dia das nossas empresas e da situação dramática em que a maior parte de elas hoje se encontra", sublinha.

Nesse sentido, o presidente da CIP critica a ordem de prioridades estabelecida: "Quando [nós] as empresas estamos debaixo de um tsunami, que nos está a inundar de preocupações, estamos a discutir a seca".

Já à entrada para o encontro, a Confederação do Comércio e Serviços (CCP) e a Confederação do Turismo de Portugal (CTP) mostravam estar em sintonia.

"O que nos parece é que não era um tema prioritário para apresentar na Concertação Social, depois do acordo [sobre rendimentos e competitividade] em que há muitos aspetos a concretizar", disse o presidente da CCP, João Vieira Lopes.

Sobre o projeto da semana de quatro dias, Vieira Lopes disse não ver "qualquer inconveniente em que se façam experiências", mas salientou que "não se justificava" uma reunião da Concertação Social "só para isso" havendo questões "tão prioritárias como o problema da energia" ou a concretização do acordo de rendimentos assinado há poucas semanas.

O presidente da CCP considerou que pode haver empresas "com perfil" para a implementação da semana de quatro dias, como é o caso das empresas "na área das tecnologias, da cultura, da criatividade, da publicidade", mas antevê dificuldades em empresas com atendimento ao público.

"Tudo o que tenha a ver com horários de abertura ao público, isso implicaria contratar mais gente o que, além de ser um aumento de custos, não há pessoas [para contratar]", afirmou.

Também o presidente da CTP, Francisco Calheiros, disse ser "prematuro" discutir o tema, semanas depois da assinatura do acordo de rendimentos e competitividade e numa altura em que o parlamento acabou de aprovar na generalidade a proposta de Orçamento do Estado para 2023, faltando ainda a discussão na especialidade.

"Acabámos de assinar um acordo de competitividade e de salários no sentido de se poder aumentar os salários e, neste momento, quando vamos analisar um estudo que passa de cinco para quatro dias a semana de trabalho, é uma diminuição de 20% da produtividade. Não estou a ver como conjugar estas duas situações", considerou Francisco Calheiros.

Já a secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, realçou que "a questão da redução do horário de trabalho é uma reivindicação de há muito tempo" da intersindical, que defende um horário semanal de 35 horas para todos os trabalhadores.

"[Sobre] esta questão da semana de quatro dias, não temos qualquer problema, desde que não tenha como condição o aumento da jornada diária de trabalho, que é uma conquista dos trabalhadores com mais de 100 anos", afirmou Isabel Camarinha.

O Governo apresenta hoje na Concertação Social o projeto-piloto da semana de quatro dias de trabalho, cuja experiência deverá arrancar em junho de 2023 em empresas do setor privado, podendo mais tarde ser estendido à administração pública.

Segundo o documento do Governo, a experiência-piloto em 2023 será aberta a todas as empresas do setor privado e terá a duração de seis meses, sendo voluntária e reversível e sem contrapartidas financeiras, providenciando o Estado o suporte técnico e administrativo para apoiar a transição.

Segundo o executivo, a experiência “não pode envolver corte salarial e tem de implicar uma redução de horas semanais”.

Uma vez que o Estado não oferece nenhuma contrapartida financeira, não será estipulado um número de horas semanais exatas, que “podem ser 32 horas, 34 horas, 36 horas, definidas por acordo entre a gestão e os trabalhadores”, mas a experiência tem de “envolver a grande maioria dos trabalhadores” da companhia, “exceto para grandes empresas, onde pode ser testado em apenas alguns estabelecimentos ou departamentos”.

A experiência-piloto da semana de quatro dias será coordenada por Pedro Gomes, autor do livro "Sexta-feira é o Novo Sábado".


[Notícia atualizada às 18h20 com as declarações de António Saraiva Lima, presidente da Confederação Empresarial de Portugal]

Comentários
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  • Anónimo
    05 nov, 2022 Lisboa 20:25
    Se dependesse do patronato, ainda hoje trabalhávamos todos 16 horas por dia. O comentador "que admiração" tem toda a razão. Quanto ao comentador "roubados", está a comentar a notícia errada.
  • Roubados
    02 nov, 2022 Vamos ficar-nos? 18:58
    Que é isto de a TAP não devolver os 3,2 mil Milhões de euros dos nossos impostos e o Pedrinho-sonha-substituir-o-Costa ainda vem dizer que "A TAP está a pagar aos portugueses desde o primeiro dia em que foi salva. Em passageiros, nas exportações, nas compras que faz, no apoio que dá ao turismo do país"!?
  • Que admiração
    02 nov, 2022 porcá 17:40
    Se o Patronato concordasse com alguma coisa que não fosse manter salários de miséria e condições de trabalho a roçar a escravatura, é que nos admiravamos

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