15 mar, 2023 - 22:14 • Redação com Lusa
O banco central e o regulador financeiro da Suíça asseguraram esta quarta-feira, que fornecerão liquidez ao Credit Suisse, se necessário, perante o pior momento em 167 anos de história do segundo maior banco suíço.
"O Credit Suisse atende aos requisitos de capital e liquidez impostos aos bancos sistemicamente importantes. Se necessário, o SNB disponibilizará liquidez ao Credit Suisse", referiram o Banco Nacional da Suíça (BNS) e o regulador financeiro da Suíça (Finma) em comunicado conjunto divulgado ao início da noite, após o silêncio durante todo o dia.
Este banco viveu, esta quarta-feira, o seu pior dia na bolsa, perdendo um quarto do seu valor, com as suas ações a descerem para um nível historicamente baixo, abaixo de dois francos suíços.
Fundado em 1856, o banco sediado em Zurique perdeu cerca de 30% do seu valor na bolsa de Zurique desde meados da semana passada, numa altura em que a sua própria crise interna, que poderia remontar a 2019, se entrelaçou com a da banca global, desencadeada pelo colapso do Silicon Valley Bank (SVB) nos EUA.
Ao início do dia, os dois executivos mais seniores do Credit Suisse tentaram tranquilizar sobre a solidez financeira do gigante bancário, mas não conseguiram convencer os investidores, que infligiram às ações do banco a pior queda da sua história.
Para o SNB e o Finma, "a atual turbulência no mercado bancário norte-americano não sugere que haja risco de contágio direto para os estabelecimentos suíços".
A preocupação ultrapassa as fronteiras do país alpino e o Departamento do Tesouro norte-americano já referiu que está a "monitorizar a situação e em contacto com os seus homólogos internacionais".
Em França, a primeira-ministra Élisabeth Borne apelou publicamente às autoridades suíças para resolverem os problemas do banco e pediu ao seu ministro das Finanças para falar com o homólogo em Berna.
O banco tem vindo a registar perdas milionárias durante dois anos: em 2021 ascenderam a 1.572 milhões de francos suíços (1.600 milhões de euros) e em 2022 quase quintuplicaram para 7.293 milhões de francos (7.400 milhões de euros).
O Credit Suisse também sofreu levantamentos de liquidez no valor de 123.200 milhões de francos suíços (126.000 milhões de euros) no ano passado.
Entre os principais fatores subjacentes a estas contas, está a sua exposição a empresas de risco que entraram em colapso em anos anteriores, tais como o fundo de cobertura norte-americano Archegos e a empresa de serviços financeiros anglo-australiana Greensill.
Além dos problemas financeiros, existem muitos outros, de reputação no banco, que levaram a uma extensa remodelação do conselho nos últimos anos.
A principal estratégia que o banco lançou para tentar pôr fim - até agora sem êxito - à sua crise é o ambicioso plano de reestruturação lançado em outubro do ano passado, que incluiu um aumento de capital de 4.000 milhões de francos (4.090 milhões de euros), o despedimento de 9.000 trabalhadores em todo o mundo e uma redução de custos de 15%.
O aumento de capital viu o Banco Nacional Saudita tornar-se o maior acionista da empresa, depois de investir 1.500 milhões de francos suíços (1.530 milhões de euros) em ações.
O presidente do banco saudita, Ammar al Khudairy, disse esta quarta-feira numa entrevista que o banco não iria aumentar este investimento, o que contribuiu para que o Credit Suisse caísse ainda mais na bolsa de valores durante o dia.
Os muitos problemas do banco, que têm feito manchetes nos últimos quatro anos, estão a alimentar rumores de falência e de que se está a tornar uma espécie de "Swiss Lehman Brothers", embora a imprensa empresarial do país esteja também a considerar a possibilidade de ser assumido pelo seu principal concorrente no país, o UBS.