30 jan, 2023 - 09:30 • Sandra Afonso
Só no município de Lisboa, 75% dos moradores não têm tomadas para carregar carros elétricos. A pensar nisso, a Galp está a testar novas soluções, de modo a garantir a massificação dos postos de carregamento, para que todos tenham acesso, quando e onde precisam.
Em declarações à Renascença, Teresa Abecasis, administradora da empresa, diz que a Galp está a estudar o que "parece quase um Ovo de Colombo", algo "absolutamente evidente": a utilização de postes de iluminação.
"Muita gente não sabe isto, mas os postes de iluminação são ocos por dentro e com uma adaptação do design dos carregadores, [é possível] colocar em formato um carregador que caiba dentro de um poste elétrico oco."
Segundo a administradora da Galp, os candeeiros de rua não precisarão de qualquer "alteração na rede elétrica para carregar também veículos", aproveitando o circuito elétrico que já possui.
A solução pensada pode reforçar em até nove milhões as tomadas para carregamentos elétricos no país. A zona de Lisboa poderia "facilmente" assistir a um aumento de um milhão e meio de postos de carregamento, o que resolveria os problemas de "75% de pessoas que não têm possibilidade de carregar em casa".
"Nós conseguimos por dois a três [postos de carregamento] dentro de cada poste de iluminação e em Portugal há três milhões destes postes", explica a administradora.
O carregamento realizado nestes novos postos públicos poderá ser, inclusivamente, mais barato do que os gastos de eletricidade realizados em casa, que normalmente exige "uma adaptação da rede" e a colocação de uma wall-box, equipamento que permite que o carregamento do veículo seja feito me segurança".
"Estamos aqui a falar de um equipamento que, no limite, até sendo partilhado por mais pessoas, pode ficar até mais económico do que uma solução de casa", garante Teresa Abecasis. O consumidor terá apenas de pagar o adicional correspondente ao serviço do carregador.
A Galp está ainda a estudar a reutilização de baterias de veículos elétricos em carregadores ultrarrápidos. Teresa Abecasis explica que já não podem ser usadas nestes carros, mas podem ainda armazenar energia.
Os testes dentro do âmbito têm colocado "muitas baterias juntas e ligadas em sequência dentro de um contentor", numa espécie de "mega bateria, que carrega durante o período em que um carregador elétrico [normal] não precisa".
"Porque um dos carregadores que se usa muito, muito, muito, usa-se 20% do tempo. Portanto, 80% do tempo não está a ser utilizado. Durante esse tempo, acumulamos energia neste contentor de baterias e depois, quando o carregador precisa de ser fornecido, colocamos lá a energia."
Esta ideia pode, assim, evitar alterações na rede elétrica para o abastecimento de quantidades grandes de eletricidade no local e num curto espaço de tempo.
Tanto a tecnologia das "megabaterias", como a dos postos de carregamento em postes de iluminação estão ainda em testes e até ao final do primeiro semestre de 2023, altura em que a Galp "espera ter a resposta se são para escalar ou não".
A terceira solução passa pela tecnologia mais avançada, e que já começou a ser instalada em Lisboa e em Madrid: armários que carregam as baterias para trotinetes, bicicletas e outros transportes de "micro mobilidade".
Embora sejam "muito fáceis de tirar de pôr", as baterias "não duram muito tempo", sendo necessário recolher os veículos para os carregar. Deste modo, a Galp propõe a colocação de armários que carreguem essas baterias, quando descarregadas.
"Basta que alguém que esteja a precisar de trocar a bateria se aproxime desse armário, tire a sua bateria e troque por uma que está carregada dentro do armário. A que deixa fica a carregar até que alguém precise", exemplifica a administradora da Galp.
O objetivo da empresa é que estes armários cheguem a todas as estações de serviço do país.
As três soluções partilham a mesma meta: acelerar a transição energética através da inovação. Um tema que Teresa Abecasis desenvolveu este ano na 5.ª edição de "Building the Future" - evento sobre transformação digital e tecnológica onde falou sobre os projetos da Galp para a descarbonização.