24 mar, 2023 - 15:30 • Sandra Afonso
O Banco de Portugal está mais otimista do que o executivo, que no Orçamento do Estado para 2023 (OE 2023) admite um crescimento de 1,3% este ano.
As previsões da instituição liderada por Mário Centeno, anunciadas esta sexta-feira, ficam também acima das que foram apresentadas esta semana pelo Conselho das Finanças Públicas, que aponta para um crescimento de apenas 1,2% em 2023.
A autoridade monetária projeta ainda um crescimento de 2%, em 2024 e 2025.
O Banco de Portugal justifica este crescimento com a “redução esperada da incerteza”, o “maior crescimento do rendimento real das famílias” e a chegada de fundos europeus. A condicionar a evolução da economia está ainda “o ambiente financeiro mais restritivo”.
As exportações e o turismo mostram agora uma evolução mais favorável, o consumo também está a ajudar, embora menos.
Outra boa notícia é a revisão em baixa da inflação. Este ano deverá ficar em 5,5%, em vez de 5,8% que tinham sido apontados na última projeção.
Esta tendência de queda deverá manter-se, com uma descida para 3,2% em 2024 e 2,1% em 2025.
Nos próximos trimestres, esta redução dos preços deverá ser sentida sobretudo “nos bens energéticos e alimentares, mas deverá generalizar-se posteriormente, num contexto de normalização da política monetária”, defende o BdP.
O governador adverte no entanto, neste boletim, que “é fundamental a coordenação das políticas económicas para conter as pressões inflacionistas”.
Esta continua a ser a “prioridade” do Banco Central Europeu”, mas os governos também têm trabalho de casa. Desde logo, “as medidas de apoio que visam mitigar o impacto da inflação elevada
deverão ser temporárias e direcionadas aos mais vulneráveis, evitando-se estímulos generalizados e persistentes sobre a procura”, adverte o BdP.
O mercado de trabalho deverá manter-se “robusto” até 2025, o emprego deverá mesmo subir uma décima este ano, para 0,1%.
“A taxa de atividade volta a aumentar para um novo máximo histórico em 2023”, segundo o Boletim Económico, e “projetam-se ganhos do salário médio real”.
Depois de um aumento de 7,7% em 2022, prevê-se agora “um crescimento dos salários nominais por trabalhador no setor privado de 7,1% em 2023 e de 5%, em média, em 2024–25”. Estas contas já incluem a evolução do salário mínimo anunciada pelo Governo (7,8% em 2023, 6,6% em 2024 e 5,6% em 2025).
Já a taxa de desemprego foi revista em alta. O Banco de Portugal admite que deverá aumentar para 7% em 2023, quando em dezembro falava em 5,9%. Em 2025 deverá cair para 6,7%.
Estas projeções estão de novo ameaçadas por vários riscos. Além dos habituais, surgem agora “as fricções nos mercados financeiros”, numa alusão à queda de alguns bancos norte-americanos e à aquisição do Crédit Suisse pelo UBS, na Europa, após o quase colapso da instituição.
O Banco de Portugal refere que “as recentes tensões nos mercados financeiros implicam riscos adicionais de magnitude incerta”.
Destaque ainda para a inflação, onde o principal risco “advém de pressões internas, via salários e margens das empresas e de políticas orçamentais que estimulem a procura”.
Constituem ainda riscos “o impacto da normalização da política monetária e o escalar do conflito na Ucrânia”.