21 nov, 2022 - 06:09 • *Opinião de André Alves
Nos últimos tempos muita tinta tem corrido à volta do tema metaverso. Sabe-se que a gigante de telecomunicações, MEO, foi a primeira organização portuguesa deste setor a entrar no mundo virtual. Subordinada ao tema “aberto a todos”, este novo canal oferece aos seus consumidores uma pop-up store que funciona como um centro de atendimento, um anfiteatro e um domicílio que se assemelha a um showroom de produtos e serviços.
Outras entidades como a Microsoft, a Nvidia Omniverse e até o Banco do Brasil começam a fazer parte deste mundo paralelo e virtual. Contudo, o crescente envolvimento das organizações e o incremento de utilizadores ativos, torna necessário esclarecer o que é o metaverso, e acima de tudo, avaliar as contrapartidas que este oferece a quem por lá passa.
Pode-se definir metaverso como uma realidade paralela que, apesar de viver no ecossistema digital, une realidade aumentada e ambientes virtuais com o propósito de oferecer aos seus utilizadores uma experiência que se assemelha à vida real. É uma espécie de Second Life, aclamado jogo que teve o seu hype em 2006, e que possibilitava a criação de uma personagem - um avatar - que trabalhava, que criava uma família e que enfrentava vários aspetos do quotidiano com a imprevisibilidade de qualquer dia a dia.
Contudo, esta não foi a primeira tentativa de criar uma realidade paralela! A literatura também deu o seu contributo, num livro de 1992, ano em que surge a União Europeia, chamado “Snow Crash”, em que o mundo virtual é constituído por três dimensões onde os utilizadores podem interagir umas com as outras e com robôs. Recorrendo à simplicidade de um parágrafo, o metaverso é um mundo paralelo onde há tudo aquilo que há no mundo real.
No entanto, sabe-se que tudo o que é novo acarreta receio, e uma realidade onde podemos ser ou adquirir o que quisermos levanta várias questões que são importantes serem respondidas.
Se, por um lado, surgem questões em relação às possíveis violações de privacidade, ao aumento da desinformação, às fraudes e até à possibilidade do aumento de doenças do foro mental, por outro reflete-se sobre a importância que esta nova dimensão acarreta para os vários desígnios da sociedade civil.
Por exemplo, na dimensão da empregabilidade, surgem novos postos de trabalho tais como, por exemplo, designers de vestuário para avatares. Na dimensão da ciência o uso desta ferramenta pode levar a cirurgias realizadas à distância, a formações onde os alunos não necessitam de corpos reais para aprender a operar ou até mesmo à criação de indumentárias que podem avaliar situações corporais, tais como a temperatura ou o nível de transpiração.
Na dimensão corporativa, o uso do metaverso permite reuniões interativas (real com virtual) e até mesmo, formações especializadas virtualmente, o que reflete uma redução significativa de custo para a organização.
Por último, na dimensão financeira exploram-se as criptomoedas, que apesar de não serem um tema novo na sociedade, ganham uma nova expressão, dado que é graças a elas que se pode adquirir terrenos, ações ou até mesmo fundos de investimento presentes no metaverso.
Por estas razões, até já existem personalidades que enriqueceram com negócios realizados no metaverso, como Kevin Clark, que comprou um terreno no início da pandemia e que, ao dia de hoje, está avaliado em 28 vezes mais do que o preço de aquisição.
A maioria dos especialistas já considera, sem qualquer dúvida, que o metaverso é um dos futuros possíveis e eu não sou exceção! Este irá mudar o mundo como o conhecemos, não só pelo impacto no mercado como também pela forma como interagimos uns com os outros. Os próximos anos vão ditar, seja em utilizadores, seja no tecido empresarial, quais são as aplicações práticas que este universo virtual irá trazer a todos nós.
Contudo, e enquanto aguardamos novas abordagens e soluções, as marcas vão investido nesta realidade. Sejam quais forem as razões, pelo investimento a longo prazo, pelo pioneirismo que esta solução acarreta ou até mesmo pelo FOMO (“fear of missing out”), as organizações não estão dispostas a ficar de fora. Marcas como a Coca-Cola que criou uma versão da icónica bebida refrigerante com o conceito nascido no metaverso: “Coca-Cola Zero Sugar Byte”. A Nike que lançou a Nikeland e comprou um estúdio para criar ténis digitais. A Gucci que conseguiu vender uma versão digital de uma bolsa de luxo a um valor superior à versão real, enquanto a Balenciaga fez uma parceria com o jogo Fortnite onde vende acessórios. O Grupo Renault lançou o primeiro metaverso industrial para acelerar a digitalização, assegurando a ligação entre linhas de produção, fluxos de abastecimento e monitorização de dados em tempo real que levaram a uma poupança na ordem dos 780 milhões de euros.
Já estão convencidos que além do futuro ser digital é, também ele, meta?
*André Alves, Deputy Marketing Director da Católica Lisbon Business School & Economics
Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics.