03 nov, 2022 - 08:12 • Olímpia Mairos
O governador do Banco de Portugal avança que pode ter ficado para trás a maior parte da subida das taxas de juro por parte do BCE. Em entrevista ao Jornal Público, Mário Centeno adverte que para ajudar esse cenário, as empresas e os Estados tem que ajudar na tarefa, com contenção nas margens de lucro e uma política orçamental moderada.
“O combate à inflação não é um exclusivo dos bancos centrais”, afirma, alertando que, de outro modo, as subidas das taxas de juro terão de ser ainda maiores.
Sem responder às críticas relativas à última subida das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE), nomeadamente de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, que acusaram a autoridade monetária de, com a sua política, poder estar apenas a causar uma recessão, Mário Centeno argumenta que o problema não está na política monetária, mas sim na inflação.
“A inflação é uma perturbação significativa para o crescimento económico quando é superior a 2%. Esse fenómeno inflacionista por si só, se não estiver controlado, gerará um comportamento negativo da economia e trará recessão. A política monetária não é o fator de instabilidade, o fator de instabilidade é a inflação”, diz nesta entrevista ao Público.
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Segundo o governador do Banco de Portugal, quando a inflação atingir um pico, prevendo-se que tal possa acontecer no quarto trimestre deste ano, ganhar-se-á um grau de previsibilidade sobre a política monetária muito significativo. E partir desse momento, vamos poder ter mais garantias sobre o trajeto da política monetária.
Mário Centeno não antecipa até onde podem chegar as taxas de juro, destacando que a reação dos mercados à última reunião do BCE “antecipa muito bem este fenómeno porque no dia em que o BCE anunciou um aumento de 75 pontos base nas suas taxas de política monetária, as taxas de juro de dívida pública de todos os países da área do euro caíram muito significativamente”.
Nesta entrevista assinala ainda que as expectativas do valor mais alto do ciclo de políticas, ou seja, da taxa de juro do BCE daqui a três, seis, 12 meses, também caíram muito significativamente. E segundo Mário Centeno, isto significa a importância da comunicação feita pelo BCE.
“E aí acho que ficou claro que há preocupações sobre a evolução da economia, porque elas existem, e um entendimento de que uma boa parte do esforço de política monetária que estava previsto ser feito já aconteceu”, assinala, advertindo que “para que isto se torne previsível e seja materializado nos próximos meses, é mesmo importante que a inflação atinja o seu pico”.
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