23 nov, 2022 - 21:15 • Pedro Valente Lima
Apesar da crise económica e energética, os portugueses continuam a apostar nas promoções da Black Friday. No entanto, as compras têm sido mais ponderadas e direcionadas para bens essenciais de uso recorrente.
Estas são conclusões apontadas pelo relatório da KuantoKusta, plataforma de comércio online que junta mais de 1.300 lojas parceiras. O estudo incide sobre o comércio online da empresa, que em 2021 chegou às 70 milhões de visitas e gerou mais de 15 milhões de euros em compras.
Aliás, o e-commerce tem sido um setor em crescimento em Portugal, especialmente a partir da pandemia. De acordo com a We Are Social, agência de comunicação e marketing dos Estados Unidos, mais de metade (51%) da população portuguesa já recorre ao comércio online.
Só em 2021, o país registou mais de seis mil milhões de euros faturados em compras pela internet.
À Renascença, Ana Rêgo, gestora de comunicação da KuantoKusta, salienta que a afluência às compras "sem dúvida que é maior" nas promoções da Black Friday, em relação ao resto do ano. "Só em Novembro, comparativamente ao mês anterior, em termos de procura, sentimos um aumento de 20%".
A plataforma espera, na última semana completa do mês, que a procura aumente em 40%, ultrapassando os dois milhões de artigos procurados.
A afluência à Black Friday este ano "está em linha" com os valores do ano passado, mas Ana Rêgo sublinha que "as realidades não podem ser diretamente comparadas".
"[Este ano], as famílias portuguesas estão com os orçamentos mais restritos, mais apertados pela crise, pela inflação, neste caso como consequência da guerra na Ucrânia."
O "aumento das faturas com electricidade, os consumos energéticos, ou as flutuações no mercado imobiliário" terão impacto na carteira, pelo que os portugueses não só têm redirecionado as compras para bens essenciais e de uso mais recorrente, como estão mais predispostos para comparar preços e produtos.
"Nós estivemos a monitorizar as encomendas, os hábitos e o percurso dos utilizadores e dos consumidores [do KuantoKusta]. Aquilo que nós sentimos é que há uma preocupação maior e há uma afluência [às compras] maior nesta altura do ano", realça.
Ana Rêgo salienta que as "novidades tecnológicas" e "produtos de maior valor", como telemóveis, televisões e consolas, continuam a ser os mais "apetecíveis e procurados pelos consumidores". Mas "na hora de direcionar o orçamento, acabam por escolher bens de utilidade", como produtos para a casa ou eletrodomésticos.
As tecnologias ainda reinam as preferências dos clientes da Black Friday, mas nos "tops também começam a surgir artigos como máquinas de lavar roupa, placas para fogões e alguns bens que já nem são ligados à tecnologia, mas sim de uso mais corrente", como produtos de saúde e de puericultura, cosmética, perfumes "ou até mesmo artigos para animais".
"Ou seja, o que vemos aqui, na Black Friday, principalmente este ano, [é que] aquilo que está a ser a preparação das compras está a ser muito bem ponderada", destaca a gestora de comunicação.
Ao longo do ano, a KuantoKusta verifica que "os consumidores estão a comparar [mais preços] e a comprar mais produtos de uso recorrente, que habitualmente, e principalmente até 2021, nem sequer eram considerados neste hábito de comparação", constata Ana Rêgo.
"Na Black Friday, obviamente que tudo o que é equipamento tecnológico, ou que é eletrodoméstico, ou da área de informática ganha outra dimensão, mas aquilo que nós notamos é efetivamente isso: há uma maior ponderação."
No fundo, a gestora de comunicação destaca haver "uma maior preocupação em comparar os preços antes de comprar e ter a certeza de que se está a comprar a um preço que é efetivamente uma oportunidade, uma poupança real, e não um preço encapotado".
