09 mai, 2023 - 15:12 • Diogo Camilo
Num país com pouca literacia financeira, um dos desafios de quem escreve sobre novidades financeiras é descomplicar, sem perder o interesse do público. Às vezes é preciso cerveja e tremoços para começar a falar de criptomoedas.
No primeiro painel da conferência da Renascença, em que os convidados explicaram quais são as maiores dificuldades que encontram em introduzir este mundo à pessoa comum, o jornalista de economia da CNN Portugal, Gonçalo Almeida, conta a vez em que encontrou adeptos do universo dos criptoativos na Sociedade Recreativa de Alverca, onde existe uma caixa multibanco para bitcoins.
“A reportagem começa com um senhor ao balcão a beber uma cerveja e a comer tremoços. Eu meto-me com ele, sem grande esperança de que ele de facto comprasse bitcoin, e ele responde: ‘olhe, por acaso acho que é bastante útil. Eu daqui a nada até vou comprar bitcoin ali ao multibanco’”.
Pode rever aqui a conferência moderada pelo jornal(...)
O jornalista explica que certos conceitos são difíceis de introduzir em televisão e que o problema da baixa literacia financeira é transversal aos criptoativos: “A velocidade com que tudo evolui é tão grande que nem os próprios reguladores, muitas vezes, conseguem acompanhar, quanto mais o público”, diz.
Leonor Mateus Ferreira, editora de mercados do Jornal de Negócios, reflete sobre este problema, indicando que é “assustadora” a falta de informação sobre temas simples de economia.
“Nos últimos tempos, por causa da crise do custo de vida, a quantidade de pessoas que me pede ajuda - não só leitores, mas colegas e amigos - sobre questões de crédito, ou em relação aos certificados de aforro cresceu muito. Se nesse tipo de coisas a informação é tão pouca, em relação aos criptoativos então é mesmo muito pequena e isso é preocupante”, salienta.
Para Sara Karim, da Talent Protocol, a culpa está no meio, que complica a informação que é partilhada. “Nós complicamos muito. Tornou-se tudo muito complexo. Se tens curiosidade sobre criptomoedas e blockchain, vais ao fundo da toca do coelho, porque é uma coisa que não acaba nunca.”
É por isso que Catarina Cabral, CEO e Fundadora do espaço PoolSide Hub Lisboa, defende que se deva abrir o universo das criptomoedas aos curiosos, criticando que muitos dos eventos que se realizam são concentrados nos chamados especialistas sobre o tema.
“Hoje em dia existem muitos eventos dedicados ao cripto e à blockchain a acontecer em Lisboa. Para mim o grande problema é que acaba-se sempre a encontrar as mesmas pessoas, a falarem para si próprias, para o mundo que já conhecem. Faltam eventos para receber as pessoas que estão só curiosas.
A conferência, que decorreu esta terça-feira, foi apresentada pelo jornalista da Renascença Fábio Monteiro e pela jornalista Inês Rocha, autores do podcast da Renascença “No paraíso das Criptomoedas” e que tem agora uma versão em livro “Portugal, Paraíso das Criptomoedas”.
O livro será apresentado dia 11 de maio, pelas 18h30, na FNAC do Chiado, em Lisboa.