16 fev, 2023 - 14:11 • Sandra Afonso
A procura de casa para arrendar mais do que duplicou no último ano, um salto visível em Lisboa e no Porto, que absorveram a oferta disponível. Os preços das casas para arrendar dispararam, para um valor médio recorde de quase 13 euros por metro quadrado.
No final de 2022, o stock de habitação atingiu o nível mais baixo desde 2019. Já a oferta de casas para arrendar tem variado nos últimos quatro anos.
Em 2019, o stock esteve praticamente estável, representando entre 0,3% e 0,4% do parque habitacional português. A oferta aumentou em 2020, com a pandemia, altura em que a oferta passou a representar 0,63% do parque habitacional. Com este aumento, as rendas caíram para o valor mais baixo dos últimos quatro anos.
Em 2021 o mercado voltou a mexer. No pós-confinamento, as famílias passaram a valorizar mais o espaço e as zonas exteriores e muitos decidiram mudar de casa. A partir de julho de 2021, aumentou a procura de casa para arrendar e em 2022 atingiu recordes.
No último ano tudo voltou a mudar, com a subida da inflação, a perda de poder de compra e o aumento dos juros. Comprar ficou mais difícil, o que aumenta a procura por arrendamento. Cresceu também o interesse de estrangeiros pelo mercado nacional de arrendamento, através de estudantes, nómadas digitais ou fatores geopolíticos, como as eleições no Brasil.
“Pouco tempo depois de a procura disparar e da oferta começar a cair, os preços das casas para arrendar começaram a aumentar”, revela este estudo.
Trimestre após trimestre, a subida da procura foi absorvendo as casas disponíveis para arrendar. O que estava disponível foi ficando cada vez mais caro.
Para apoiar as famílias, o governo fixou um limite de 2% para o aumento das rendas, compensando os senhorios a nível fiscal. Mas muitos optaram por renegociar ou pôr termo aos contratos de arrendamento e celebrar novos, com preços mais elevados. Ou seja, a medida não terá conseguido travar o aumento das rendas.
As casas disponíveis neste momento não chegam para satisfazer a procura.
Segundo os dados do idealista/data, o stock de casas para arrendar atingiu 0,27% do parque habitacional no final de 2022, o nível mais baixo dos últimos quatro anos. A procura alcançou o máximo da série do idealista/data. As rendas subiram até 13 euros/m2 em média, no final de 2022, o maior valor registado desde 2019. Em suma, o estudo conclui:
“O mercado de arrendamento em Portugal está a ficar cada vez mais inacessível, dado que há baixa oferta para a alta procura e as rendas das casas estão a escalar para níveis incompatíveis com os rendimentos das famílias.”
Esta situação é transversal a “praticamente todos os distritos do país, onde as famílias são incapazes de satisfazer os seus interesses devido à escassez geral de stock”, é acrescentado.
No distrito de Lisboa, o mercado de arrendamento está em linha com o país: a oferta de arrendamento aumentou com a pandemia, mas as circunstâncias fizeram disparar também a procura e as rendas das casas subiram a alta velocidade em 2022. O ano terminou com as rendas nos 16,3 euros/m2, o maior valor registado desde 2019.
No Porto, a pandemia fez disparar a oferta para arrendamento, mas no último ano o mercado regressou à tendência anterior, “marcado pela subida a pique da procura de casas, pela descida da oferta e o consequente aumento das rendas das habitações”. As rendas das casas no distrito do Porto subiram, sobretudo, na segunda metade de 2022, para 12,3 euros/m2 no final do ano passado, o máximo registado desde 2019.