Apesar dos constrangimentos e da maior ponderação no ato de compra, os dados da KuantoKusta continuam a apontar para primazia das tecnologias durante as promoções da Black Friday, tanto na procura, como nas oportunidades.
Ana Rêgo dá um exemplo bastante concreto: "No ano passado, em telemóveis, o valor gasto era de 340 euros. Este ano, são 530 euros. Ou seja, os portugueses estão a gastar mais 55%, em média, com telemóveis".
A KuantoKusta verifica, ainda, um aumento dos gastos médios em televisores, colunas de som e demais artigos da área da imagem. "São uma das categorias mais procuradas e isso também faz-se sentir."
A verdade é que os smartphones lideram a lista dos artigos mais procurados na plataforma online, com 21,5%. Em seguida, em altura de Mundial, a procura de televisores também não se inibe, constituindo 11% dos artigos mais procurados.
O 'top 4' fica completo com os frigoríficos (7,3%) e os computadores portáteis (6,1%).
Se os produtos de vanguarda tecnológica atraem mais os portugueses, também protagonizam as maiores descidas de preços durante o mês de novembro, o mês da Black Friday.
Na plataforma da KuantoKusta, a secção de gaming, que inclui videojogos e consolas, por exemplo, apresenta a maior diferença entre o preço mínimo registado em novembro e o preço médio praticado em outubro: -26,72%.
Nos televisores, a diferença é menor, mas ainda significativa, de -18%, enquanto nos smartphones a variação ronda os -11,93%. De notar que o preço mínimo não resultará, necessariamente, de uma campanha promocional.
Segundo Ana Rêgo, "os mais novos procuram e comparam mais" os produtos. "A faixa etária dos 18 aos 25 anos é a que passa mais tempo a comparar, mais tempo à procura dos produtos, a querer saber exatamente o histórico dos preços", denota.
As preferências desta faixa etária condizem mais com a categoria de produtos mais vanguardista da Black Friday, "como telemóveis, portáteis e acessórios de gaming".
No entanto, são os mais velhos que mais compram online: "Cerca de 50% dos nossos utilizadores está entre os 35 e os 54 anos", especifica a gestora de comunicação do KuantoKusta.
Este fenómeno deve-se, sobretudo, ao crescimento do e-commerce durante a pandemia de Covid-19. "Estivemos completamente confinados e o comércio tradicional, em lojas físicas, estava quase interdito, havendo um acréscimo substancial no comércio online."
Muitos utilizadores acabariam por se habituar a este método de compra e os comportamentos viriam a manter-se, mesmo depois da reabertura do comércio tradicional.
"Houve um aumento nas faixas etárias que até aqui não estavam presentes no e-commerce. Nomeadamente faixas etárias que estão muito ligadas ao [comércio] tradicional, essencialmente acima dos 55 anos", explica Ana Rêgo.
Afinal de contas, é na faixa etária entre os 35 e os 45 anos que se verificam maiores compras. "São os que compram mais e que investem em maior valor, também devido à questão de serem famílias ou pessoas com gastos associados também à casa, a outros tipos de bens que não são para para si próprios, mas também para outros."
O relatório da KuantoKusta ainda deixa em aberto demais conclusões para 2022, mas realça outros indicadores de 2021. No ano passado, durante o mês de novembro, o e-commerce disparou 400% em relação a outubro.
Nesse mesmo período, a plataforma online chegou a registar mais de dez mil utilizadores em simultâneo.
Em relação aos gastos, os portugueses viriam a desembolsar 80 euros por cada aquisição realizada em promoções da Black Friday, através do site da KuantoKusta.
Cerca de um quarto (24,8%) dos compradores tinha entre 35 e 44 anos e quase metade dos clientes (37,29%) eram do distrito de Lisboa.
Já o volume bruto de mercadorias transacionadas no comércio eletrónico da KuantoKusta subiu 30% durante a Black Friday de 2021 em comparação com o mesmo período de 2020, apesar de a maioria das lojas físicas já estarem abertas ao público.